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Parentes de Irina Medyantseva choram durante o funeral: Irina foi uma das várias vítimas do atentado ao metrô de São Petersburgo. | Olga Maltseva/AFP
Parentes de Irina Medyantseva choram durante o funeral: Irina foi uma das várias vítimas do atentado ao metrô de São Petersburgo.| Foto: Olga Maltseva/AFP

O atentado terrorista cometido nesta segunda-feira em São Petersburgo não suscitou muita compaixão institucional por parte do Ocidente – diferentemente do que aconteceu em atentados anteriores, nem a Torre Eiffel, nem o Portão de Brandemburgo se iluminaram com as cores da bandeira do país atingido. Ele, no entanto, passou uma mensagem perturbadora às nações ocidentais: restringir a liberdade e a privacidade dos cidadãos em nome da segurança não irá impedir o terrorismo.

A Rússia consta entre os países com as leis mais rígidas e menos liberais de combate ao terrorismo. O mero gesto de expressar aprovação pelo terrorismo em redes sociais é punível com 7 anos de prisão. O governo não perguntou se a população queria mais proteção em troca de menos liberdade — ele simplesmente jurou, decidido, que exterminaria o que a legislação russa chama de “extremismo”, uma ampla gama de atividades que vão desde compartilhar uma postagem do Facebook até atos de violência nas ruas.

A Rússia é também um país com uma imensa presença policial: Segundo as Nações Unidas, ela tinha em 2014 a sétima maior proporção entre policiais e a população; entre as grandes nações ocidentais, só a Espanha tem mais policiais per capita.

As medidas de segurança visíveis no metrô de São Petersburgo, onde uma explosão matou pelo menos 14 pessoas e deixou 49 feridas, em estado grave, nesta segunda-feira, são mais extremas do que na maioria dos sistemas metroviários do Ocidente. O governo começou a fortalecer a segurança após o atentado em Moscou que matou 41 pessoas em 2010. Entre 2012 e 2016, São Petersburgo gastou pelo menos 1,6 bilhão de rublos (US$ 28,3 milhões na taxa de câmbio atual) com sistemas de vigilância de tecnologia de ponta, medidores Geiger para radiação, máquinas de raio-X e outras tecnologias. Os detectores de metal estavam funcionando já fazia quase um ano.

Falso suspeito

Os terroristas que detonaram o explosivo – um tipo de bomba caseira construída com pregos no seu interior que disparam quando ela é detonada – dentro de um trem em movimento entre as estações, na segunda-feira, não foram detidos pelos detectores. Um explosivo semelhante foi encontrado em outra estação, antes que pudesse explodir.

Quanto ao sistema de vigilância em vídeo, ele estava funcionando normalmente. Logo após o ataque, uma das redes nacionais de TV russa, REN-TV, divulgou imagens do “suspeito de terrorismo” – um homem barbado de roupas escuras e um chapéu redondo, o típico muçulmano de tendência mais ortodoxa. As imagens se espalharam pelas redes sociais, com o tipo de comentários que já são de se esperar. Mais tarde, o homem entrou numa delegacia de São Petersburgo para explicar que não era ele o suspeito. Ele também tinha visto as imagens.

A polícia ainda não mencionou oficialmente o suspeito pelo nome, mas vários relatórios apontam para um suicida de sexo masculino, originário de um dos estados da região central da Ásia, conhecida como um dos principais centros de recrutamento do ISIS. Há também relatórios de que o grupo que planejou o ataque já estava sob vigilância policial, mas as forças de segurança não foram capazes de agir com rapidez o suficiente para evitar a primeira detonação.

Corrupção

O aparato de segurança russo está longe de ser incompetente ou ineficaz. Ele tem uma tradição forte e é bem treinado e bem equipado. O orçamento com segurança é geralmente o último a sofrer qualquer tipo de corte, mesmo quando o governo passa por dificuldades financeiras.

Mas essa também é uma parte profundamente corrupta do governo.

A firma que fabricou e forneceu os detectores de metal para o metrô de São Petersburgo era o único concorrente da licitação para isso. Ela havia sido certificada para esse propósito pela FSB, o serviço de inteligência doméstica, apesar das reclamações sobre seus produtos. E, quando ela solicitou a instalação das máquinas, o sistema metroviário não tinha a equipe de segurança necessária para lidar com o equipamento da forma adequada.

Esse é um dos pontos em que os sonhos de segurança total colidem com a realidade: É quase impossível coibir todas as ameaças em potencial a um sistema metroviário tão vasto quanto o de São Petersburgo, pelo qual passam mais passageiros do que em quase todas — com apenas três exceções — as cidades da Europa.

À luz do dia

O atendado, porém, ocorreu em plena luz do dia, quando o trânsito de passageiros estava leve (o que explica a contagem relativamente baixa de vítimas) e o terrorista ou terroristas seriam mais fáceis de identificar e deter – e identificados positivamente com mais rapidez, no caso de não ser possível detê-los.

Pesquisas europeias recentes demonstram que as pessoas toleram até um certo nível de segurança visível — como câmeras de circuito fechado, cães farejadores e até mesmo pequenos atrasos na viagem —, mas se opõem a medidas mais duras como as tomadas na Rússia. Quem entra nos metrôs de Moscou e São Petersburgo com pastas e mochilas volumosas muitas vezes é interrogado e revistado. E os detectores de metal funcionam no estilo dos odiados detectores de aeroporto. De quebra, há também muita discriminação racial, como ficou evidente pelo caso do homem cuja imagem foi circulada pela REN-TV. Mas o perigo aos passageiros permanece.

Frutos da Síria

O atentado terrorista deverá levar a investigações sobre como estava funcionando o equipamento e quem o estava operando. As experiências do passado apontam que o que deverá acontecer é que as medidas de segurança serão fortalecidas por uns dias, talvez algumas semanas, e então serão traçados planos para se empregar mais tecnologia e uma equipe maior.

O presidente Vladimir Putin também terá justificativas para apertar os cintos agora em antecipação às eleições presidenciais de 2018. O Kremlin terá ainda que transmitir ao mundo a mensagem de que o país deveria ser visto como um parceiro no combate ao terrorismo global, não um adversário. Sergei Lavrov, ministro das Relações Exteriores, já fez uma declaração nesse sentido. Haverá – e já há, em algum grau – muita especulação sobre o papel do Kremlin no atentado, que aconteceu após a primeira onda de protestos anti-Putin em cinco anos.

E há quem diga que a Rússia esteja colhendo os frutos de sua campanha militar implacável na Síria.

Tudo isso, porém, não passa do típico ruído pós-atentado, que não importa muito para nós que pegamos o metrô todos os dias. O que devemos perceber é que essa oposição “segurança versus liberdade” é uma falsa dicotomia. Os políticos que tentarem vendê-la para nós muitas vezes estão mais interessados em tirar a nossa liberdade do que em fazer com que a população fique mais segura de fato. Os russos se calaram nesse debate, mas o atentado em São Petersburgo mostra que eles não tiveram muito retorno pela liberdade da qual abriram mão. Os ocidentais deverão ficar atentos a isso quando o próximo atentado trouxer à tona discussões sobre a criação de leis mais rígidas ou aumentos no orçamento para implementar métodos invasivos de segurança.

*Bershidsky é colunista da Bloomberg View. Foi o fundador do jornal diário de negócios Vedomosti, na Rússia, e do site de opiniões Slon.ru.

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