O espectro de Karl Marx continua a assombrar o mundo. Há 200 anos, no dia 05 de maio de 1818, o pai do comunismo totalitário do século 20, o escritor do guia revolucionário de ditaduras que promoveram assassinatos em massa e o criador do planejamento central, forma desastrosa de governo do socialismo, nasceu em Tréveris, na Alemanha.
Analisando o cenário político e econômico criado pelas ideias de Marx, especialmente nos últimos cem anos, alguns poderiam pensar que seu nome e seu legado seriam tão odiados quanto os de Adolf Hitler, criador do Nazismo. Mas, ao contrário, no momento em que se marca o aniversário de 200 anos de nascimento de Karl Marx, nós vemos que suas ideias continuam a ter um efeito perverso, incluindo a “política de identidade”, uma forma transmutada do tribalismo.
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Um artigo de opinião publicado na página editorial do jornal The New York Times no dia primeiro de maio de 2018 admitiu que na realidade o comunismo pode ter sido mal executado na prática; mas o que ainda se destaca nos nossos tempos da obra de Marx é “a tese básica dele – a de que o capitalismo é movido por uma luta de classes profundamente excludente na qual a minoria dominante se apropria da força de trabalho da maioria trabalhadora para obter lucro”. O mesmo texto afirma ainda que “Marx forneceu as ferramentas críticas para enfraquecer as alegações ideológicas capitalistas de serem a única opção para a sociedade”. Ou seja, que é possível refazer a ordem econômica e social para criar um mundo que não esteja sujeito à exploração capitalista.
Homenagem
Ao mesmo tempo, jornais europeus noticiaram que o comissário da União Europeia, Jean-Claude Juncker, participou das celebrações do aniversário de Marx na Alemanha, onde uma estátua de cerca de cinco metros de altura do socialista foi revelada - a peça foi uma doação do Partido Comunista Chinês. O escritório de Juncker publicou uma nota afirmando que, apesar de Marx ser uma figura controversa, ele foi “mesmo assim uma pessoa relevante para a história”. O mesmo, é claro, poderia ser dito sobre muitos tiranos e proselitistas de ditaduras, mas poucos criariam justificativas para celebrar o aniversário dessas pessoas ou mesmo levantar grandes estátuas deles.
O presidente chinês, Xi Jinping, disse em um pronunciamento público que “hoje comemoramos o aniversário de Marx para prestar homenagem a um dos maiores pensadores da história da humanidade e também para declarar nossa crença na verdade científica do marxismo”.
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O jornal The Financial Times reportou que a televisão e outras mídias da China estão repletas de músicas, matérias e documentários sobre a profundidade e a importância das ideias e da influência de Marx, além de ressaltarem o papel central que ele teve na criação ideologia da nação comunista.
Criticar um indivíduo nunca é um substituto para criticar as ideias que ele produziu. Mas, como o historiador Paul Johnson ressaltou em seu livro Intellectuals, de 1988, às vezes é útil saber algo sobre o homem que criou um conjunto de ideias, cujo conteúdo, é claro, ainda deve ser julgado por seu próprio mérito.
Marx, o homem
Nesse caso, só podemos falar que Karl Marx foi um canalha desprezível. Filho de uma família de classe média da Renânia alemã, o pai de Marx era um funcionário público prussiano que tinha se convertido do judaísmo para o cristianismo para escapar das restrições então vigentes para contratação de judeus no governo. Marx frequentou a Universidade de Berlim, onde entrou em contato com o determinismo dialético da filosofia de Georg Hegel. Sem terminar seu curso em Berlim, ele conseguiu seu título por meio de um curso por correspondência oferecido pela Universidade de Jena.
Ele passou boa parte da sua juventude ganhando a vida erraticamente como um escritor e editor de jornais e revistas. Depois de se mudar para Paris em 1843, começou uma duradoura amizade e uma colaboração intelectual com Friedrich Engels, que era um rico industrial do setor têxtil e um socialista radical. A parceria rendeu um dos trabalhos mais famosos dos dois, O Manifesto Comunista, de 1848.
