Paola Garcia, de 21 anos, foi alvo de campanha de colega para deportá-la dos Estados Unidos| Foto: Reprodução 

O vídeo com o relato de uma jovem latina pedindo ajuda após um colega de classe fazer uma campanha para deportá-la dos Estados Unidos viralizou nesta semana na internet. O caso ocorreu na Universidade da Transilvânia, em Lexington, no Kentucky, depois que o presidente Donald Trump anunciou o fim do programa de proteção aos chamados “dreamers” (sonhadores), filhos de imigrantes ilegais que vivem no país. 

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Paola Garcia, de 21 anos, foi levada do México para os Estados Unidos quando tinha 2 anos de idade. Após a decisão de Trump em acabar com o Programa de Ação Diferenciada para Chegadas na Infância (DACA, em inglês), um colega da jovem, o americano Taylor Ragg, fez uma publicação no Facebook incitando pessoas a denunciarem e a mandarem Paola para fora do país. “Ele incentivou as pessoas a me humilharem, a me deportarem. Eu recebi inúmeras mensagens. Alguém também fez fotos dele preenchendo um formulário para a Segurança Nacional”, comenta a estudante. 

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This college student filmed an emotional plea for help after a classmate instigated a campaign to get her deported.

Publicado por BuzzFeed News em Quinta-feira, 14 de setembro de 2017

A situação foi relatada à direção da universidade e o autor da postagem excluiu seu perfil das redes sociais. Segundo a instituição de ensino, ele não faz mais parte da universidade.

O caso deixou Paola abalada. “Depois de 19 anos, a América ainda não é como uma casa para mim”, lamenta ela. 

Estima-se que cerca de 800 mil jovens como Paola sejam afetados pela medida de Trump. A maior parte deste público – 620 mil - nasceu no México e vive nos estados da Califórnia e do Texas. 

Criado pelo ex-presidente Barack Obama, o DACA vinha até então concedendo vistos de estadia e trabalho por dois anos, renováveis aos que chegavam aos Estados Unidos de forma ilegal quando crianças. O programa evitava a deportação temporariamente, sem garantir, no entanto, cidadania futura ou residência permanente. 

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A proteção podia ser requisitada por pessoas sem antecedentes criminais, que entraram no país com até 16 anos; com idade entre 15 e 31 anos; que vivem nos Estados Unidos desde 2007; e cursaram o Ensino Médio ou serviram às Forças Armadas. 

Mobilização 

Apesar do DACA não ter sido cancelado de imediato, o governo já anunciou que não renovará a documentação dos envolvidos pelos próximos meses nem concederá novas aplicações. Dessa forma, ao ter a documentação vencida, quem depende do programa ficará ilegal e estará sujeito à deportação a qualquer momento. A alegação das autoridades é que os “dreamers” estariam tirando vagas de emprego dos americanos e que a prioridade do governo deve ser seus cidadãos.

A decisão levou grupos, como líderes do departamento de Educação do estado de Maryland, que defendem imigrantes, a buscarem apoio do Congresso para tentar reverter a medida. Um dos argumentos usados é que o fim do programa provoca instabilidade familiar e medo de deportação, o que pode levar a problemas no aprendizado destes jovens em escolas e universidades. Além disso, como eles não veem perspectivas de futuro, é possível que os “dreamers” também passem a questionar o valor da educação que recebem. 

O governador do estado de Maryland, Larry Hogan, apesar de dizer que a segurança das fronteiras da nação deva ser uma prioridade, assinala que crianças e pessoas jovens - muitas destas que nunca conheceram outro lar e não têm culpa por ter vindo ao país – não devem ser o foco dos esforços contra a imigração ilegal. “Ao invés de atacar crianças inocentes, nós devemos atacar criminosos”, disse Amélia Chasse, porta-voz do governador. 

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Muro na fronteira

Em meio à discussão, Trump tem usado como moeda de troca para regularização dos “dreamers” a aprovação de verba para construir um muro na fronteira com o México que impeça a entrada de imigrantes ilegais. O presidente já mostrou que não está disposto a abrir mão do projeto, apresentado ainda durante a campanha eleitoral. 

Congressistas democratas, no entanto, insistem em dizer que vão bloquear qualquer legislação que contenha financiamento para levantar um muro na divisa dos dois países.