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Covid-19

Inglaterra: estatísticas apontam maior proteção entre vacinados

Abadia de Westminster
Placa do lado fora da Abadia de Westminster em Londres, indica centro de vacinação contra a Covid-19. A Abadia de Westminster abriu suas portas como centro de vacinação em Londres. (Foto: EFE / EPA / ANDY RAIN)

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O Reino Unido enfrenta uma ressurgência nos índices relacionados à pandemia do novo coronavírus, e voltou a apresentar quantidades de casos, internações e mortes semelhantes às do período inicial da campanha de vacinação emergencial. No dia 09 de setembro, quando  64,22% da população já havia tomado as duas doses, o país registrou 162 mortes, 128 delas na Inglaterra. Número tão alto havia sido observado pela última vez em 05 de março, quando apenas 1,6% da população estava completamente vacinada e morreram 169 pessoas em território britânico, 156 na Inglaterra.

Os números de hospitalizações com ou sem uso de ventilação mecânica também voltaram a patamares que não eram observados desde março, enquanto os números de casos diagnosticados retornaram a índices vistos pela última vez em janeiro, quando o percentual de vacinados era menor do que 1% da população e o país enfrentava seu pior momento ao longo da pandemia.

A terceira onda britânica da Covid-19 tem levantado questionamentos públicos quanto à eficácia da imunização: o Reino Unido é um dos países onde, apesar do alto percentual de vacinados, houve nova onda de infecções e mortes. Outros países líderes na corrida pela imunização contra Covid-19, como EUA e Israel, também tiveram aumento significativo no número de casos e óbitos nas últimas semanas, retornando a taxas não observadas desde o início das campanhas de vacinação.

Dados publicados em 07 de outubro pela UK Health Security Agency (UKHSA), uma agência britânica de saúde pública, apontam que mais de 75% das mortes devido a qualquer variante do SARS-CoV-2 nas quatro semanas epidemiológicas anteriores a 03 de outubro de 2021 acometeram pessoas que já haviam sido submetidas a duas doses de uma das vacinas aprovadas pelo governo britânico (Moderna, AstraZeneca, Pfizer ou Janssen). Informações de outra agência estatal, a Public Health England (PHE), indicam que mais de 60% das vítimas fatais da variante delta entre 01 de fevereiro de 2021 e 12 de setembro de 2021 estavam completamente vacinadas.

Por outro lado, um relatório publicado em 13 de setembro pelo órgão estatístico oficial do Reino Unido, o Office for National Statistics (ONS), aponta que apenas 1,2% dos mortos estavam vacinados. O motivo da disparidade reside no fato de que a ONS considerou apenas as mortes entre 02 de janeiro e 02 julho de 2021, apresentando cenário desatualizado diante da recente ressurgência nos índices de mortes e do avanço da vacinação no país. As mortes consideradas no documento distribuído pela ONS ocorreram majoritariamente entre janeiro e março, período em que a taxa de vacinação no Reino Unido oscilou entre 0% e 6%.

Menor risco de internação e de morte entre vacinados

O “Relatório de Vigilância Vacinal Covid-19 - Semana 40”, publicado pela UKHSA,  revela os perfis vacinais e de evolução da doença em oito faixas etárias distintas: menores de 18, 18-29, 30-39, 40-49, 50-59, 60-69, 70-79 e maiores de 80 anos. Os dados se referem apenas aos casos ocorridos na Inglaterra, excluindo as demais regiões do Reino Unido.

Entre os novos diagnósticos de infecção por Covid-19 nas 4 semanas epidemiológicas anteriores a 03 de outubro, 89,37% dos 305.428 diagnosticados com idade inferior a 18 anos não haviam tomado nenhuma dose da vacina. Já entre os maiores de 80 anos, 86,05% dos novos 10.581 diagnósticos ocorreram em pacientes completamente vacinados. A diferença é compreensível tanto pelo fato de que a campanha de imunização emergencial começou entre os mais idosos quanto pelo fato de que há regras distintas para a vacinação em menores de 16 anos, pelas quais alguns são excluídos da campanha e outros só recebem uma dose.

A UKHSA comparou os riscos de vacinados e de não vacinados terem contraído Covid-19 no período de análise, e de tendo contraído serem internados ou morrerem. Ao contrário do esperado, entre pessoas com 30 anos de idade ou mais o risco de contrair Covid-19 foi maior entre os completamente vacinados do que entre os que não haviam tomado nenhuma dose da vacina. Já o risco de tendo contraído a doença ser internado ou morrer foi maior entre os não vacinados, em qualquer das faixas etárias.

