Em ‘Nunca É Hora de Parar’, David Goggins narra suas experiências e a de outros ícones da autodisciplina, como o “herói silencioso” William Crawford.| Foto: Unsplash/Verne Ho
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Considerado "o homem mais resistente do mundo", o ex-fuzileiro naval americano David Goggins ficou famoso por disputar provas de resistência como ultramaratonas e ultratriatlos.

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Com uma história de vida marcada por superações (foi um jovem pobre e deprimido antes de ingressar na carreira militar), ele decidiu contar suas experiências e a de outros ícones da autodisciplina em livros que rapidamente se tornaram best-sellers internacionais.

No trecho a seguir, extraído de 'Nunca É Hora de Parar' (editora Sextante), Goggins resgata o surpreendente caso de William John Crawford (1918-2000), um veterano da Segunda Guerra Mundial que ficou conhecido como "O herói sliencioso".

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A humildade é o antídoto contra sentir pena de si mesmo. Ela nos mantém com os pés firmes na realidade e regula nossas emoções.

Não estou dizendo que você deva se contentar com um emprego medíocre. Eu nunca me contento com nada, mas é preciso valorizar aquilo que temos sem abandonar a vontade de aprender o máximo possível.

Você precisa aprender a lavar pratos, grelhar hambúrgueres, suar em cima da fritadeira, varrer o salão, separar correspondências e atender o telefone. É assim que se constrói a proficiência. É importante aprender todos os aspectos de qualquer negócio antes de subir na carreira.

Ninguém evolui se permanecer amargurado para sempre, achando que merece algo melhor. A humildade nos torna mais corajosos e altivos, seguros de nós mesmos, não importa o que os outros pensem. E isso é extremamente valioso.

Veja a história do sargento-mor William Crawford. Em 1967, ele se aposentou e arrumou um emprego como zelador na Academia da Força Aérea em Colorado Springs.

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Os cadetes cuja bagunça ele limpava mal notavam a sua presença, em parte porque ele era extremamente tímido, mas também porque aqueles eram alunos de elite sendo preparados para se tornarem oficiais, e o sargento-mor Crawford não passava de um zelador.

Pelo menos era o que pensavam. Eles nem desconfiavam que ele também fosse um herói de guerra.

Em setembro de 1943, a 36ª Divisão da Infantaria estava sendo atacada com tiros de metralhadora e morteiros pelas forças alemãs durante uma batalha importante da Segunda Guerra Mundial, na disputa por um valioso território italiano chamado Colina 424.

Os americanos estavam encurralados, sem ter para onde fugir, até que Crawford notou três trincheiras de metralhadoras e foi se arrastando sob a chuva de balas para jogar uma granada dentro de cada uma.

Sua coragem salvou vidas e permitiu que sua companhia alcançasse um local seguro e, após a terceira granada explodir, os alemães abandonaram a Colina 424, mas levaram Crawford como prisioneiro.

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Todo mundo achou que ele tivesse morrido na batalha, e a história do seu heroísmo se espalhou entre os soldados e alcançou o alto escalão. Em 1944, ele recebeu a Medalha de Honra, a maior honraria das Forças Armadas americanas. Como ninguém imaginava que ele estivesse vivo, seu pai aceitou a medalha em seu nome.

Mais tarde no mesmo ano, ele foi encontrado em um campo de prisioneiros, sem nem imaginar que tinha se tornado famoso. Em 1976, um cadete da Academia e seu colega de quarto leram sobre a batalha e ligaram os pontos. O humilde zelador tinha ganhado a Medalha de Honra!

Dá para imaginar o que passou pela cabeça deles? A Medalha de Honra é um símbolo de tudo que um militar idolatra. Não pela medalha em si, mas pela coragem e pelo altruísmo da pessoa que ganhou a medalha.

Aqueles estudantes queriam ser iguais a ele, e lá estava Crawford, esfregando o chão e limpando o banheiro todos os dias. O sargento-mor era uma lição ambulante de autoestima, coragem, caráter e, principalmente, humildade.

Na minha opinião, o sargento-mor William Crawford sabia o que estava fazendo. A Medalha de Honra não o modificou em nada.

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Ele se destacou ao permanecer humilde e arriscar a própria vida para salvar as pessoas, depois se aposentou e continuou a serviço dos outros. Ele nunca era o foco da situação, e isso lhe deu força.

Pessoas que sentem pena de si mesmas são obcecadas pelos próprios problemas e pelo próprio destino. Elas são mesmo tão diferentes assim de quem é ganancioso e egoísta e deseja se sentir melhor do que todo mundo?

Quanto mais cresço na vida, mais percebo quanto preciso limpar o chão. Porque é ali que está todo o conhecimento. Não há garra no topo, não há como colocar sua determinação à prova enquanto você janta um filé, hospeda-se em hotéis cinco estrelas e faz tratamentos num spa.

Neste mundo, assim que você vence na vida, precisa se jogar de volta no fundo do poço para continuar aprendendo e crescendo de alguma forma. Chamo isso de "humildade treinada". É uma forma de se soltar de si mesmo e partir em uma missão que ninguém mais enxerga, fazendo tudo que for necessário.

Humildade treinada é serviço, mas também é força. Porque, quando somos humildes o suficiente para entendermos que nunca saberemos tudo, toda lição que aprendemos só nos torna mais ávidos por aprender mais, e isso nos coloca em um caminho que garante que vamos crescer até morrer.

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Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]