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Levar um Tesla para o espaço é o melhor símbolo da grandeza americana

O Roadster, “passageiro” do foguete, é o primeiro carro enviado ao espaço– em uma promoção de alta tecnologia inventada por Elon Musk, que é dono da Tesla, montadora especializada em veículos elétricos, e da empresa de transporte espacial SpaceX | DivulgaçãoSpace X
O Roadster, “passageiro” do foguete, é o primeiro carro enviado ao espaço– em uma promoção de alta tecnologia inventada por Elon Musk, que é dono da Tesla, montadora especializada em veículos elétricos, e da empresa de transporte espacial SpaceX (Foto: DivulgaçãoSpace X)

Com Elon Musk e seu foguete SpaceX Falcon trovejando pelo céu essa semana, meu sonho se concretizou. 

Quando esse era um país real – o que quer dizer antes do Vietnã, quando os EUA eram um país grande e grandioso com bandeiras nacionais nas portas das casas, com mulheres bonitas e homens másculos, quando não existiam pessoas pobres – existia apenas um problema. Os russos. 

Em 1957, os russos colocaram um pequeno satélite em órbita e os americanos se apavoraram. Com nossos telefones compactos, pára-brisas arredondados nas laterais dos carros e torradeiras automáticas, achávamos que liderávamos a tecnologia mundial. Mas na verdade éramos a mais ignorante entre as nações. 

Rapidamente, alunos se inscreveram em aulas de russo. Eles faziam física e engenharia. Cientistas aprenderam muito com Sputnik sobre arrasto orbital e ionosfera, mas tudo o que queriam eram enviar um satélite nosso. Maior e melhor, é claro, mas tão inútil quando Sputnik. Utilidade não era a questão do momento. 

A questão era a grandeza. Para grandeza, você precisa de inutilidade. Qual é a utilidade da Estátua da Liberdade? Os EUA são o país que justifica a teoria do sociologista Thorstein Veblen do consumo ostentoso: a extravagância sem sentido dos riscos que evoca a inveja de outros ricos. Os EUA tinham um sonho maior que a utilidade. 

Logo enviávamos para o espaço foguetes com chimpanzés, úteis para descobrir se poderíamos enviar foguetes com humanos, o que por sua vez seria uma empreitada inútil. (Isso levou à recusa do lendário piloto de teste Chuck Yeager: "eu não quero pilotar algo se eu tiver que limpar meleca de macaco antes de entrar". Outros pilotos foram encontrados). 

O então presidente John F. Kennedy anunciou o maior e mais inútil lançamento espacial de todos – colocaríamos um homem na Lua. E fizemos isso. Então colocamos outro. E outros. Eles talvez não tivessem muito o que fazer. Um astronauta chamado Alan Shepard deu uma tacada em uma bola de golfe um dia. Ele disse que ela viajou "milhas e milhas". 

Shepard foi o que chegou mais perto de realizar o sonho que eu tinha para a viagem espacial americana, de uma grande grandeza fútil. 

Mas meu sonho era maior. Deixe que os russos façam seu experimentos laboratoriais no espaço, deixe eles contemplarem a essência do universo. Para mim e para meu país, eu tinha a visão que os russos nunca entenderiam, muito menos copiariam. Eu imaginava uma carga secreta, que seria colocada em órbitas intermináveis ao redor da Terra. Essa carga teria pneus com contornos brancos, uma espécie de cerca com luzes na frente e peças cromadas o suficiente para espelhar o mundo e todo seu absurdo – sim, um Buick Roadmaster. 

Naquela época, esse carro significava não só que se estava indo para algum lugar, como por exemplo o fim da história dos comunistas russos, mas que já tinha se chegado lá. Ao contrário de modelos estrangeiros que pareciam estar a 160 km/h enquanto estavam quase parados, o Buick Roadmaster parecia estar parado quando estava a 160 km/h. Era um carro definitivo. 

Elon Musk, que nasceu na África do Sul, é um americano real, um imigrante que entendeu meu sonho. Ele lançou um foguete gigante. A carga não era um Buick Roadmaster, mas um carro vermelho da sua empresa Tesla de cerca de US$ 100 mil. Ele então lançou o Tesla a uma jornada provavelmente infinita no cinturão de asteróides. Ele colocou um manequim vestido de astronauta chamado Starman (Homem das Estrelas) atrás do volante, com um dos braços apoiado na porta. Então ele mandou fotos da vista pelo pára-brisa, uma estrada para o infinito. E no painel, um lembrete de duas palavras em inglês. Para os russos, para nós, para Starman? 

"Don't Panic". Não entre em pânico. 

Meu sonho se tornou realidade.

Allen, ex-repórter do Washington Post ganhador do Pulitzer, é o autor, mais recentemente, de "Where We Lived - Essays on Places".

Tradução de Gisele Eberspächer

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