Marx e sua família se mudaram para Londres em 1849, onde ele continuou a morar até o dia da sua morte, em 14 de março de 1883, aos 64 anos. Foi durante esses anos que Marx pesquisou e publicou o primeiro volume do seu tratado O Capital, de 1867, cujos dois últimos volumes foram editados por Engels e publicados postumamente. De sua casa na Inglaterra, Marx dedicou boa parte da sua energia ao socialismo radical do continente europeu, entrando em intrigas e conflitos com outros socialistas proeminentes do período.
Um homem mesquinho e vingativo, Karl Marx traiu sua mulher com a governanta da família, com quem teve um filho que ele se recusou a reconhecer. Seus hábitos pessoais e sua higiene eram deploráveis. Alguns dos seus artigos como correspondente para o New York Herald Tribune eram plágios, tendo sido escritos originalmente por Engels mas assinados por Marx. Ele falava mal e agia pelas costas de outros membros do movimento socialista em prol de seus objetivos políticos e tentaria minar a influência de oponentes quando eles desafiavam suas ideias e políticas em relação aos grupos socialistas europeus.
Ele era racista com os eslavos, asiáticos e africanos e tolerante com a retórica anti-semita. Em outras palavras, Karl Marx era uma pessoa nojenta, cruel e com sede de poder.
O destino do homem ditado pela "história" e pela classe social
Marx estava convencido de ter descoberto as inescapáveis "leis da história", que determinavam o fim do capitalismo e o triunfo do socialismo. Ele viu todos os levantes, revoltas e revoluções europeias de sua época como pontos de abertura para a ascensão do paraíso coletivo. E os fracassos eram vistos como provas de que a mudança já estava chegando.
Na concepção de Marx de mundo social, o indivíduo era reduzido a apenas uma parte das "classes sociais" (exploradores e explorados) e estava submerso em um combate mortal pelo controle dos meios físicos de produção. Humanos não tinham nenhuma habilidade real de controlar seus destinos pessoais. Crenças, sonhos, atitudes e valores pessoais eram insignificantes e irrelevantes. As perspectivas e resultados de uma vida eram produtos do "status social" do indivíduo. Pessoas eram ao mesmo tempo prisioneiras e consequências de ser dono dos meios de produção ou a vítima sem os meios de produção. As vítimas tinham que implorar aos "capitalistas" para ter acesso aos recursos dos exploradores que exigiam em troca uma parte do produto do trabalho realizado. O lucro dos capitalistas era a porção dos esforços produtivos dos trabalhadores que era retirada deles apenas pela habilidade arbitrária e artificial de manipulação que algumas pessoas da sociedade tinham, podendo assim obrigar os outros a trabalhar para eles por menos do que o valor completo do resultado do trabalho.
O sistema capitalista era mantido, segundo Marx, pelo poder do estado de manter os ganhos materiais na mão dos donos de propriedade – o "um por cento". A sustentabilidade do sistema também dependia dos capitalistas, que perpetuam uma "consciência falsa" nas massas de trabalhadores por meio do controle da mídia e da educação, que usavam como forma de doutrina para que aceitem a exploração como "justa" e "natural".
A revolução socialista e a ditadura
Mas todas as coisas ruins vão encontrar seu fim, assegurou Marx aos que o ouviam, quando o desenvolvimento "progressivo" e inevitável das forças materiais de produção chegassem ao ponto no qual sua melhoria exigiria a superação do sistema capitalista de propriedade privada e sua substituição pela socialização dos bens de produção por meio de posse e controle coletivos dos trabalhadores.
Esse estágio da revolução comunista seria precedido pela crescente pauperização dos trabalhadores, resultado da troca do trabalho manual por máquinas que diminuem os custos de produção. A mecanização aumentaria o desemprego e diminuiria os salários, já que haveria um número decrescente de vagas de trabalho para um número grande de trabalhadores disponíveis. Além disso, a competição desenfreada entre os capitalistas leva os menos eficientes à falência, aumentando ainda mais o número de desempregados. Isso diminui o número de exploradores capitalistas até que eles representem uma "classe dominante" menor e menor em relação a uma "classe proletária" cada vez maior.
Finalmente, a exploração seria forte demais, e a realidade da servidão e o abuso das mãos dos capitalistas eliminam a ilusão da "falsa consciência" pela a qual os trabalhadores aceitaram suas condições de vida. A revolução está próxima. As massas se levantam, os capitalistas são derrubados e os "expropriadores são expropriados".
