Vinte dias depois de a deputada Sâmia Bonfim, do PSOL, condenar corretamente a homenagem que o deputado estadual Frederico D´Ávila (PSL) queria fazer ao ditador chileno Augusto Pinochet na Assembleia Legislativa de São Paulo, foi a vez de o vereador carioca Leonel Brizola, também do PSOL, homenagear sanguinário ditador norte-coreano Kim Jong-un. O detalhe é que a homenagem a Pinochet foi cancelada, enquanto a homenagem a Kim Jong-un foi levada a cabo.
O vereador, neto do líder populista Leonel Brizola, o homem que destruiu o Rio de Janeiro, achou por bem celebrar as grandes realizações de Kim Jong-un com uma “moção de louvor e reconhecimento”, justificada “por todo o esforço do seu povo e de seu Máximo Dirigente, Excelentíssimo senhor Kim Jong-un, na luta pela reunificação da Coreia e a necessária busca da paz mundial”. Datada de 29 de novembro, a lisonja não faz menção ao possível uso do arsenal atômico para alcançar essa paz.
Os horrores do regime norte-coreano foram descritos em detalhes no livro Fuga do Campo 14, de Blaine Harden. É um relato tão assustador e revoltante que faz o clássico É Isto um Homem?, de Primo Levi, sobre os horrores do Holocausto, parecer uma simples história triste.
Em reconhecimento à ignorância histórica de parlamentares herdeiros de sobrenomes políticos, destacamos 10 fatos sobre o regime ditatorial comunista norte-coreano capazes de, quem sabe, fazer com que as pessoas que adoram ditadores troquem o louvor pelo repúdio a esses inegáveis assassinos.
1 200 mil presos em campos de concentração
“Alunos do ensino médio nos Estados Unidos se perguntam por que o presidente Franklin D. Roosevelt não bombardeou as ferrovias que levavam aos campos [de prisioneiros] de Hitler. (...) Seus filhos talvez se perguntarão, daqui a algum tempo, por que o Ocidente ficava olhando para as imagens de satélite dos campos de prisioneiros de Kim Jong Il sem fazer nada”.
Os campos de prisioneiros da Coreia do Norte não devem nada a Auschwitz. Trabalhos forçados, fome, frio, estupro e violência sumária, sem falar nas execuções, são a realidade para muitos norte-coreanos que cometeram o imperdoável crime de não se submeter totalmente ao regime comunista ou de nascerem numa família considerada de alguma forma subversiva.
Estima-se que até 200 mil pessoas ainda vivam nessas condições.
2 Centenas de milhares morreram de fome
Assim como aconteceu na Ucrânia sob o regime stalinista e na China da Revolução Cultural maoísta, na década de 1990, por causa do planejamento centralizado da agricultura e também como consequência do colapso da aliada União Soviética, centenas de milhares (ou milhões, dependendo da fonte) de norte-coreanos morreram de fome. De acordo com o Departamento Norte-americano do Censo, 600 mil pessoas morreram de fome entre 1994 e 1998.
Em 1995, a Coreia do Norte abdicou da sua intransigente política de autossuficiência e, diante da calamidade, pediu ajuda internacional. O problema é que boa parte dos alimentos, por causa da corrupção inerente ao regime comunista, não chegava às pessoas que mais precisavam. O resultado disso foi o surgimento de um próspero mercado negro.
3 Patrulhas fiscalizam o corte de cabelo das mulheres
O regime ditatorial norte-coreano está tão empenhado em desumanizar as pessoas e em impor padrões estabelecidos pela elite governante que as mulheres do país só podem usar 15 cortes de cabelos. Acredite, vereador Leonel Brizola: há unidades de inspeção que percorrem a rua à procura de mulheres que usam um corte de cabelo diferente dos aprovados, sobretudo entre os jovens “rebeldes”. Mechas coloridas também são proibidas, assim como saias consideradas “reveladoras demais”. As infratoras são interrogadas e, se forem reincidentes, podem ser enviadas para os campos de prisioneiros mantidos pela ditadura de Kim Jong-un.
4 País é uma monarquia comunista
Desde a revolução comunista iniciada por Kim Il-sung, o líder máximo do país, a Coreia do Norte se transformou no macabro parque de diversões da família. Kim Il-sung, avô do ditador atual, governou o país de 1948 a 1994. Kim Jong-Il, pai do atual autocrata, herdou o poder absoluto do pai e o exerceu até 2011, quando passou o controle do país ao filho Kim Jong-un – louvado por Leonel Brizola e o PSOL.
