Há trinta anos, no dia 11 de março de 1990, A Lituânia declarou independência da União Soviética. Sendo mais preciso, o país disse que a ocupação soviética da Lituânia, realizada graças a acordos secretos entre os soviéticos e a Alemanha nazista, era ilegal. A decisão restaurava a independência da Lituânia declarada em 1918. A Letônia e a Estônia fizeram o mesmo em seguida.
Isso deu origem a um efeito em cadeia que, juntamente com a Queda do Muro de Berlim (1989) e uma tentativa de golpe militar na Rússia (agosto de 1991), levaram à dissolução da União Soviética.
Assim, do nada, o império do mal deixou de existir.
Um testemunho vivo da liberdade
Eu tinha nove anos na época, então não compreendia a importância das mudanças geopolíticas e históricas. Na verdade, duvido até que muitos dos adultos compreendessem isso. Mas uma coisa é certa: os lituanos queriam liberdade, independência e menos Rússia na Lituânia. Essas eram as máximas proferidas em todas as esquinas. Se alguém algum dia duvidou do poder das ideias, essa é outra prova do poder delas.
Mikhail Gorbachev, secretário geral da União Soviética, ameaçou arruinar com a economia lituana. Não era uma ameaça à toa. Muitas pessoas trabalham em fábricas, produzindo peças e componentes de caminhões e mísseis que somente a União Soviética podia usar (alguns podem dizer que isso foi um plano deliberado para manter as repúblicas atreladas à União Soviética). E isso não porque os bens de consumo soviéticos tivessem qualidade o bastante para torná-los competitivos no mercado internacional. Muitas das fábricas realmente fecharam e muitas pessoas perderam o emprego.
Outra ameaça foi a de um embargo econômico da Lituânia que teve início no mês seguinte à declaração de independência. A Rússia interrompeu o fornecimento de petróleo, gás natural e várias matérias-primas industriais. O recado da União Soviética era claro: renunciem à liberdade e anulem a declaração de independência ou enfrentem as consequências. Até mesmo algumas democracias ocidentais se juntaram ao coro, aconselhando o jovem país a “agir com sensatez”. Afinal, Gorbachev era o comunista soviético “do bem”.
O exército soviético estava estacionado na Lituânia, e a Lituânia não tinha um exército formal próprio. A forma como os soviéticos lidavam com povos que queriam liberdade ficou clara pelo que aconteceu na Hungria, em 1956, e na Tchecoslováquia em 1968: intervenção militar, tanques e batalhas nas ruas. Além disso, a Lituânia fazia mesmo parte da União Soviética, enquanto a Hungria e a Tchecoslováquia, ao menos no papel, eram países independentes. Não que papeis e tratados importassem para os soviéticos, claro.
Os soviéticos contavam com os comunistas locais, os residentes que falavam russo e membros descontentes da sociedade para que eles se rebelassem e abafassem a tentativa de recriar a Lituânia “burguesa e capitalista”. Claro que houve tentativas, com a ajuda do exército soviético, de organizar um golpe quase um ano mais tarde, em 1991. Claro que havia comunistas que passavam horas e horas repetindo bobagens de dentro dos estúdios de TV ocupados por tropas do exército soviético. Mas isso foi um erro de cálculo por parte da linha dura do regime soviético. As pessoas odiavam o comunismo e a União Soviética com fervor.
Não estou falando de algo abstrato, e sim de um ódio visceral causado pelas lembranças do que acontecera na década de 1950: o país foi pilhado e ao menos 10% da sua população foi deportada (ou coisa pior). Os que lutaram pela liberdade foram fuzilados ou arrastados até as praças das cidades onde os comunistas identificavam aqueles que sofriam por eles. Os simpatizantes também foram presos, interrogados e deportados – ou coisa pior. A resistência organizada à ocupação acabou em 1953, mas a lembrança daquele tempo sobreviveu. Com essas memórias vivas, quando a janela de oportunidade de declarar a independência se abriu, não havia convencimento ou ameaça o suficiente para detê-la.
Trinta anos mais tarde, a Lituânia é um lugar bem diferente: ela tem mais liberdade, prosperidade e segurança do que jamais teve nos últimos 300 anos. Ela rejeitou a foice e o martelo e a economia planejada, derreteu estátuas de Lênin e as transformou em latas de Coca-Cola, e a situação não podia estar melhor.
Esse é o poder da liberdade.
Zilvinas Silenas se tornou presidente da Foundation for Economic Education (FEE) em maio de 2019.
© 2020 FEE. Publicado com permissão. Original em inglês
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