Porém os trabalhadores, agora libertados de seus mestres capitalistas, não estão prontos para a liberdade e para o controle dos meios de produção. Não, Karl Marx insistiu que antes da satisfação de um paraíso comunista não-estatal pós-escassez e sem desejo material, deve haver um período de transição socialista chamado "ditadura do proletariado".
Os trabalhadores podem estar livres do controle direto dos capitalistas, mas suas mentes, crenças e atitudes ainda sofrem influência da mentalidade capitalista. Eles ainda acreditam em um comportamento egoísta e no ganho pessoal. A consciência deles ainda não se elevou a um coletivismo altruísta no qual os interesses coletivos são mais importantes que desejos individuais.
A "vanguarda revolucionária" – leia-se aqui Karl Marx, Friedrich Engels e outros indivíduos da mesma ideologia – tem a responsabilidade de agir pelos trabalhadores que não entendem completamente quais são seus interesses verdadeiros. A elite revolucionária tem a tarefa necessária de "reeducar" as pessoas dentro da consciência coletiva. Eles precisam tomar as rédeas do controle do novo estado socialista e direcionar o novo sistema de planejamento central; os trabalhadores precisam ser disciplinados para trabalhar para a sociedade como um todo.
Ao mesmo tempo, a vanguarda revolucionária tem que vigiar e proteger a sociedade socialista de qualquer tentativa por parte de capitalistas estrangeiros ou de resquícios da classe capitalista interna de impor mais uma vez um sistema injusto de "escravidão paga". Se esses antigos capitalistas e seus herdeiros se recusarem a processar a reeducação, eles terão de ser "eliminados" violentamente. Para proteger os trabalhadores das seduções das ideias capitalistas, a censura deve ser necessária, assim como a propaganda pró-socialismo e a proibição de qualquer movimento ou partido político anti-socialista.
As tiranias e corrupções do socialismo na prática
Em alguns escritos do socialista é possível encontrar uma base para a tirania que foi criada, desenvolvida e intensificada a cada revolução inspirada por Marx durante o século 20, começando com Vladimir Lênin e seu partido bolchevique na Rússia em 1917, passando pela conquista da China por Mao em 1949, pelo regime de Ho Chi Minh no Vietnã em 1954, pela vitória de Fidel Castro em Cuba em 1959, pelo controle dos sandinistas na Nicarágua a partir de 1980 e terminando com Hugo Chávez e Nicolás Maduro na Venezuela a partir de 1990.
Foi estimado que pelo menos 150 milhões de pessoas morreram nas mãos de regimes marxistas ao redor do mundo inteiro. A maioria dessas vítimas eram homens, mulheres e crianças desarmadas e inocentes. Eles foram executados, torturados ou morreram de fome e exaustão. Todos os regimes comunistas do século 20 tentaram ou conseguiram impor controles ditatoriais brutos e abrangentes. O controle ideológico por meio de propaganda, censura e doutrinação foi imediatamente usado para passar "valores socialistas" e acabar com o pensamento capitalista burguês.
O planejamento central socialista fazia com que todas as pessoas no "paraíso dos trabalhadores" dependessem do estado: para ter educação, trabalho, moradia e oportunidades sócio-econômicas, além das vantagens e dos privilégios que podiam e eram dados àqueles que eram leais e obedientes. A "sociedade sem classe" do socialismo era, na realidade, um labirinto hierárquico intrincado de status, posição e níveis de poder que dependiam do lugar do indivíduo na rede vasta de burocracia do planejamento governamental.
Não que os sistemas de planejamento central das sociedades comunistas tenham gerado qualquer grau maior de prosperidade em relação às economias de mercado do resto do mundo. Nos anos 20 e 30, os economistas austríacos Ludwig von Mises e Friedrich A. Hayek já tinham demonstrado porque sociedades socialistas que implementassem um sistema de planejamento central iriam criar sistemas de "caos planejado". A abolição da propriedade privada dos meios de produção, a eliminação da competição de mercado e o fim de um sistema de preço pelo qual lucro e déficit podem ser calculados significaria que os sistemas socialistas seriam pobres, esbanjadores e irracionais no uso de recursos escassos.
Além disso, todos os membros da sociedade socialista precisava ter conexões, relações e uma "posição" no sistema para ter alguma chance de ter acesso à necessidades, conveniências e amenidades em seu país, já que (com exceção apenas do mercado negro) poucos bens materiais podiam ser obtidos por meios lícitos de distribuição de bens e serviços.