Coincidência ou não, Leonel Brizola Neto é a terceira geração de uma família de políticos de esquerda. Se avô, até hoje reverenciado pelo movimento trabalhista brasileiro, ficou conhecido por sua briga com Roberto Marinho, pelo exílio durante a ditadura, quando teria fugido do Brasil vestido de mulher, e pelas políticas educacional e habitacional de tendência populista.
5 País pune até a 3a geração dos "subversivos"
A Coreia do Norte é regida por um sistema jurídico extremamente cruel que não só prende as pessoas em campos de concentração (eufemisticamente chamados de “campos de reeducação”) como também pune até a terceira geração do infrator. Isso mesmo. Se você cometeu um crime de subversão qualquer, seu neto será punido por isso. E as punições vão desde a prisão até a impossibilidade de estudar e a restrição ao acesso a bens de consumo.
A ideia é conter uma possível contrarrevolução, impedir que as pessoas fujam do país ou cometam algum tipo de violência contra a elite governante.
6 Povo é alfabetizado para ser doutrinado
Nem tudo são trevas na Coreia do Norte. Pelo menos é isso o que o regime quer fazer crer. Kim Jong-un se orgulha, por exemplo, do nível de alfabetização de seus súditos. Reza a lenda que 99% da população norte-coreana é alfabetizada. Para Leonel Brizola Neto, talvez isso seja uma prova de que os CIEPs idealizados por seu avô teriam sido um sucesso – se vivêssemos sob um regime menos democrático, liderado pelos “esclarecidos”.
Mas o mais provável é que o número seja falso ou que o regime seja realmente bem-sucedido em usar o beabá para doutrinar as pessoas a ponto de fazê-las enxergarem os membros da dinastia de Kim Il-Sung como divindades.
7 Todos têm trabalho, mas não renda
Na Coreia do Norte, em teoria, há trabalho para todos. Também pudera: o país é o paraíso dos ludistas, isto é, daqueles que lutam contra qualquer tipo de tecnologia capaz de tirar postos de trabalho dos seres humanos. Até por isso, não há semáforos no país. O trânsito é controlado por obedientes guardas que usam assépticas luvas brancas. O tráfego que organizam, contudo, não é lá muito movimentado, porque os carros são privilégio da elite governante.
8 A morte é uma obsessão nacional
Os líderes norte-coreanos são obcecados pela morte. Não à toa, o mausoléu que guarda os restos mortais de Kim Il-Sung é o “ponto turístico” mais visitado do país – e ai de quem não fizer essa peregrinação! Mais revelador ainda dessa necrofilia é o fato de a Coreia do Norte ser o único país do mundo a, ainda hoje, promover execuções públicas no melhor estilo jacobino. Estamos em pleno século XXI, mas ainda hoje execuções públicas de traidores do regime costumam atrair plateias de até mil pessoas, principalmente no interior do país.
9 Fugir custa caro
Fugir deste “paraíso socialista” custa caro: US$12 mil em propinas e outras “taxas” pagas aos traficantes de gente. O valor torna a fuga (ou deserção, como eles preferem) praticamente impossível, uma vez que a renda per capita de um cidadão norte-coreano é de aproximadamente US$47 (cerca de R$200) por mês. A única forma de se conseguir essa pequena fortuna é por meio de um parente que já tenha conseguido desertar.
As principais rotas de fuga são as fronteiras fluviais que, evidentemente, são fortemente protegidas pelos agentes do Estado. Todo esse esforço para manter os norte-coreanos dentro do país é justificado. Afinal, quem iria correr o risco de morrer para fugir de um paraíso socialista, não é mesmo?
10 A Constituição garante democracia e liberdade
Algo que pode ter motivado o vereador Leonel Brizola a homenagear o ditador Kim Jong-un foi o fato de a Coreia do Norte ter uma Constituição extremamente democrática e liberal. Não é piada. A Constituição do país, promulgada em 1972, garante aos cidadãos eleições democráticas, liberdade de expressão, de imprensa, de reunião e de manifestação, liberdade religiosa, direito ao trabalho, lazer, educação e cuidados médicos, entre outras conquistas geralmente associadas ao mundo ocidental.
Mais uma prova de que o papel aceita qualquer coisa, de uma moção de louvor a um ditador do outro lado do mundo até um partido político que defende o socialismo e a liberdade.