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Opinião

Justin Trudeau, o hipócrita das políticas identitárias

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Justin Trudeau, primeiro-ministro do Canadá, está enfrentando a pior crise política de seu governo (Foto: Lars Hagberg/AFP)

O primeiro-ministro Justin Trudeau está desesperadamente tentando se desculpar pelas várias vezes que apareceu usando blackface. Ele pediu perdão, culpando seu comportamento pelo fato de vir de "um lugar privilegiado". E acrescentou: "Eu tenho que reconhecer que isso vem com um enorme ponto cego".

Karen Wang, de Vancouver, British Columbia, não é um privilegiado. Ela emigrou da China continental em 1999 aos 23 anos e construiu uma respeitada creche. Em janeiro passado, enquanto concorria ao Parlamento como candidata representando o Partido Liberal de Justin Trudeau em uma eleição especial, ela foi subitamente acusada de racismo. O Partido Liberal entrou em pânico e, em 24 horas, forçou sua demissão, deixando sua reputação em frangalhos.

Qual foi o pecado de Karen Wang? Uma de suas voluntárias da campanha escreveu e postou uma mensagem no WeChat (uma espécie de Whatsapp popular na China) em mandarim que se traduz como:

Se pudermos aumentar a taxa de votação, como sou a única candidata [da etnia] chinesa nessa corrida, se eu conseguir 16.000 votos, vencerei facilmente a eleição e farei história! Meu oponente nessa eleição é o candidato do NDP [Jasmeet] Singh, de ascendência indiana!

Convencida de que foi vítima de um mal-entendido, ela pediu uma segunda chance ao primeiro-ministro Trudeau, que é o líder de seu partido. Ele a rejeitou e o partido encheu a vaga com outro candidato que perdeu a corrida de 25 de fevereiro por 13 pontos.

Wang foi criticada por suas palavras por todas as forças do Politicamente Correto no Canadá. O professor de direito Warren Kinsella, autor de vários livros sobre racismo, tuítou:

Sugerir que sua raça é superior à raça do seu oponente deve desqualificá-la das eleições ao Parlamento. O #LPC se livrará de sua candidata em #BurnabySouth? #cdnpoli #ndp

Wang argumentou que suas palavras haviam sido mal traduzidas e ela interpôs um recurso para Trudeau, líder de seu partido. Ela admitiu ter cometido um "erro", mas insistiu:

Não quis desrespeitar ninguém com esse comentário. Para mim, era apenas uma declaração de fato. Eu não quis dizer isso como um comentário racial.... Eu gostaria que o partido reconsiderasse e me desse uma segunda chance de concorrer às eleições.

Ironicamente, o candidato a quem Wang supostamente atacou não ficou incomodado com a mensagem. Jasmeet Singh, que acabou vencendo a eleição e agora é o líder do New Democratic Party (Novo Partido Democrata) contra Trudeau nas eleições nacionais de 21 de outubro, aceitou seu pedido de desculpas. "Eu não levei a sério. Estou preocupado com a polarização política”, disse. “Vemos isso na política americana — e como isso destrói um país. Quero focar na política que une as pessoas porque compartilhamos muito em comum.”

De fato, é preciso distorcer muito para chamar a mensagem de Wang de racista. Ela simplesmente ressaltou que compartilha um passado chinês com 40% dos eleitores em seu distrito, acrescentando que um de seus oponentes não. Não houve implicação de uma superioridade racial inerente. Como Lindsey Shepherd, uma bolsista do Centro de Justiça para Liberdades Constitucionais, apontou: “Wang foi flagrada tentando atrair sua comunidade — mas não é incomum ver políticos na região de Vancouver criar material de campanha em mandarim.” A história dos EUA também é cheia de exemplos de candidatos que apelaram ao orgulho étnico; veja as primeiras campanhas de John F. Kennedy e Barack Obama, por exemplo.

Mas Justin Trudeau, que soltou os cachorros contra muitos oponentes políticos por opiniões que ele afirma serem racistas e homofóbicas, não estava disposto a diluir uma arma política tão potente. Ele ignorou o apelo de Wang e efetivamente encerrou sua carreira política.

Agora Trudeau está desfiando um rosário de desculpas. Ele mudou sua foto de perfil do Twitter para uma sorrindo para uma pessoa negra — vemos o rosto de Trudeau e apenas a parte de trás da cabeça do negro. Os críticos disseram que esse movimento é semelhante a afirmar: "Alguns dos meus melhores amigos são negros!"

Mas os eleitores não estão engolindo a hipocrisia do primeiro-ministro. Antes das fotos fazendo blackface aparecerem, "os liberais estavam perto de conseguir a maioria" no Parlamento, disse à Reuters o pesquisador Frank Graves, da EKOS Research. "Isso mudou completamente, e talvez os conservadores estejam na frente agora". Ele observa que a liderança dos liberais em Ontário, que reúne 40% dos eleitores do Canadá, "parece ter evaporado quase da noite para o dia".

As lições a serem aprendidas com o tombo que fez Justin Trudeau perder o lugar de queridinho do politicamente correto são numerosas. Se as pesquisas continuarem mostrando sua queda, ele terá muito tempo para considerá-las como ex-primeiro-ministro aos 47 anos. Talvez ele deva se perguntar se as políticas de identidade que ele adotou há muito tempo estão dividindo os canadenses e tornando difícil para o país se concentrar em questões que realmente afetam a todos.

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