Como reconhece a bula da vacina de mRNA da Pfizer (Comirnaty) contra Covid, um de seus efeitos colaterais conhecidos, “com mais frequência em homens mais jovens”, é a inflamação do coração (miocardite) e de seu revestimento (pericardite). A incidência é baixa, mas relevante, especialmente no sexo masculino, e pode alterar a relação custo-benefício da vacina. Antes, propôs-se em diferentes estudos que os efeitos da miocardite vacinal duravam poucos dias. Mas um time de dez pesquisadores de Hong Kong desafia essa ideia em um artigo publicado em agosto na revista Circulation, ligada à Associação Americana do Coração (AHA), influente organização médica. Em sua amostra, metade dos adolescentes diagnosticados com o efeito colateral apresentavam cicatrizes no coração até um ano após terem tomado a vacina.
Os cientistas fizeram uma bateria de exames cardíacos em 40 jovens entre 12 e 17 anos, 33 deles do sexo masculino. É uma amostra pequena, então os resultados devem ser vistos com uma boa dose de cautela. O estudo é importante pelo período entre o diagnóstico e a reavaliação, de até um ano, e pelo detalhamento dos exames. Foram feitos eletrocardiogramas, ecocardiogramas e ressonância magnética cardíaca.
Os autores comentam que a função de batimento cardíaco dos ventrículos (as câmaras maiores do coração) parece normal nos pacientes, mas que detectaram um prejuízo à flexibilidade dessas câmaras na hora de impulsionar o sangue e a persistência de cicatrizes no músculo do coração em até metade desses adolescentes. Outro estudo de junho de 2022, que acompanhou 35 pacientes menores de 18 anos por menos tempo (três a oito meses) detectou os mesmos problemas em 70 a 75% dos adolescentes.
As duas anormalidades detectadas “são indicadores de disfunção subclínica no miocárdio”, ou seja, de problemas no músculo do coração que não são sentidos pelos pacientes e aumentam seus riscos. “Há um efeito de longo prazo em potencial sobre a capacidade de fazer exercícios e a reserva de função cardíaca durante o estresse”, explicam os autores.
Covid era realmente mais perigosa para o coração dos jovens?
Um estudo que não sofre do problema de amostra pequena incluiu 23 milhões de habitantes da Escandinávia e foi publicado em abril de 2022 na JAMA Cardiology, revista de cardiologia da Associação Médica Americana. Entre jovens do sexo masculino entre 16 e 24 anos de idade, o risco de desenvolver miocardite após tomar duas doses das vacinas de mRNA da Pfizer ou da Moderna contra Covid foi quatro vezes maior ou 13 vezes maior, respectivamente, que o risco de desenvolver o mesmo problema após contrair a doença.
Esta comparação não significa que os riscos comparados sejam altos: ambos são baixos, mas a incidência de miocardite vacinal entre os rapazes foi bem maior que a incidência de miocardite potencialmente causada pela Covid. O período analisado foi de um mês após as doses ou o teste positivo para Covid.
Israel avisou, Estados Unidos ignoraram
Uma reportagem publicada em setembro no jornal Epoch Times mostrou e-mails obtidos por Lei de Acesso à Informação trocados entre funcionários dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) americanos e oficiais do Ministério da Saúde de Israel. As mensagens mostram que o país do Oriente Médio alertou os EUA em fevereiro de 2021 a respeito de “um grande número de relatos de miocardite, particularmente em jovens, após a administração da vacina da Pfizer”. O alerta foi marcado nos e-mails como de “alta importância”.
Dois meses depois, contudo, a então diretora dos CDC Rochelle Walensy insistiu, em uma coletiva de imprensa na Casa Branca, que “não vimos relato nenhum” de miocardite vacinal. No mesmo mês, abril de 2021, o jornal Times of Israel relatou duas mortes associadas ao problema. Os CDC só fizeram uma análise estatística mais séria da miocardite pós-vacina no ano seguinte.
Ao contrário dos Estados Unidos, que continuam recomendando vacina de mRNA a partir dos seis meses de idade, países europeus como Suécia, Noruega, Finlândia, Alemanha e França suspenderam o uso da vacina da Moderna (que tem maior concentração de mRNA) para pessoas com menos de 30 anos, dois anos atrás. Já o Reino Unido passou a fornecer gratuitamente as doses de reforço somente para pessoas acima dos 65 anos e em outros grupos de risco para Covid-19. A população americana demonstra perda de confiança em suas agências sanitárias. Apesar dos apelos dos CDC e da Administração de Drogas e Alimentos (FDA), somente 3% quiseram tomar a última dose.
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