| Foto: Unsplash/ Reprodução

Um estudo publicado no mês passado no periódico científico PLOS ONE sugere que muitos adolescentes e jovens adultos que repentinamente querem trocar de sexo podem estar sendo influenciados por amigos ou por comunidades online. 

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Pais têm relatado em fóruns de discussão online a experiência de seus filhos que, sem ter tido sintomas de problemas de gênero na infância, apresentam na adolescência ou na juventude disforia de gênero (a desconexão entre o sexo biológico de uma pessoa e o gênero com a qual se identifica). A autora do estudo, Lisa Littman, descreve esses casos relatados pelos pais com a expressão “disforia de gênero de surgimento rápido” (ROGD, na sigla em inglês).

Littman, professora de Ciências Sociais e do Comportamento da Universidade Brown, nos Estados Unidos, investigou o fenômeno e chegou à conclusão de que adolescentes e jovens adultos que alegam estar vivendo no corpo errado durante ou logo após a puberdade podem estar sofrendo de contágio social ou confundindo sentimentos vagos típicos dessa fase da vida com disforia de gênero. 

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Ela aplicou um questionário de 90 questões para 256 pais que correspondiam aos critérios do estudo, recrutados nos fóruns em que debatiam os sintomas de seus filhos. A maior parte dos jovens era formada por meninas que passaram a se identificar como meninos, com média de idade de 16,4 anos. O questionário também pediu aos pais que descrevessem os grupos de amigos dos seus filhos, e descobriu que em 36% desses grupos a maioria dos membros passou a se identificar como transgênero em algum momento. 

O surgimento de casos de disforia de gênero em grupos de amigos e o aumento da exposição a conteúdo da internet antes do anúncio de identidade transgênero de um jovem levantam a possibilidade de “contágio por pares”. O contágio social é a propagação de comportamentos em uma população, descreve o artigo. 

Esse mecanismo está por trás de diversos aspectos dos transtornos alimentares, por exemplo. Alguns sintomas e comportamentos da anorexia são compartilhados e propagados por meio da influência dos pares. “As amizades podem estabelecer as normas para a preocupação com a imagem corporal e as técnicas para perder peso”, relata a autora. Além disso, comunidades online oferecem dicas para a perda de peso extrema e para enganar pais e médicos para que os indivíduos continuem as tentativas de perder peso. 

A pesquisadora argumenta que o aumento de conteúdo online sobre questões relacionadas à transição de gênero pode ter impacto nesta questão. “Por um lado, um aumento na visibilidade deu voz a indivíduos que não teriam sido diagnosticados e tratados no passado. Por outro, é plausível que o conteúdo online possa encorajar indivíduos vulneráveis a acreditar que sintomas não específicos e sentimentos vagos devam ser interpretados como disforia de gênero originada em uma condição de transgênero”.

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O artigo explica ainda que é improvável que amigos e a internet possam tornar as pessoas transgêneros. No entanto, é plausível que os mecanismos de contágio social possam ampliar as crenças de que: sintomas não específicos, incluindo sintomas que são parte de uma puberdade normal, devam ser percebidos como disforia de gênero; e de que o único caminho para a felicidade é a transição de gênero. 

A recomendação do estudo para os médicos é que eles tenham cautela ao se basear somente em relatos pessoais dos jovens quando eles buscarem transição médica ou cirúrgica. 

Littman destacou que nenhum dos casos analisados teria correspondido aos critérios para disforia de gênero na infância. A “vasta maioria (80,4%) tinha zero indicadores dos critérios do DSM para disforia de gênero na infância”, relata o artigo. 

Os pais relataram que seus filhos tiveram piora na sua saúde mental e que a relação entre pais e filhos piorou depois que os jovens “saíram do armário”. Entre os comportamentos que os jovens passaram a ter estão o isolamento de amigos e da família e a desconfiança de informações sobre disforia de gênero que não venha de transgênero. Muitos dos pais também descreveram que os filhos estavam usando linguagem que encontraram online quando anunciaram que gostariam de mudar de sexo.

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A autora afirmou que são necessárias mais pesquisas para entender melhor o fenômeno da disforia de gênero de surgimento rápido e suas implicações. Desde que foi publicado, o artigo tem atraído diversas críticas. Apoiadores da comunidade de transgêneros argumentam que a metodologia do estudo é falha, porque a pesquisadora entrevistou apenas os pais, e não os jovens, e que os entrevistados foram selecionados em sites frequentados por pais que se opõem à transição de gênero de seus filhos – tornando assim a amostra parcial. 

Após as críticas, a Universidade Brown retirou do ar as matérias que falavam sobre o estudo. 

Muitos acadêmicos criticaram a ação da universidade, que seria uma forma de suprimir a liberdade acadêmica e impedir a pesquisa científica. 

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