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Ideologia de gênero: o preço do suicídio social

A promessa de felicidade instantânea da ideologia de gênero esconde uma realidade cruel: o alto índice de suicídio nos grupos que se submetem à transição. (Foto: Pixabay)

Sempre fui partidário da concepção de que ideias são muito mais sérias do que apenas a mera gourmetização de mentes ociosas. “Ideias, somente ideias podem iluminar a escuridão”, dizia o economista Ludwig von Mises. De fato, ideias, quando pautadas pela reta compreensão dos fatos, são como portões abertos para realidades ainda não vividas ou ainda não percebidas. Geralmente são ideias que transportam a história para os verdadeiros avanços e por isso mesmo ignorá-las por atacado, como sendo invencionices tolas e despudoradas de intelectuais desprendidos da realidade, seria um erro crasso que facilmente traria retrocesso à civilização.

Não raro, porém, a história se apresenta como a concretização possível de míopes ideias utópicas, ideias que não correspondem ou não dialogam com a realidade mais elementar; e, dessa forma, não tardam a descambar em cenários infernais completamente descontrolados e profundamente tirânicos. Isso geralmente tem início no campo das ciências humanas, ou seja, no manejo da mentalidade social e de tudo que envolve essa guerra de narrativas políticas.

No entanto, e quando tais ideias querem deixar o simples “manejo” dos ventos sociais e grupais? Quando elas deliberadamente saltam do terreno hipotético dos discursos, e passam a tentar reconstruir a própria essência das coisas? Quando arbitrariamente querem mudar as verdades mais latentes e inatas dos seres humanos? Bom, nesse caso, a destruição que outrora podia ser denominada de “desastre político”, “geopolítico” ou “diplomático”, passa a ser propriamente um pandemônio humanístico, um câncer ideológico que mata cabeça por cabeça sem nenhuma piedade.

A diferença substancial da ideologia de gênero para as demais ideologias políticas está no foco do ataque. Enquanto as ideologias políticas buscam as massas, na esperança de conquistarem soldados fieis à causa, a ideologia de gênero ataca cada indivíduo em sua identidade mais íntima, transformando-os em cobaias de teorias sociais e psicológicas, fidelizando-os numa mentalidade antropológica totalitária, doentia e completamente ilusória.

Ela retiram desses “bonecos” qualquer capacidade crítica da realidade, o óbvio se torna “opressor” e o fato “fascista”; em troca do “real” e do “óbvio” oferta um projeto utópico de “indivíduos cujas estruturas sexuais são maleáveis”. A intenção dessa contaminação per capita da consciência individual é óbvia: evitar contestações às ideologias que pretendem comandar a cultura e a política global.

No arrimo dessa ideia de que o homem e a mulher podem verter-se sexualmente naquilo que eles bem entendem está a busca desesperada por felicidades instantâneas, saídas mágicas contra as duras imposições da realidade que não transladam suas raízes a fim de agradar os egos e fetiches dos homens. E na outra ponta está os ideólogos da corte, cuja missão principal é arrumar um jeito de usar os anseios errôneos dos homens como nova via política de suas ideologias, e também costurar respostas abstratícias e empoladas que deem ao menos uma sensação de sustentação teórica para o absurdo intelectual do momento.

Veja, tentar enganar a realidade não é algo novo na história humana; até Karl Marx já criticou isso. A novidade está no aceite em massa das grandes instituições globais aos pressupostos de uma ideologia sem nenhuma fundamentação lógica e científica; tais instituições abarcaram a teoria de gênero sem exigir nenhuma comprovação científica de suas alegações, sem nenhuma crítica filosófica séria, sem nenhum contraponto real aos seus preceitos. E o pior: sem demora alguma, começaram a exigir que os países que figuram em suas cadeiras de adeptos também aceitem a ideologia sem criticá-la.

Suicídio

Mas tentar enganar a realidade é um erro que cedo ou tarde cobra seus espólios. Uma pesquisa recém conduzida pelo Ph.D. Russell B. Toomey, da Universidade do Arizona-Tucson, afirma que 51% dos adolescentes que fizeram a transição a fim de “se tornarem homens ou mulheres” tentaram ao menos uma vez cometer suicídio. O estudo foi desenvolvido pelo Search Institute e publicado na revista Pediatrics;a pesquisa foi realizada com 120.617 adolescentes entre 11 e 19 anos.

