Ernesto Araújo: política de Direitos Humanos do Brasil deveria mudar “para refletir a vontade do povo brasileiro”.| Foto: José Cruz/Agência Brasil

O chanceler Ernesto Araújo está promovendo um “pente fino” em documentos e acordos bi e multilaterais a fim de encontrar “cavalos de troia” em cláusulas, artigos e parágrafos que façam referência à defesa da ideologia de gênero. A ideia, segundo um diplomata ouvido pela Gazeta do Povo e que preferiu se manter no anonimato, é promover um realinhamento da política externa do Brasil.

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De acordo com reportagem da Folha de S. Paulo, nas últimas semanas diplomatas têm recebido instruções para que, em negociações multilaterais, reiterem “o entendimento do governo brasileiro de que a palavra gênero significa sexo biológico, feminino ou masculino”. As instruções, contudo, não dizem respeito apenas a acordos assinados de agora em diante. “Muita coisa está sendo revista”, afirmou o diplomata.

A adoção de posicionamentos morais por parte do Itamaraty não é novidade. Só que, nas muitas comissões de Direitos Humanos em órgãos como a ONU e a OEA, o Brasil sempre adotou posições que concordavam com o ideário da esquerda. “Tudo era feito no piloto automático”, diz o diplomata. “Como os documentos eram assinados por assessores, muito deles de esquerda, havia espaço para a inclusão de textos defendendo pautas tradicionalmente associadas à esquerda, como a ideologia de gênero”, conta.

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Com a ascensão do chamado “núcleo bolsonarista” dentro do Itamaraty, essa política externa que tendia, por inércia, à esquerda foi contida. O diplomata, contudo, garante que a reação interna não é tão grande assim. “Claro que as pessoas que são contra as novas medidas tendem a gritar mais alto”, diz. Há, inclusive, quem defenda que as medidas anti-ideologia de gênero de Ernesto Araújo são inconstitucionais e que deveriam ser questionadas na justiça.

A consequência prática do novo posicionamento do Brasil quanto à ideologia de gênero é nenhuma. Simbolicamente, contudo, este posicionamento reflete um alinhamento do Itamaraty com a política externa de países conservadores, como os Estados Unidos sob o governo Donald Trump, e os países da chamada “onda conservadora europeia”, como Hungria, Polônia e a Itália de Matteo Salvini.

A decisão de promover uma política externa atenta aos valores conversadores não é nova. Ainda em março, durante coletiva de imprensa no Itamaraty, o chanceler Ernesto Araújo já tinha afirmado que a política de Direitos Humanos do Brasil deveria mudar "para refletir a vontade do povo brasileiro". Na ocasião, o ministro deu a entender que os esforços brasileiros se voltariam para a defesa da vida desde a concepção, a valorização da família e o combate à ideologia de gênero.