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A atriz Claudia Raia, que fez 55 anos em dezembro passado, anunciou nas redes sociais na última segunda-feira (19) que está gravida de seu marido, o ator e bailarino Jarbas Homem de Mello, de 53 anos. O casal aproveitou a oportunidade para monetizar a notícia fazendo propaganda de uma marca de testes de gravidez que, junto à aferição de gravidez positiva ou negativa, também dá uma estimativa de quantas semanas de desenvolvimento já tem o bebê. A marca foi tratada com linguajar íntimo: “fez parte deste momento lindo e emocionante”.
O site de cultura Splash, do UOL, noticiou que o cachê ganho com a publicidade foi de 250 mil reais, equivalente ao valor de cinco mil compras do teste promovido. Embora o Instagram não dê mais o número de curtidas, ele é estimado em mais de um milhão. Claudia ganhou mais que outras celebridades que já fizeram publicações pagas para a marca, como a esposa de Gusttavo Lima, Sabrina Sato, Gabriela Pugliesi e a esposa de Michel Teló. Já o casal Viih Tube (influenciadora) e Eliezer Netto (ex-BBB) criou para seu bebê uma conta no Instagram que já tem mais de 660 mil seguidores, em potencial já monetizando uma criança ainda não nascida. Segundo uma estimativa de 2019, um influenciador que tenha entre 200 mil e um milhão de seguidores ganha em média R$100 mil por mês. Após a marca de um milhão de seguidores, pode chegar a R$500 mil de faturamento mensal. Além de publicações pagas, os influenciadores também podem ganhar dinheiro inserindo links para conteúdo próprio com publicidade.
Claudia alegou estar surpresa e que teria chamado sua médica de “louca” quando sugeriu que estava em gestação. Mas a chance de ter acontecido ao acaso é mínima: acima de 50 anos, só uma a cada mil mulheres consegue engravidar, explica a ginecologista e obstetra Daniele Peters, que atua em Curitiba. A médica esclarece que existe a reprodução assistida através de óvulos congelados ou doados eleva essa probabilidade. De fato, em agosto de 2020 Claudia Raia disse que tinha congelado óvulos. Com a fertilização em laboratório, a chance de mulheres na faixa etária de Claudia engravidarem se eleva para quase 20%, quase duzentas vezes mais fácil que sem o auxílio médico.
Daniele Peters comenta que Claudia estava entrando em período de menopausa, então deve também ter usado vários estímulos hormonais para que seu aparelho reprodutivo pudesse gestar novamente. Ela tem dois outros filhos com o ex-marido Edson Celulari: Enzo, nascido em 1997, e Sophia, nascida em 2003.
Limites éticos para o que o dinheiro pode comprar
No livro “O que o Dinheiro não Compra” (Civilização Brasileira, 2012), o filósofo Michael Sandel explora áreas da vida social cuja exploração econômica parece moralmente controversa, como nas decisões sobre a vida envolvendo nascimento e morte.
Por exemplo, nos Estados Unidos é possível comprar a apólice de seguro de vida de uma pessoa idosa ou debilitada, pagando o prêmio anual enquanto a pessoa está viva, e coletar a indenização do seguro como beneficiário quando ela morrer. Funciona como uma aposta na morte: quanto mais cedo a pessoa morrer, maior é o valor coletado. O que o idoso ou doente em questão ganha com isso é que pode desfrutar em vida de um valor um pouco inferior ao que seria desfrutado pelos beneficiários após o óbito.
É um mercado que nasceu nos anos 1980 em torno de pacientes com AIDS que tinham, na época, uma expectativa de vida de cerca de dois anos. A gestora de investimentos especializada no mercado de seguros Conning projeta que até 2028 esse mercado movimentará um valor bruto anual de mais de 200 bilhões de dólares nos EUA. A empresa de seguros Harbor Life diz que a crescente “onda grisalha” de pessoas acima de 65 anos deve usar a venda da apólice para financiar a aposentadoria.
Quanto às questões da vida em torno de seu início, Sandel conta que óvulos “de alta qualidade” já são vendidos nos Estados Unidos, além de amostras de esperma. Os americanos também recorrem a barrigas de aluguel em países em desenvolvimento como a Índia (há dez anos, o preço pago por uma gestação no país era pouco mais de seis mil dólares). Há uma organização não-governamental no estado da Carolina do Norte que oferece US$300 para mulheres viciadas em drogas se esterilizarem. Milhares aceitaram esse “suborno”.
Para Sandel, a monetização de novos aspectos da vida resulta de um inegável sucesso da economia de mercado frente às alternativas — um sucesso que se fez evidente após a queda do Muro de Berlim. O fracasso soviético foi um fracasso do planejamento central e do autoritarismo. Mercados minimamente livres, baseados na soma das decisões de numerosos indivíduos, são muito mais eficientes em distribuir bens e serviços, inclusive serviços que tornam possível que uma mulher de 55 anos engravide. De certa forma, o sucesso dos mercados levou a um triunfalismo, e o triunfalismo a excessos. “Colocar um preço nas coisas boas da vida pode corrompê-las”, diz o filósofo.
Sobre o “suborno” da esterilização, ele convida a pensar a respeito do que seria uma corrupção causada pelo dinheiro: “para tomar um exemplo extremo, fazer bebês para vendê-los pelo lucro é uma corrupção da paternidade e maternidade, pois trata as crianças como coisas para serem usadas em vez de seres para serem amados. (...) Quem é esterilizado por dinheiro vende algo que não deveria estar à venda.”