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É possível que os manifestantes anti-Israel que passaram os últimos nove meses interrompendo desfiles, bloqueando pontes e vias, colocando o tráfego aéreo em risco e sitiando violentamente a sede do Comitê Nacional Democrata tenham algumas ideias que “eu rejeito completamente”, como a vice-presidente americana Kamala Harris recentemente admitiu. Mas eles “estão mostrando exatamente como a emoção humana deve ser, como uma resposta a Gaza. Eu entendo a emoção por trás disso”, disse ela.
Essa simpatia pelas motivações dos manifestantes, se não pelos seus meios, tem sido uma característica da abordagem esquizofrênica do governo Biden ao desafio apresentado pelas manifestações pró-Hamas há meses. Mas se Harris entende a “emoção por trás” das convulsões anti-Israel nas ruas e nos campi universitários dos Estados Unidos, ela não parece entender o dinheiro por trás delas. Felizmente, a comunidade de inteligência americana entende. E de acordo com ela, o movimento que o governo Biden desperdiçou tanto capital político reverenciando é financiado, pelo menos em parte, pelo Irã.
Um comunicado publicado na terça-feira (9) pela diretora do Escritório de Inteligência Nacional (ODNI, na sigla em inglês), Avril Haines, divulgou a conclusão compartilhada por oficiais de inteligência ocidentais de que “atores ligados ao governo do Irã” estão “fornecendo apoio financeiro a manifestantes” alinhados contra a política do governo de apoiar a guerra defensiva de Israel na Faixa de Gaza. Agentes iranianos são acusados de se passar “por ativistas online” e buscar “encorajar protestos.” Embora Haines tenha se recusado a acusar cada participante individual dessas manifestações, muito menos o ato de protesto em si, ela escreveu que “também é importante alertar sobre atores estrangeiros que buscam explorar nosso debate para seus próprios fins.” Afinal, ativistas na base “podem não estar cientes de que estão interagindo com ou recebendo apoio de um governo estrangeiro.”
Provavelmente não, mas essa caridade não deve ser estendida ao presidente, à vice-presidente ou aos membros do governo que descobriram e expuseram essa inteligência. Independentemente de quanto tempo os oficiais de inteligência estavam cientes das conexões materiais entre o Irã e as manifestações — e certamente sabiam antes do comunicado de imprensa do ODNI, dada a sensibilidade de sua descoberta — é intuitivo que o Irã procuraria apoiar interesses externos agitando em nome de suas próprias forças terceirizadas. E ainda assim, alimentada por apreensão existencial sobre as pesquisas e cercada por assessores excessivamente online com uma queda pelo radicalismo da extrema-esquerda em qualquer forma que se apresente, a Casa Branca de Biden adulou agressivamente essa pequena e profundamente impopular base.
Desde 7 de outubro, Biden tem buscado reparar a ruptura com a esquerda militante que o apoio de sua Casa Branca a Israel abriu, ameaçando sancionar as Forças de Defesa de Israel, retendo munições críticas de Jerusalém, retirando o apoio diplomático dos EUA a Israel nas Nações Unidas, acusando Israel de tentar “provocar o Hezbollah” para “criar um pretexto para a guerra” e gastando vastas somas em um projeto de engenharia fracassado, cujo único propósito era envergonhar Israel por supostamente não distribuir ajuda suficiente aos civis de Gaza. A beligerância dos manifestantes anti-Israel inspirou essas políticas autodestrutivas tanto quanto qualquer eleitorado democrata em Michigan, um estado que é crucial para vencer eleições.
Só no final de abril que a administração começou a confrontar o antissemitismo descarado exibido rotineiramente nesses eventos. Mas antes dessa mudança, a Casa Branca fez o possível para evitar confronto com os radicais — chegando ao ponto de se manter bem longe da maioria das formaturas nos campi universitários. Anteriormente, o governo Biden acoplava automaticamente condenações ao assédio antissemita com um aceno performático para a suposta crise de “islamofobia”. Essa cautela não pode ser atribuída apenas aos assessores do presidente. “Eu condeno os protestos antissemitas”, disse Biden a repórteres em um evento do Dia da Terra. “Eu também condeno aqueles que não entendem o que está acontecendo com os palestinos.” Podemos supor que o impulso de estabelecer equivalências morais entre Israel e seus atormentadores, os manifestantes e os alvos de seu assédio, era uma concessão aos ativistas anti-Israel. Agora sabemos que isso também avançou os interesses dos inimigos dos Estados Unidos.
O governo Biden e seus aliados não devem escapar da culpa por ajudar, mesmo que involuntariamente, um poder estrangeiro hostil. Nenhuma dessas concessões foi feita aos republicanos, ocupantes de cargos proeminentes e eleitores comuns, por supostamente promoverem os interesses do Kremlin. Após a eleição de 2016, os democratas no Congresso embarcaram em um esforço para implicar os eleitores republicanos como ingênuos involuntários que ajudaram Moscou a roubar uma eleição presidencial… com memes. Alegou-se a sério que memes como “Bernie Sanders musculoso”, “Killery Rotten Clinton” (trocadilho com Hillary Rodham Clinton, envolvendo "kill" — matar — e "rotten" — podre) e uma imagem de Satanás e Jesus disputando a sorte da República teriam alterado o curso da história americana.
“Estamos falando aqui de uma grande potência estrangeira com a sofisticação e capacidade de se envolver em uma eleição presidencial e semear conflito e descontentamento por todo este país”, lamentou a falecida senadora democrata Dianne Feinstein, com a aprovação de seu lado. Os democratas estavam corretos ao afirmar que as operações de informação e inteligência russas, projetadas para penetrar em “organizações de imprensa, empresas de lobby, partidos políticos e governos”, representavam uma ameaça. Eles estavam até justificados em notar que o objetivo político que Moscou buscava era a eleição de Trump. Mas o frenesi que se seguiu a essa revelação contrasta desfavoravelmente com o total desinteresse que a descoberta do ODNI produziu.
Hoje, a Casa Branca quer crédito pelo que a Secretária de Imprensa, Karine Jean-Pierre, alardeou como seus esforços contínuos para expor “o Irã e qualquer outro ator estrangeiro que busca conduzir essas atividades de influência.” Mas a operação revelada por Haines sugere que o partido do presidente foi influenciado por e até mesmo alterou a política externa dos EUA em deferência a um movimento que foi, em um grau ou outro, apoiado por um inimigo declarado dos Estados Unidos com sangue americano em suas mãos. Isso é um escândalo. Talvez tenhamos que esperar até 6 de novembro antes que a imprensa o reconheça como tal.
Noah Rothman é um autor sênior da National Review. Escreveu "A ascensão dos novos puritanos: enfrentando a guerra dos progressistas contra a diversão" (trad. livre) e "Injusto: a justiça social e o desmantelamento dos EUA" (trad. livre).
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©2024 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.
Conteúdo editado por: Eli Vieira