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A cena inicial do filme “Katyn”, disponível no Google Play, representa perfeitamente a posição da Polônia na Segunda Guerra Mundial. Sobre uma ponte, um grupo de famílias foge de uma cidade quando nota que, vindo do outro lado, outros civis se aproximam. Um grupo escapa dos nazistas, que vêm do oeste. O outro, dos soviéticos, que se aproximam vindos do leste. Vítima primeiro de Hitler (que instalou em território polonês o campo de concentração de Auschwitz) e depois do igualmente brutal regime de Stalin, a Polônia sobreviveu, mas não sem muitas cicatrizes. “Katyn” trata de uma delas: o massacre, pelos comunistas, de prisioneiros de guerra poloneses.
Oficialmente, as tropas soviéticas que avançaram sobre a Polônia na Segunda Guerra Mundial tinham como missão liberar o país do jugo nazista. Mas a realidade não foi exatamente essa. Em 1940, eles já haviam detido milhares de militares poloneses como prisioneiros de guerra, embora as tropas polonesas também lutassem contra o nazismo. Vinte e dois mil deles morreram no chamado Massacre de Katyn.
O filme é inspirado no livro "Post mortem — A História de Katyn", do escritor polonês Andrzej Mularczyk. Talvez pela tarefa sempre ingrata de resumir centenas de páginas em duas horas de filme, a sequência por vezes parece desconjuntada. Mas o fio condutor emerge aos poucos. “Katyn” tem como foco a busca das famílias, especialmente das mulheres, pelos seus parentes aprisionados pelos comunistas.
Um dos últimos trabalhos do longevo e respeitado diretor polonês Andrzej Wajda, que morreu em 2016 aos 90 anos de idade, “Katyn” (lançado em 2007) concorreu ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 2008.
Marcas emocionais
O drama mostra, sem pressa e sem cacoetes holywoodianos, a desumanidade do regime comunista - que, depois de cometer o massacre de forma injustificada e com um nível de crueldade brutal, tentou culpar os nazistas pelo ocorrido.
“Katyn” humaniza as vítimas da tragédia, enterradas em valas comuns. Aqueles eram homens com esposas, mulheres, irmãs, mães. Cada um com uma jornada única. E, para cada ausência, surgem marcas emocionais que se prolongam por décadas.
Por meio do protagonista, o tenente Jerzy filme também retrata de forma fiel o eterno dilema entre o dever com a família e a lealdade à pátria, que por vezes se misturam. Defender a nação de invasores estrangeiros é, em última instância, defender os próprios familiares.
Apesar da tragédia, “Katyn” dá testemunho da força do espírito humano, e particularmente do povo polonês, ao mostrar a luta incansável dos familiares por seus filhos, esposos e pais.
De alguma forma, a própria existência do filme, feito por um diretor polonês, com atores poloneses e com diálogos em polonês, é um atestado de que os delírios totalitários não são suficientes para destruir a ideia de família e de nação.
Como lembra um personagem do filme, o Terceiro Reich deveria durar 1.000 anos. O comunismo, por sua vez, pretendia governar para sempre. E, no entanto, com o regime nazista reduzido a pó e a União Soviética extinta, a Polônia permanece de pé.
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