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No sábado (5), a escritora J.K. Rowling tuitou:
“Pessoas que menstruam”. Tenho certeza de que havia uma palavra para essas pessoas. Alguém me ajuda. Molier? Mulé? Muié?”
Obviamente Rowling, a autora de “Harry Potter”, foi atacada por ativistas LGBT. A GLAAD (Gay & Lesbian Alliance Against Defamation) escreveu:
“JK Rowling continua endossando uma ideologia que distorce propositadamente fatos sobre identidade de gênero e pessoas trans. Em 2020, não há justificativa para se atacar pessoas trans”.
Jonathan Van Ness, o primeiro não-binário a virar capa da revista Cosmopolitan, também se manifestou:
“Mulheres trans são mulheres. Negros trans & não-negros trans sofrem discriminação diariamente. Eles estão morrendo. Estamos lutando pelos negros & trans e vc está fazendo isso?”
Mas Rowling não recuou e foi além:
“Se o sexo não é real, então não existe atração entre pessoas do mesmo sexo. Se o sexo não é real, a realidade das mulheres é apagada. Conheço e amo pessoas trans, mas apagar o conceito de sexo [biológico] tira a capacidade de muitas pessoas de discutir suas vidas. Não é ódio dizer a verdade.
"A ideia de que mulheres como eu, que são solidárias aos trans há décadas e que se sentem iguais aos trans porque eles são vulneráveis como as mulheres – à violência masculina – 'odeiam' trans só porque acham que o sexo é real e têm consequências é uma bobagem.
Respeito o direito de todos os trans de viverem de modo que sentirem que é autêntico e como acharem melhor. Eu marcharei ao lado de vocês se vocês se sentirem discriminados por serem trans. Ao mesmo tempo, minha vida é moldada pela minha condição de mulher. Não acredito que seja ódio dizer isso”.
Infelizmente, não é a primeira vez que a comunidade trans faz pressão sobre quem diz que só as mulheres menstruam.
Guerra da menstruação
Uma amiga minha conta uma história engraçada de uma briga que teve com os irmãos adolescentes. A briga culminou com ela acusando os irmãos de menstruarem.
Desnecessário dizer que minha amiga não ganhou aquela briga específica com os irmãos.
Mas talvez ela só fosse uma visionária no que diz respeito à sua visão neutra quanto à menstruação.
A Always, marca de absorventes, anunciou recentemente que tirará o símbolo feminino de seus produtos. A Always está “comprometida com a diversidade e inclusão, e está numa jornada contínua para compreender as necessidades de nossos consumidores”, diz a nota da empresa.
Isso porque aparentemente é controverso dizer que apenas as mulheres menstruam.
Durante anos, ativistas têm feito pressão para que a linguagem seja alterada em assuntos como menstruação e gravidez. A Thinx, marca de calcinhas feitas para serem usadas na menstruação, pediu desculpas durante a Semana da Consciência Trans de 2015 por focar demais nas mulheres.
“Sentimos que é nossa responsabilidade lembrar que a menstrução não é uma característica específica de um gênero. É algo que pode ocorrer entre todas as pessoas”, escreveu a marca à época.
Dois anos mais tarde, a revista Glamour cobriu positivamente o surgimento da nova empresa de produtos para menstruação, a Aunt Flow: “Eles também reconhecem que não são apenas as mulheres cis que menstruam. Homens trans e pessoas que não se identificam com um gênero também menstruam, por isso a empresa eliminou os pronomes femininos em seus produtos”.
Em 2016, a hashtag #IfMenHadPeriods causou polêmica ao sugerir que homens não menstruavam.
Claro que a Planned Parenthood entrou na dança também, mencionando a menstruação em seu site de uma forma neutra. “Nem todos os que menstruam se identificam como meninas ou mulheres. Homens trans e genderqueer que têm útero, vagina, trompas da Falópio e ovários também menstruam”.
Então se você usa quimono ou um cocar – por mais respeitoso que seja – isso é apropriação cultura e algo repreensível se você não for japonês ou nativo-americano. Mas se você quiser chamar uma experiência feminina — experiência que depende de um corpo que tenha nascido feminino — de indiferente ao gênero, tudo bem. Portanto atualmente a apropriação étnica o faz ser cancelado. Mas a apropriação de gênero o faz ser celebrado.