As ideias de Marx e a Ditadura da Paranoia
Por conta da própria ideologia, os regimes marxistas foram tiranias da paranoia. Se indivíduos não importam, restando somente a tarefa que eles recebem dentro da classe social; se o mundo é reduzido a uma batalha de vida ou morte entre duas classes sociais inconciliáveis; se ideias e filosofias políticas são ferramentas retóricas de manipulação e propaganda para o poder de uma classe social sobre a outra; se qualquer pessoa que não é membro do "proletariado" nem se converter à causa revolucionária socialista é, por definição, uma "classe inimiga" tentando impedir ou diminuir a inevitável marcha histórica para o comunismo; então, cada palavra, ideia, ação ou evento que não são considerados um passo para o caminho do coletivismo marxista é uma ameaça ao sucesso da revolução socialista e à preservação da ditadura "iluminada" e "progressista" do partido comunista.
A regra do dia é sempre usar violência contra conspirações, intrigas e tentativas de diminuir as conquistas e os avanços do estado socialista – até o dia da vitória final, quando o mundo se juntar em uma grande república socialista. Como a revolução pode ser preservada se o poder do Partido Comunista não é completo e abrangente? As fronteiras dos estados socialistas devem ser fechadas contra penetrações de pessoas anti-socialistas e propagandas pró-capitalismo. Uma polícia secreta deve estar sempre presente para esmagar qualquer oposição ao partido, e seus poderes devem ser ilimitados para que possam vigiar a tudo e todos; afinal de contas, os inimigos do socialismo são astutos em suas intrigas contra a justa causa das "pessoas".
O estado socialista está rodeado por países capitalistas que esperam uma oportunidade de enfraquecer e derrubar o sistema comunista. A mera existência de um estado socialista, fundado nas "leis da história" (definidas por Marx de uma maneira diferente que outros teóricos) é a sentença de morte do capitalismo.
A lógica de Marx levou, sem exceções ou circunstâncias particulares, ao estado comunista totalitarista do século 20 por causa da própria maneira com a qual Marx insistiu em ver o mundo e as relações entre seres humanos. A razão fundamental para o poder absoluto do Partido Comunista veio da ideia de que qualquer pessoa que esteja contra o partido é contra as "pessoas" e de que o socialismo triunfará inevitavelmente no futuro. Com inimigos em todos os lugares, a paranoia ideológica justifica os controles, as prisões, interrogatórios, torturas e execuções para eliminar um inimigo de classe, sem falar das passagens só de ida para os campos de trabalho forçado para obrigar os anti-socialistas a trabalharem até a morte para construir o sistema ao qual se opuseram. Em países comunistas, isso chegou de ser chamado de "reeducação pelo trabalho".
As pessoas que ainda apoiam as ideias de Marx escolhem ignorar ou minimizar o mundo criado pelas revoluções socialistas imposto horrorosamente com consequências terríveis para centenas de milhares de pessoas do mundo inteiro.
Eles acreditam que as críticas de Marx à sociedade capitalista moderna ainda são relevantes. Porém, todas as previsões de Marx sobre onde, quando e como o socialismo iria surgir foram erradas.
Todos os elementos da crítica dele ao capitalismo ou às sociedades baseadas no mercado estavam incorretos. O resultado de sistema de mercados livres foi a riqueza, não a miséria – uma riqueza que, inclusive, tirou boa parte da humanidade da pobreza. O sistema capitalista continua a fazer isso em vários cantos do mundo. Liberdade pessoal e civil são paralelas ao respeito e preservação da sociedade privada e do Estado de Direito. E a realidade humana na sociedade não tem nada a ver com a concepção ilusória de um mundo engolido pelos "conflitos de classe" como pensou Marx.
Sim, vamos celebrar que duzentos anos se passaram desde o nascimento de Karl Marx. Mas vamos usar o aniversário para olhar para o homem, suas ideias e as consequências delas de olhos bem abertos. Deveríamos usar a ocasião para lembrar e refletir no mal que foi feito para humanidade pela influência destrutiva de Karl Marx.
©2018 Foundation for Economic Education. Publicado com permissão. Original em inglês