Este mês se comemora o aniversário de um dos piores seres humanos da história, Karl Marx. O fato de a filosofia de Marx ter levado diretamente à morte de 100 milhões de seres humanos ao longo de um século, ao encarceramento de dezenas de milhões de pessoas em gulags e campos de reeducação na Rússia, China, Vietnã, Camboja e Coreia do Norte e na opressão de outras centenas de milhões, não dissuadiu aqueles que fazem parte da moderna esquerda ocidental de abraçar o seu legado de sangue.
Compreendendo, porém, que anunciar sua defesa do comunismo propriamente dito pode provocar o repúdio de quem se recorda do Muro de Berlim, os marxistas de hoje se mobilizam, em lugar disso, em volta da política de identidade.
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Nas páginas do “New York Times” – o mesmo jornal que nos últimos dois anos publicou artigos de opinião endossando o impacto do comunismo sobre o empoderamento feminino e a atividade sexual feminina e seus efeitos inspiradores sobre os americanos —, o professor adjunto de filosofia Jason Barker, da Universidade Kyung Hee, festejou o aniversário de Marx escrevendo “Feliz Aniversário, Karl Marx. Você tinha razão!”.
Marx tinha razão em relação ao quê, exatamente?
Ele não tinha razão em relação à economia – sua teoria econômica é pura balela. Ele tampouco teve razão quando previu que a história avançaria como uma gloriosa progressão hegeliana em direção a uma utopia socialista. Mas, para Baker, Marx teve razão sobre uma coisa: os despossuídos do mundo se uniriam para mudar a natureza humana, transformando o sistema de opressão sob o qual viviam. Marx, diz Baker, teve razão em relação à exploração de classes – que os ricos exploram os pobres. Mas é na forma de grupos de vítimas formados com base em sua raça e seu sexo que a dialética de Marx encontra sua verdadeira apoteose:
A opressão racial e sexual foram somadas à dinâmica da exploração de classes. Os movimentos de justiça social como Black Lives Matter e #MeToo têm uma certa dívida implícita com Marx, graças ao modo aberto em que atacam as “verdades eternas” de nossa época. Esses movimentos reconhecem, como Marx reconheceu, que as ideias que regem todas as sociedades são as de sua classe governante, e que derrubar essas ideias é fundamental para se alcançar progresso revolucionário real.
Aqui Baker está apenas retrabalhando os escritos dos marxistas da Escola de Frankfurt, como Herbert Mancuse, segundo os quais
Os seres humanos que vivem à sombra dessa cultura, as vítimas da estrutura de poder, ... agora opõem à chamada “música das esferas”, que foi a conquista mais sublime dessa cultura, sua própria música, com toda a estridência, o ódio e a alegria de vítimas rebeldes que definem sua própria humanidade, desafiando as definições de seus senhores.
Em lugar de uma revolução do proletariado, portanto, o marxismo hoje busca uma revolução das vítimas — os diversos grupos de despossuídos que sentem que o sistema é enviesado contra eles. E é muito mais fácil unir esses setores em torno de temas interssecionais que uni-los em torno da disparidade de renda. Pode não existir uma fraternidade séria entre aqueles que ganham pouco, mas o puro tribalismo gera laços duradouros — e os marxistas não rejeitam a chance de moldar essas tribos em uma nova nação de rebeldes.
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A esperança, é claro, é que tal nova nação possa, por sua vez, dar lugar a um novo tipo de de ser humano. Baker explica que “estamos acostumados ao slogan empreendedor segundo o qual para efetuar transformações sociais, primeiro precisamos transformar a nós mesmos”.
Mas na realidade, segundo Marx, não podemos nos transformar, porque o sistema já nos definiu. Ao redefinir o sistema, podemos “fazer a transição para uma nova sociedade em que, finalmente, o valor do indivíduo seja determinado pelas relações entre pessoas, e não pelas relações de capital”. Tudo o que é preciso é nos unirmos para derrubar o capitalismo, e o homem desabrochará plenamente. Derrubar significa construir.
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É uma balela perigosa. E, embora os proponentes do marxismo em nosso tempo repudiem os stalinistas, os maoístas, o regime de Castro, os da Venezuela e da Coreia do Norte, todas essas nações também pensaram que estavam realizando o sonho de Marx. É porque o estavam fazendo. Não existe uma nova natureza humana que desponta no horizonte; os seres humanos não são definidos puramente pelo sistema sob o qual vivem. Apenas um sistema que crie espaço para nossos defeitos muito humanos, que contrabalance falhas com consequências e egoísmo com não agressão, poderá canalizar esses defeitos para gerar algo de útil.
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Não, Marx não tinha razão. Mas a esquerda nunca vai renegá-lo porque ele propõe a única alternativa real à visão religiosa da natureza humana – a visão segundo a qual o homem não é uma tábula rasa, não é um anjo à espera da redenção, mas um ser cheio de falhas e capaz de realizar grandes coisas. Para realizar essas grandes coisas é preciso trabalho árduo. Transformar-nos ao nível individual requer trabalho árduo. Discursar sobre os males da sociedade é muito fácil.
Ben Shapiro é editor-chefe do Daily Wire.
Tradução Clara Allain
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