Como alguém que já lidou com muitos absorventes Always sujos com meu sangue, estou cansada dessa besteira.
Informações demais? Ah, desculpa, mas talvez nosso puritanismo semivitoriano tenha nos levado a fazermos parte dessa experiência quase orwelliana na qual a forma correta de discutir uma realidade inerentemente feminina, com a menstruação e a gestação, é por meio da neutralidade de gênero.
Eles simplesmente estão errados.
As meninas é que ouvem que, um dia, elas terão de lidar com o sangramento mensal. São as mulheres que frequentam aulas e trabalham enquanto suas entranhas se retorcem e cada gota de sangue é expelida em meio a insuportáveis cólicas. São as mulheres que tem de se planejar e levar absorventes e outros produtos por aí para não sujarem tudo de sangue. São as mulheres que olham para o sangue e sabem que não estão grávidas — sinal de boa ou má notícia.
Não se trata de uma experiência universal à qual os homens também têm acesso.
Se alguém que se identifica como neutro ou homem que menstrua, é porque essa pessoa nasceu com o corpo feminino – com órgãos há milênios associados às mulheres.
Mas claro que os ativistas LGBT estão preparados para apagar milhares de anos de experiência feminina só para garantir que os transgêneros ou não-binários jamais tenham de enfrenta a ideia de que o que acontece aos nossos corpos é relevante para o nosso gênero.
Vale a reflexão: talvez se a linguagem da menstruação ou se uma empresa estampando o símbolo feminino em produtos para menstruação representam uma ameaça para você é porque você está tentando silenciar algo dentro de si.
Todo mundo tem crenças que a sociedade não vê com bons olhos. Minhas ideias religiosas são constantemente criticadas por ateus e pessoas de outra fé. O mesmo acontece com minhas ideias políticas. (Tente dizer que você gosta de algumas medidas do presidente Donald Trump num estado democrata). Às vezes eu retruco. Às vezes me seguro.
Há alguns anos, precisava comprar um tênis para uma trilha de vários dias da qual participaria. Tenho o pé grande e, depois de experimentar vários pares, percebi que o melhor calçado é masculino, não feminino. Fiquei surpresa: por que a empresa não fazia sapatos femininos com a forma grande para eu não precisar usar calçados masculinos?
Daí percebi o absurdo do que eu dizia. Eu sabia que era mulher, não importa o tamanho do meu pé. Assim, comprei o tênis. E não, nunca liguei a empresa exigindo que o calçado fosse rotulado como “de gênero neutro”. Porque, no final das contas, aquilo não me incomodava.
Os transgêneros devem ser tratados com respeito e amor, como todo mundo. Mas isso não significa que toda a sociedade – de empresas a indivíduos – deva ser obrigada a se curvar à versão da realidade que eles preferem.
Há diferenças entre homens e mulheres e a menstruação é uma delas.
No nosso mundo digital, parece que estamos nos desviando cada vez mais da realidade biológica. Dizem que é nossa mente e espírito que determinam nosso gênero, não nossos corpos. Estamos desenvolvendo a inteligência artificial de robôs sexuais para que ninguém venha a precisar de uma pessoa de verdade para obter gratificação sexual.
A escritora Bridget Phetasy, durante um episódio recente do podcast de Joe Rogan, mencionou ter ouvido falar, num debate, de uma discussão sobre se a vida um dia deixaria de se basear no carbono para se basear num novo material qualquer.
Eis aqui uma ideia revolucionária: nossos corpos são importantes.
O fato de as mulheres menstruarem é importante e a menstruação é parte da experiência feminina — por mais que isso incomode os transgêneros que se identificam como mulheres (mas não menstruam) ou como homens (e menstruam).
Toda empresa norte-americana e no mundo todo pode mudar a linguagem e os símbolos para que a menstruação pareça não ter gênero. Mas isso não apaga o fato de que a menstruação tem gênero. E quando os ativistas de hoje perceberem isso eles ficarão bem decepcionados.
Katrina Trinko é editora-chefe do Daily Signal e coapresentadora do Daily Signal Podcast.