Outro estudo, de 2001, segue a mesma linha de pessimismo referente às consequências da mudança sexual. Agora realizado com adultos, o estudo contou com 123 transsexuais de mulher-a-homem e 392 de homem-a-mulher, constatou-se que em 55% dos casos de transsexuais de mulher-a-homem sofriam de depressão, e no caso de transsexuais de homem-a-mulher 62%; além disso, somando ambos os grupos, 32% já haviam tentado o suicídio.

Muitos poderão interpretar tal situação pelos olhos de uma “intolerância social” que teria desencadeado tal tipo de comportamento autodestrutivo. No entanto, tal conclusão cairia numa antítese autoevidente, já que hoje habitamos uma sociedade verdadeiramente “liberal”. Nunca na história humana tivemos tantos dispositivos — morais e jurídicos — que salvaguardassem com tamanha intensidade as liberdades de pensamento, culto e livre expressão dos indivíduos, independentemente de quaisquer complementos a posteriori em seus jeitos, formas de ver a vida ou crenças. Na mesma linha, nunca antes na história tivemos tantos meios para nos juntarmos a pessoas que pensam, agem e pregam, as mesmas ideias que nós.

As redes sociais e as livres aglutinações de tribos possibilitaram aos indivíduos a inovação de conviverem e dividirem suas experiências com os seus iguais. Tudo isso de maneira quase instantânea e sem nenhuma interferência. Obviamente que ainda há intolerâncias e discursos agressivos aos “diferentes” — de todos os lados, é bom dizer —; mas o fato é que: efetivamente vivemos na era mais permissiva e tolerante de todos os tempos.

Nessa mesma linha de raciocínio, segue outro longo estudo realizado durante 30 anos na Suécia, um dos países mais permissivos e tolerantes com os ditos “transgêneros”. Nele constatou-se que o nível de suicídio de transsexuais adultos ― pós-transição cirúrgica ― era quase 20 vezes maior do que o da população normal; o que reafirma que a intolerância social definitivamente não está ligada aos altos níveis de suicídio — e tentativas de suicídio — entre “transgêneros”. A conclusão é que o grande fator ― ainda ignorado, por querer ser ignorado ― se encontra interno à própria condição de percepção psicológica dos transsexuais; os próprios transsexuais parecem perceber que a mudança não acarreta na melhoria e no aceite de suas condições, suas psiquês não se adequam também ao novo corpo, à nova constituição construída.

Talvez seja muito precoce afirmar que a operação de resignação sexual cause diretamente aumento nos níveis de suicídio, é necessário estudos mais abrangentes e conclusivos, mas podemos afirmar sem dúvidas que: 1) a plena liberdade de se identificar como “transgênero” não se mostra psicologicamente saudável ou favorável aos indivíduos que assim se sentem; uma das conclusões do referido estudo é que a resignação de sexo efetivamente não consegue igualar a condição psicológica de um transgênero ao de uma pessoa identificada com o seu sexo biológico. 2) Podemos concluir também que: efetivamente há alguma relação entre a condição psicológica do transgênero e o aumento de suicídio nessa classe. Qual é essa relação? Podemos especular, mas não concluir.

Eu explicaria tal situação, a priori, de maneira mais metafísica e menos científica — para o desespero dos filósofos amantes de Marx e Foucault. O suicídio é, em suma, a perda completa do sentido da vida, ou a compreensão de que os problemas da sua vida suplantaram o próprio sentido de viver. Se tornou popular dizer que um suicida não quer, de maneira direta, acabar com a sua existência, mas sim com os seus sofrimentos — nem que para isso a existência tenha que ser sacrificada também.

