O legado de John Fetterman no Senado agora está definido — ele é o cara que tornou possível se vestir como um desmazelado.
O que o 'Compromisso do Missouri' [o acordo que permitiu a entrada do Missouri como o 24º estado dos Estados Unidos] foi para Henry Clay, o que a 'Segunda Resposta a Hayne' [um dos discursos mais famosos do senado americano] foi para Daniel Webster, o que a 'Lei dos Direitos Civis de 1957' [que, entre outras coisas, garantiu o direito ao voto sem discriminação] foi para Lyndon Johnson, moletons e bermudas largas serão para John Fetterman.
O senador da Pensilvânia é o garoto-propaganda — se a negligência indulgente for a sua marca — para o Senado abandonar um código de vestimenta que exigia que os senadores se vestissem com terno e gravata ao aparecer no plenário do Senado.
Por um breve período, Fetterman obedeceu à regra ao fazer o sacrifício de vestir terno e gravata depois de ser eleito pela primeira vez. Depois, voltou ao seu uniforme padrão que faz parecer que ele acabou de chegar depois de passar o fim de semana sentado no sofá, cercado por caixas de pizza vazias, assistindo a jogos de futebol.
Há o traje casual de negócios e, em seguida, há o traje de Fetterman. Isso não seria aceitável nem em muitos eventos organizados por estudantes universitários em todo o país. Os fãs do Philadelphia Eagles [time de futebol americano] se vestem com mais cuidado nos dias de jogo. Se ele aparecesse em qualquer serviço ou emprego da classe trabalhadora nos Estados Unidos vestido assim, seu supervisor daria uma séria bronca nele e insistiria que ele tivesse mais respeito por si mesmo, seus colegas e seus clientes.
Mas, acontece que ele é apenas um senador dos Estados Unidos, então ele pode vestir o que bem entender.
Quando a história do declínio das instituições americanas for escrita, o abandono do código de vestimenta do Senado pode não passar de uma nota de rodapé, mas merecerá menção.
Há muito se observa que importa como nos vestimos. À Mark Twain é atribuída a seguinte frase: "As roupas fazem o homem. Pessoas nuas têm pouco ou nenhum impacto na sociedade."
No entanto, acontece que pessoas desleixadas têm.
O terno de negócios, como o conhecemos, teve suas origens na corte do rei britânico Charles II. Em seguida, o britânico do século XIX Beau Brummell fez uma contribuição importante ao simplificar o traje. Após várias reviravoltas, em meados do século XX, nos Estados Unidos, o terno moderno havia chegado. Como um artigo na revista Atlantic observa, "Todos usavam, desde motoristas de táxi até executivos de negócios, e fazia com que todos parecessem polidos e profissionais."
O desenrolar começou há várias décadas com a chegada da Sexta-Feira Casual [Casual Friday], que eventualmente se espalhou para o Semana Inteira Casual.
O Senado cedendo a essa ética após alguns séculos de um padrão mais elevado é um sinal dos tempos.
Não produzimos mais pessoas dispostas a se conformar com as normas e expectativas de suas instituições de maneira confiável; marcas pessoais são consideradas mais importantes. E faltam aos líderes das instituições a coragem de insistir em regras que podem não estar mais na moda, mesmo que ainda sirvam a uma função importante.
Não é que John Fetterman será um senador melhor ou pior dependendo de como ele se veste. Mas sua vestimenta fala sobre como ele vê sua posição.
Isso seria óbvio em outros contextos. Se alguém aparece em um funeral ou casamento de jeans e camiseta, é considerado, compreensivelmente, um sinal de desrespeito, uma falta de disposição para fazer o esforço básico para reconhecer a solenidade da ocasião.
Uma sessão do Senado não é tão tensa e significativa quanto um casamento ou um funeral, mas deve ser considerada um evento de alguma importância. A história do órgão se estende desde o início da república, e ele está investido de considerável poder. Vestir-se apropriadamente reconhece isso; se vestir como se estivesse em uma pista de boliche o desconsidera.
Levaríamos um juiz a sério sem suas vestes? Ou um oficial da lei sem seu uniforme?
Fetterman venceu essa batalha, mas ao preço de se ridicularizar e ridicularizar sua instituição — embora ele não se importe.