A tortura e a tatuagem forçada de “eu sou ladrão e vacilão” na testa de um rapaz de 17 anos, em São Bernardo do Campo (SP), acusado de roubo de uma bicicleta, é mais um caso de tentativa de fazer justiça com as próprias mãos. Uma atitude que remete ao que acontecia na Idade Média e também na Idade Moderna, quando a população ainda tentava sair do embrutecimento e muitos ignoravam regras básicas de justiça, como a necessidade de aplicar uma pena justa, nem maior nem menor, para determinados crimes.
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Já se passaram séculos desde que o poder público deixou de cortar as mãos de uma pessoa que tentou roubar um pedaço de pão, mas a sensibilidade de algumas pessoas parece regredir à barbárie. Nesse caso, o desconhecimento dos torturadores sobre a injustiça que estavam fazendo era tão grande, que o tatuador Maycon Wesley Carvalho dos Reis, 27 anos, e o vizinho Ronildo Moreira de Araújo, 29 anos, não se contentaram de apenas marcar o rosto do rapaz, mas quiseram ostentar o fato com vídeo compartilhado nas mídias sociais.
Não se sabe se de fato o adolescente roubou ou não a bicicleta, como é acusado. O certo é que, como exige a dignidade de qualquer pessoa no mundo, o rapaz tinha direito a um julgamento justo e, caso confirmado o delito, a receber uma pena proporcional ao crime. A violência cometida por Maycon e Ronildo, com consequências não apenas físicas, mas morais – pode-se apagar os traços vincados na pele, mas não a dor na alma – extrapola em muito o razoável nesse caso. E as imagens veiculadas, com sarcasmo e desrespeito, só vêm a piorar o ato.
Resta-nos agora a comoção e tentar consertar o estrago. A vaquinha feita para tentar apagar as consequências da violência é apenas um paliativo. Maycon e Ronildo precisam pagar pela consequência dos seus atos; do contrário, continuaremos a ver a sociedade degringolar até voltarmos à selva.
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