No mês passado, o polêmico psicólogo e popular orador Jordan Peterson anunciou que está criando uma nova rede social. Anunciado como uma plataforma "anticensura", o "Thinkspot" permitirá que os usuários publiquem virtualmente o que quiserem. "Quando você estiver na nossa plataforma, não o censuraremos, a menos que recebamos uma ordem judicial dos EUA", prometeu Peterson.
Para aqueles que temem que grandes empresas de mídia social estejam discriminando injustamente os conservadores, o Thinkspot é bem-vindo. Antes consideradas bastiões da liberdade de expressão, plataformas como Twitter, Facebook e YouTube mostram cada vez mais disposição para silenciar e banir usuários que expressam opiniões consideradas ofensivas (embora, muitas vezes, isso signifique apenas ser hostil ao pensamento dominante progressista).
Há vários exemplos de pessoas que foram simplesmente eliminadas destas plataformas. Especificamente, Peterson chama a atenção para os usuários que foram suspensos do Twitter por usarem o gênero “errado” ao se referir a uma pessoa trans e zombarem de jornalistas demitidos dizendo-lhes para “aprenderem a programar”. Mas a questão surgiu recentemente quando o comediante de direita Steven Crowder descobriu que seu canal no YouTube havia sido desmonetizado — mas não suspenso — depois de zombar do jornalista da Vox Media Carlos Maza, que é homossexual, como um "gay afetado".
Muitos conservadores e legisladores republicanos viram o incidente de Crowder-Maza como um sinal de alerta de que grandes empresas de tecnologia iriam se prostrar diante das manadas progressistas e continuar silenciando vozes conservadoras. Eles notaram que vários outros comediantes fizeram declarações grosseiras bem parecidas (incluindo um comentário do próprio Maza em que ele implicitamente incitou à violência), mas não sofreram nenhuma espécie de retaliação.
Para combater a “censura” por meio de plataformas politicamente tendenciosas, o senador Josh Hawley acaba de apresentar legislação para regulamentar as empresas de mídia social forçando-as a provar ao governo que suas práticas de remoção de conteúdo são “politicamente neutras”.
Mas, como já foi apontado, a liberdade de expressão não começou com o Facebook, e não seríamos menos livres se o Facebook deixasse de existir. Longe de proteger a liberdade de expressão, a regulamentação governamental provavelmente politizaria ainda mais o discurso na internet e só aumentaria o poder das plataformas de mídia social estabelecidas.
O Thinkspot será neutro?
Em vez de defender a intervenção do governo, Jordan Peterson tem uma solução empreendedora para o problema do viés das redes sociais. O Thinkspot, ele diz, será radicalmente pró-liberdade. O site será baseado em assinaturas e os criadores serão recompensados diretamente por outros assinantes. Ao contrário do Patreon ou do YouTube, os membros não precisarão se preocupar com o fato de seu conteúdo ser retirado ou desmonetizado por expressarem opiniões impopulares ou se um grupo barulhento decide torná-los um alvo.
Isso não significa que o Thinkspot não terá regras. Semelhante ao máximo de 140 caracteres do Twitter, o Thinkspot terá um mínimo de 50 palavras. O objetivo é incentivar os usuários a postarem opiniões ponderadas. "Mesmo se você for um troll, você será um troll quase espirituoso", diz Peterson.
A intenção aqui é nobre, mas infelizmente, a ideia é totalmente ingênua. Um comentário longo em qualquer mídia social tem muito mais chances de ser verborrágico do que perspicaz. E, dizendo de forma gentil, os trolls não são conhecidos por sua brevidade.
Mais intrigante é o recurso de votação do Thinkspot. Os usuários poderão “premiar” ou “rebaixar” um comentário, e se o seu comentário cair abaixo de uma determinada proporção (Peterson sugeriu 50/50), então ele ficará oculto. O comentário não será excluído, mas os usuários precisarão clicar no comentário para visualizá-lo, da mesma forma como alguém deve clicar em um tweet de uma conta que foi silenciada ou que o Twitter designou como "conteúdo ofensivo".
Isso representa um problema para aqueles que querem uma plataforma de mídia social “politicamente neutra”. Afinal de contas, o que impede uma multidão de direita de rebaixar todas as publicações de um progressista? Não se engane: o Thinkspot muito provavelmente será predominantemente povoado por conservadores. Um site desenhado por Jordan Peterson e apoiado por outros membros da chamada “DarkWeb Intelectual” sem dúvida desencorajará os progressistas, enquanto o sistema de votos negativos garantirá que nenhuma ideia de esquerda seja discutida no site.
Thinkspot pode não se tornar o centro pluralista de pensamento livre e debate honesto imaginado por Peterson, mas isso não significa que ele não tenha valor. Enquanto as grandes empresas de mídia social reprimem o discurso não progressista, Thinkspot pode se tornar um refúgio para os dissidentes. Além disso, um híbrido inovador Patreon-YouTube-Twitter poderia aplicar pressão competitiva a outras plataformas, incentivando-as a relaxar suas políticas de censura.
Mais uma vez, o mercado está fazendo um trabalho melhor em encorajar a liberdade de expressão do que qualquer regulamentação jamais poderia.
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