Página “Internacional Reacionária” traz uma base de dados com descrições sobre as principais lideranças da direita global.| Foto: Reprodução/Site "The Reactionary International"
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Neste ano de importantes eleições na Europa e nos Estados Unidos, a organização de esquerda conhecida como Internacional Progressista (IP) tem intensificado sua campanha contra o que chama de “Internacional Reacionária”. 

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Apesar de parecer o nome de uma entidade oficial, trata-se apenas de um rótulo utilizado para perseguir qualquer grupo ou indivíduo que se oponha às políticas progressistas, socialistas, comunistas ou globalistas. 

Ou seja: estamos diante de mais uma teoria conspiratória sobre um possível conluio entre líderes mundiais e outros nomes influentes da direita para tomar o poder mundo afora. 

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Criada em 2020 por figuras radicais da esquerda global, como o linguista americano Noam Chomsky, o economista francês Thomas Piketty e o político grego Yanis Varoufakis, a IP advoga abertamente por regimes com histórico de autoritarismo e problemas econômicos – enquanto tenta marginalizar conservadores por meio de uma narrativa carregada de difamação e exclusão. 

Mas, ao contrário da suposta Internacional Reacionária, que não existe oficialmente e é apenas um termo pejorativo, a Internacional Progressista tem uma atuação internacional coordenada e direcionada. 

É uma entidade formal e organizada, com dirigentes definidos e que promove conferências e eventos globais – cujo rol de participantes ainda inclui personalidades de renome da esquerda como o senador democrata americano Bernie Sanders e o brasileiro Fernando Haddad

No último mês de abril, a IP lançou o site www.reactionary.international, desenvolvido em parceria com o Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (Clacso, uma organização acadêmica que existe desde a década de 1950 e acabou se desvirtuando para apoiar ditaduras da região) e a Transform! Europe (rede de fundações e movimentos de esquerda atuante em todo o continente). 

Seu documento de apresentação começa com uma tese que liga os episódios do Capitólio, nos EUA, em 2021, ao 8 de janeiro no Brasil. “As insurreições irmãs no Capitólio e na Praça dos Três Poderes não deixam dúvidas sobre a coordenação internacional das forças reacionárias”, diz o texto.

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“Contudo, pouco se sabe sobre as entidades desta rede, suas fontes de financiamento e seus aliados institucionais que operam dentro dos nossos sistemas políticos.” 

Diante desses questionamentos, a entidade criou um “consórcio investigativo” sobre a fictícia Internacional Reacionária, para desvendar as supostas conexões da direita ao redor do mundo. 

E assim surgiu também uma base de dados, em atualização permanente, com perfis de “agentes políticos, think tanks, fundações, publicações, juízes e jornalistas” conservadores de todo o planeta. 

Bolsonaro, Moro, MBL: brasileiros estão em base de dados sobre lideranças da direita global

Há vários representantes do Brasil incluídos no “listão” da Internacional Progressista. Veja a seguir trechos das descrições sobre alguns deles. 

Jair Bolsonaro 

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“Enquanto a mídia anglófona foi rápida em comparar Bolsonaro ao ex-presidente Donald Trump, sem dúvida devido aos seus laços estreitos com os EUA e ao uso de linguagem inflamatória, sua marca de neofascismo é única — sua administração estava cheia de oficiais militares, incluindo o general aposentado Hamilton Mourão, que foi nomeado seu vice-presidente.” 

“Suas políticas ultraliberais foram apoiadas por Paulo Guedes, seu ministro da Economia, fundador do Instituto Millenium e um dos ‘Chicago Boys’, um grupo de economistas treinados na Universidade de Chicago que favoreciam a desregulamentação do mercado e inspiraram a Constituição de Pinochet.”

Eduardo Bolsonaro 

“Em 2019, o presidente Bolsonaro tentou nomeá-lo como embaixador do Brasil em Washington, mas foi forçado a recuar devido a dúvidas sobre sua competência e suspeitas de nepotismo.” 