Os ideólogos e os enamorados da modernidade julgaram que a felicidade estava na permissão para tudo, na libertinagem social e no liberalismo sexual extremo, pensaram que, “se o faz de conta fosse real” a tristeza e as mazelas da humanidade se verteriam em sorrisos e festas. Para isso criaram uma teoria de gênero que — pregando a liberdade sem limites — limitou a alegria humana ao posto sexual. Tudo se resume em como e com quem faremos sexo, ou como e quando apresentaremos ao público a nossa performance de gênero. Esqueçamos o binarismo sexual, agora temos uma paleta de possibilidades, um arco-íris de opções sexuais. Os problemas apareceram? O sofrimento bateu na porta? A solidão e o abandono apresentaram suas faces? Basta que troquemos de roupa, de convicções, de sexo, de gênero, de genitália e de RG, e tudo mais estará resolvido.

Ainda que não digam, ainda que não assumam, essa é a essência prática da ideologia de gênero. Simplista. Pragmática. Eu sei, mas é assim. Tudo se resolve se formos maleáveis a ponto de não sermos quase nada, afinal, o nada não tem problemas.

É isso que as celebridades solenizam nas grandes mídias, nas redes sociais, e nos grandes jantares. É isso que as cartilhas de educação da ONU ofertam e a UNESCO transforma em “direitos da humanidade”. Mas novamente esqueceram de combinar tudo isso com a própria realidade, e no escuro do quarto ou na solidão do banheiro, a verdade se impõe e os fatos sequer pedem permissão para se apresentarem tal como eles são.

As pregações belíssimas dos professores de psicologia da USP sobre liberdade sexual e psicológica, sobre tolerância e os multicoloridos caminhos do gênero humano, não ecoam quando o(a) jovem está sozinho(a) em casa com uma gravata no pescoço e uma intenção suicida na consciência. E, no fim, o sofrimento vem, a depressão vem apesar das lacrações e dos punhos cerrados; fingir realidades diversas, construir teorias sociológicas, eleger opressões sociais e levantar militâncias para culpar alguém, tudo isso não resolve e nem alivia o(s) sofrimento(s) humano(s).

A dor continua apesar da genitália que ostentamos, da roupa que usamos, dos artigos com os quais terminamos as palavras, ou dos grupos que participamos; no fundo grita uma voz dizendo que não foi suficiente fingir ser o que definitivamente não somos. O suicídio, então, aparece como opção. Afinal, além do natural sofrimento humano em sua psiquê, soma-se a consciência do engano no qual que se deixou conduzir, acrescenta-se a isso a mutilação genital ao qual se submeteu por acreditar numa teoria que lhe prometia liberdade e que, no fim, lhe deixou com cicatrizes — no corpo e na alma — que não serão mais reparadas.

Sacrifício, agonia e morte

A morte total então desponta como solução cabível a alguém que se encontra retalhado e morto psicologicamente, o suicídio se apresenta, então, como mero update a vítima. Uma ideia que lhe prometia aconchego, autoaceitação e paz de consciência, lhe trouxe mutilação, autoengano e desejo de morte. Em busca da utopia do gênero maleável, defrontam-se com o nada existencial.

Como diz Isaiah Berlin:

Se podemos ter certeza de uma coisa a respeito de todas essas utopias é da realidade do sacrifício, da agonia e da morte. Não obstante, o ideal pelo qual se morre segue sem ser realizado. Os ovos são quebrados, e o habito de os quebrar se fortalece, mas o omelete continua invisível.

Àqueles que me acham demasiadamente romântico, apelativo e apocalíptico — ou meramente tolo — recomendo a trágica história de David Reimer, nada menos que uma catastrófica biografia de alguém que foi submetido a uma brutal resignação sexual e psicológica. Ao contrário de seus professores, eu não tirei minhas conclusões do nada, de um monte de pilhagens teóricas sem sentido efetivo. Muito desse artigo se deve às conclusões do estudo do American College of Pediatricians (ACPeds), traduzido e publicado pela Gazeta do Povo; e também à excelente e elementar obra: Por que gênero importa? (2019) do PhD. Leornard Sax — obra recém-traduzida e publicada no Brasil pela Editora LVM.

Assim como Machado de Assis mostrou em seu romance O Alienista (1881), por vezes o problema não são os loucos, mas aqueles que os diagnosticam como tal, “quem nos afirma que o alienado não é o alienista?” — perguntava Machado de Assis. Talvez seja a hora certa de nos questionarmos se não são justamente aqueles que gritam a terceiros: “fascistas”, “nazistas” e “opressores”, os que verdadeiramente oprimem e apresentam atitudes e ideias fascistas.

