Você se lembra da música “Imagine”, de John Lennon? Bom, segue aqui minha versão (muito menor). Imagine que algumas das maiores cidades norte-americanas tenham se separado de seus estados. Imagine Illinois sem Chicago, a Pensilvânia sem Filadélfia, a Califórnia sem Los Angeles ou San Francisco, o estado de Nova York sem a cidade de Nova York ou ainda Texas sem Houston, Dallas ou San Antonio.
Esses estados perderiam em arrecadação, além de perderem suas melhores orquestras e outras instituições artísticas. Mas o ganho em qualidade de vida seria superior a qualquer perda financeira ou artística.
As grandes cidades foram e continuam sendo centros produtores de ideias destrutivas, e as pessoas que nelas moram são geralmente mais mal-educadas, quando não maldosas. Claro que há indivíduos decentes nas grandes cidades e pessoas insuportáveis fora delas. Mas é mais provável que você encontre uma proporção maior de pessoas boas nas cidades menores e nas regiões rurais. Todos os que estão lendo este texto sabem que é mais fácil ser bem tratado quando se entra numa loja ou restaurante de Cooperstown, no estado de Nova York, no que no Brooklyn, na cidade de Nova York; ou em Laramie, no Wyoming, no que na Filadélfia, na Pensilvânia.
Quanto às ideias más e destrutivas, as grandes cidades praticamente detêm o monopólio delas.
Que ideia ruim não teve origem numa grande cidade? Que ideia ruim tem mais chance de ser posta em prática em Laramie no que na Philadelphia? Entre os cosmopolitas e os cidadãos de cidadezinhas, qual grupo tem mais chance de acreditar que os homens podem dar à luz? Que grupo tem uma probabilidade maior de acreditar na mentira de que os Estados Unidos foram fundados em 1619, a fim de perpetuar a escravidão? Que grupo tem mais chance de defender que as pessoas se casem antes de terem filhos? Que grupo tem uma probabilidade maior de gerar filhos mimados? Que grupo tem mais chance de defender a liberdade?
A lista de diferenças entre as cidadezinhas e as metrópoles norte-americanas é longa. Um estudo realizado pelo Centro de Filantropia da Universidade de Indiana concluiu que “os doadores das áreas rurais contribuem com quantias maiores em relação à sua renda do que os doadores das regiões urbanas”.
Por isso é que tantos dos grandes profetas israelenses eram pastores. Moisés, o homem que trouxe ao mundo os Dez Mandamentos, o código moral mais influente da história, era pastor. O professor Leonardo Vazquez, da Rutgers University, escreveu que um dos fundadores dos Estados Unidos, Thomas Jefferson, “era o que mais se preocupava com as cidades: ele as odiava. (...) Apesar de ir a Paris e de ter ajudado a criar Washington, D.C., Jefferson achava que as cidades eram antros de corrupção e iniquidade, algo que corromperia a jovem república norte-americana”.
Hitler aprendeu a ser antissemita em Viena. Marx passou a vida adulta em Londres, onde escreveu seus livros totalitários. Pol Pot, o genocida cambojano, se tornou comunista em Paris. Lenin começou com suas atividades marxistas em São Petersburgo, Munique, Londres e Genebra. Stalin, que nasceu na Geórgia, ganhou importância na maior cidade daquele país, Tbilisi, e passou o restante da vida em São Petersburgo e Moscou.
A idade das cidades como fonte do mal é antiga. Atribui-se a criação da primeira cidade a Cain, o primeiro assassino da Bíblia. O Gênesis conta a famosa história da Torre de Babel, construída para alcançar os céus a fim de “tornar os construtores famosos”. O que não se diz é que sempre que a Bíblia menciona a torre ela fala da cidade construída ali perto. “E disseram: Eia, edifiquemos nós uma cidade e uma torre cujo cume toque nos céus, e façamo-nos um nome, para que não sejamos espalhados sobre a face de toda a terra” (Gênesis 11:4).
O estudioso Patrick D. Miller, professor emérito de teologia do Velho Testamento no Seminário Teológico de Princeton, escreveu que a história deveria ser chamada de “A Cidade de Babel”, não de “A Torre de Babel”. Outro estudioso, Robert Alter, da Universidade da Califórnia, escreveu que “a controversa investida da história é contra o urbanismo”.
E os lugares bíblicos paradigmáticos da maldade são as cidades de Sodoma e Gomorra. Mas por que as cidades seriam antros de iniquidade e incubadoras de ideias destrutivas?
Uma resposta para a primeira pergunta é o anonimato. Quanto maior a cidade, mais anônimo é o indivíduo. As pessoas se comportam melhor quando conhecidas de seus vizinhos. Note como as pessoas agem melhor quando usam alguma forma de identificação, como numa convenção, por exemplo.
Assim como somos mais anônimos numa cidade, os outros também são. As pessoas se sentem responsáveis a tratar melhor os que conhecem do que os que são estranhos.
Quanto às ideias estúpidas, os habitantes das áreas rurais se satisfazem trabalhando com as mãos e interagindo com a natureza, o que lhes dá um senso de realidade e lhes impõe certo pragmatismo, enquanto os moradores das cidades trabalham com ideias abstratas que não lhes dão sentido e que não têm consequências. Daí porque o intelectual urbano é geralmente um tolo.
Se Karl Marx fosse um agricultor, o mundo talvez tivesse sido poupado da perseguição e dos assassinatos em massa criados pelas ideias marxistas. Mas Marx era um intelectual urbano clássico e nunca trabalhou, embora escrevesse sobre o proletariado.
Faz sentido, pois, dizer que os estados estariam melhor sem as grandes cidades. Não disse que era factível. Mas vale a pena imaginar.
Dennis Prager é colunista do Daily Signal, radialista e criador da PragerU.
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