Considerados apenas os pacientes de qualquer idade com teste positivo para Covid-19 no prazo de 28 dias anteriores ao óbito, houve 3.026 mortes na Inglaterra entre as quatro semanas epidemiológicas. Destas mortes, 2.281 (75,38%) acometeram pessoas que tinham recebido as duas doses e 611 (20,19%) ocorreram em não vacinados. 101 (03,33%) dos mortos tinham tomado apenas uma dose e 33 (01,09%) não tinham status vacinal conhecido.

Apesar de corresponderem a uma minoria dos casos, idosos seguem sendo a maioria das internações e óbitos pela doença, mesmo após a maciça vacinação entre os mais velhos.

Dos 696.281 casos registrados, apenas 01,51% contavam-se entre idosos com 80 anos ou mais e apenas 20,16% ocorreram entre maiores de 50 anos. Já entre os 3.026 mortos durante o período, 47,88% tinham pelo menos 80 anos de idade e 95,40% tinham pelo menos 50 anos. Considerando-se apenas os maiores de 80 anos, 85,23% dos mortos estavam vacinados e, no grupo dos maiores de 50 anos, 77,79% dos mortos estavam vacinados.

Isto não significa que a vacinação não reduza o risco de internação e morte. Uma vez que os índices de cobertura vacinal e de mortalidade atribuída à nova doença são variáveis de acordo com a faixa etária, é interessante considerar as informações tendo em mente tais distribuições.

Pelos cálculos apresentados pela UKHSA, baseados na comparação proporcional entre o status vacinal dos mortos e o percentual de vacinados na população em cada faixa etária, o risco de morrer de Covid-19 foi 7,33 vezes maior para pessoas não vacinadas de 50 a 59 anos, 4,39 vezes para os de 60 a 69, 3,76 vezes para os de 70 a 79 e de 2,76 vezes para os com mais de 80 anos de idade.

Quanto ao percentual de pessoas com diagnóstico de Covid-19 que precisaram ser atendidas em uma unidade de emergência e acabaram internadas, as taxas ajustadas por idade foram 5,31 vezes mais altas para os não vacinados de 50 a 59 anos, comparados aos vacinados da mesma faixa etária. Para os pacientes com entre 60 e 69 anos a diferença foi de 4,44 vezes; 3,13 vezes para os com 70 a 79 anos; e 2,02 vezes para os maiores de 80 anos.

A UKHSA também forneceu dados relacionados a um critério alternativo de classificação dos casos, pelo qual são contadas as mortes em que o paciente tinha recebido diagnóstico laboratorial positivo dentro do prazo de 60 dias e/ou em que a certidão de óbito tenha indicação de Covid-19 como causa mortis. Por este critério, o número total de mortes passa de 3.026 para 3.671  casos, mas as prevalências quanto às faixas etárias e situação vacinal dos mortos não se alteram significativamente. Enquanto no cenário que considera apenas os mortos no prazo de 28 dias de diagnóstico laboratorial 75,38% dos mortos estavam completamente vacinados, sob o critério que inclui diagnósticos laboratoriais de até 60 dias o percentual se move para 74,91%.

Variante Delta

A Public Health England (PHE) foi a agência estatal de saúde pública encarregada de disseminar os dados estatísticos sobre o novo coronavírus até meados de setembro. A agência foi extinta e parcialmente absorvida pela UKHSA, que passou a se encarregar dos novos relatórios.

No dia 17 de setembro a PHE publicou o "23º Resumo Técnico | Variantes SARS-CoV-2 preocupantes e variantes sob investigação na Inglaterra", documento onde são detalhados os dados oficiais ingleses relativos a novos casos diagnosticados, atendimentos médicos, internações e mortes pela variante delta do novo coronavírus entre 01 de fevereiro e 12 de setembro. A maior parte das vítimas fatais contadas desde 01 de fevereiro estava vacinada: 63,54% já haviam tomado as duas doses.

Quando considerado apenas o período entre a 22ª e a 23ª edição, de 30 de agosto até 12 de setembro, o cenário é ainda pior. Foram 744 mortes pela variante delta nestas duas semanas (29,26% do total de mortes desde fevereiro) e dentre as vítimas 522 (70,16%) estavam completamente vacinadas.

O documento é menos rigoroso quanto à apresentação de recortes por faixa etária, dividindo os casos apenas em duas faixas: maiores de 50 anos e menores de 49 anos. Considerando estes recortes: os vacinados continuam sendo a maior parte dos mortos entre os mais velhos (66,99% dos casos desde 01 de fevereiro), mas a proporção se inverte entre os mais jovens (com não vacinados correspondendo a 64,70% dos mortos).

O 24º Resumo Técnico | Variantes SARS-CoV-2 preocupantes e variantes sob investigação na Inglaterra, publicado em 01 de outubro pela UKHSA, não apresenta dados específicos de infecção, atendimento hospitalar e morte pela variante delta.

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