“Em outubro de 2019, ele ameaçou introduzir um novo AI-5, referindo-se ao decreto da ditadura de 1964-85 que impôs censura contra a oposição de esquerda e deu aos militares poderes legais para fechar protestos, o Congresso e o Estado.” 

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Gabinete do Ódio 

“Formado em 2018 no Palácio do Planalto e coordenado por Jair e seu filho Carlos Bolsonaro, o grupo administrou as redes sociais do ex-presidente e inundou plataformas online com contas falsas.” 

“Em novembro de 2021, membros do Gabinete do Ódio viajaram para Dubai e se reuniram com representantes da empresa de spyware e segurança cibernética DarkMatter Group, para discutir as eleições presidenciais de 2022.”

Sergio Moro 

“Em 2015, ele ganhou fama durante o caso anticorrupção Lava Jato, que acabou levando à prisão de Lula da Silva. Os métodos de Moro eram pouco convencionais — impondo sentenças em uma velocidade vertiginosa, divulgando conversas grampeadas entre Dilma Rousseff e Lula para a imprensa e adotando uma atitude de justiceiro, apesar de sua posição legal.” 

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“O WikiLeaks revelou que, em 2007, Moro participou de um programa de liderança de visitantes internacionais de três semanas, patrocinado pelo Departamento de Estado dos EUA.” [É bom deixar claro que esse programa do governo americano, chamado International Visitors Leadership Program, também já foi feito por ninguém menos que a ex-presidente Dilma Rousseff]. 

MBL 

“O Movimento Brasil Livre é um partido ultraliberal de direita fundado pelo deputado Kim Kataguiri e o empresário Renan Santos após os protestos de 2013 contra o Partido dos Trabalhadores. Seu nome é inspirado no Movimento Passe Livre (MPL), um grupo anarquista.” 

“Embora muitos membros do MBL tenham apoiado a eleição de Bolsonaro em 2018, eles pintam um quadro mais nebuloso da Internacional Reacionária — apoiada por think tanks de direita.” 

 Instituto Millenium 

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“O Instituto Millenium é o principal think tank de direita no Rio de Janeiro, Brasil. Formado em 2005 pela economista Patrícia Carlos de Andrade, promove a economia de mercado livre radical, a privatização e o conservadorismo social.” 

“Seu legado ideológico é expansivo – moldando os negócios, a mídia e a política ambiental do Brasil, e fomentando o desprezo pelo Partido dos Trabalhadores.” 

Silas Malafaia 

“Segundo a Forbes, ele é o terceiro pastor mais rico do Brasil, com um patrimônio líquido de US$ 150 milhões” 

“Em 8 de janeiro de 2023, ele apoiou os distúrbios em Brasília, chamando-os de ‘manifestação do povo’. 

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“O único ‘crime’ é não ser de esquerda”, diz jornalista conservadora venezuelana

Para a experiente jornalista venezuelana Nitu Pérez Osuna (uma das mais principais vozes de seu país contra o chavismo), a Internacional Progressista adotou a estratégia de criminalizar ideologicamente a direita, para suprimir qualquer tipo de oposição. 

Em um artigo publicado no jornal conservador espanhol La Gaceta de la Iberosfera, ela afirma que a entidade promove uma a campanha de desinformação e calúnia, exatamente num momento em que pesquisas indicam um avanço da direita nas próximas eleições europeias e americanas. 

“A IP procura novas narrativas, histórias ou entidades para desacreditar as forças políticas que as desmascaram”, diz. 

Osuna também questiona a falta de evidências concretas que sustentem as acusações de conluio global, observando ainda que muitos alvos da Internacional Progressista são políticos democraticamente eleitos, como os primeiros-ministros Viktor Orbán (Hungria) e Giorgia Meloni (Itália).

“Ao analisar o conteúdo o site, fica evidente que se trata de simples artigos de opinião, nos quais não são apresentadas provas sobre os supostos crimes investigados. Conclui-se, então, que o único ‘crime’ ao qual a página se refere é não ser de esquerda”, afirma a jornalista.

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Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]