Se Machado de Assis me permite: “quem nos afirma que o opressor não é o que se diz oprimido”? Será que os verdadeiros opressores não são aqueles que vendem ideias impossíveis de serem alcançadas, realizações que não realizam nada, satisfações que não completam o vazio e nem dão sentido à existência. Como dizia o psicólogo clínico, Jordan Peterson: “Não são poucos os opressores entre os oprimidos, mesmo que, considerando suas posições baixas, muitos sejam apenas aspirantes a tiranos”.

A ideologia de gênero já começa a cobrar o seu preço. E quando a sociedade começar a fervilhar indivíduos sexualmente decompostos, mentes psicologicamente doentes, almas metafisicamente desesperançadas(?); e quando o suicídio se tornar método, quem assumirá esse boleto? E quando as tragédias, agora esparsas, se tornarem enredos de massa, quem irá cobrar os ideólogos(?). Quem definirá as partes de cada um na tragédia social que começa a desenhar suas silhuetas? Novamente, quem pagará as contas desses suicídios? O progressismo? A ONU?

Cabe aqui os conselhos de outro sensacional literato, laureado com o Prêmio Nobel de literatura em 1987, Joseph Brodosky; o escritor soviético que lidou de perto com a ideologia nefasta do comunismo, no discurso de recebimento do Nobel, assim disse numa rara epifania de sensatez:

Independentemente de alguém ser escritor ou leitor, sua tarefa consiste, em primeiro lugar, em dominar sua própria vida, sem a imposição e prescrição de terceiros, não importando quão nobre esse receituário possa parecer. Pois para cada um de nós se oferece uma única vida, e sabemos muito bem como isso tudo termina. Seria uma pena desperdiçar uma vida com as receitas, os conselhos e as tautologias de outra pessoa — uma pena ainda maior se tais diretrizes provierem da boca de um profeta da suposta necessidade histórica, cujas chamadas podem compelir um homem a abraçar de bom grado tal tautologia, mas que, no fim, não descerá à cova junto com ele, quando muito lhe dispensará um “obrigado”.

Quem limpará o salão da humanidade quando mais uma ideologia passar com o seu furor demoníaco? Quando novamente a peste faraônica das ideias descabidas vier buscar os primogênitos de nossa era, quem fará a contabilidade dos culpados? Precisamos urgentemente devolver a sanidade ao debate social, com o risco de que, se assim não agirmos, em pouco tempo estarmos discutindo as medidas cabíveis para manter os adolescentes vivos por mais um dia.

Referências:

BERLIN, Isaiah. Uma mensagem para o século XXI, 2ª Edição, Âyiné: Belo Horizonte/Veneza, 2018

BRODSKY, Joseph. Sobre exílio, Belo Horizonte: Editora Âyiné, 2016.

CLEMENTS-NOLLE, K., et al. HIV prevalence, risk behaviors, health care use and mental health status of transgender persons: implications for public health intervention. Am J Public Health, 2001, número 91(6), pp. 915-21.

DHEJNE, C, et.al. Long-Term Follow-Up of Transsexual Persons Undergoing Sex Reassignment Surgery: Cohort Study in Sweden. PLoS ONE, 2011; número 6(2). Filiação: Departamento de neurociência clícina, Divisão de Psiquiatria, Instituto Karolinska, Estocolmo, Suécia. Department of Clinical Neuroscience, Division of Psychiatry, Karolinska Institutet, Stockholm, Sweden. Disponível aqui.

MISES, Ludwig von. As seis lições: reflexões sobre política econômica para hoje e amanhã, 8ª Ed., São Paulo: Editora LVM, 2017.

PETERSON. Jordan. B. 12 regras para a vida: um antídoto para o caos, Alta Books: Rio de Janeiro, 2018.

SAX, Leonard. Por que gênero importa?, São Paulo: Editora LVM, 2019.

TOOMEY RB; SYVERTSEN AK; SHRAMKO M. Transgender Adolescent Suicide Behavior. Pediatrics. 2018;142(4): e20174218. Disponível aqui.

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