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Capitalismo

A força que impulsiona o livre mercado é a empatia, não a ganância

No capitalismo o autointeresse é limitado porque somente o empreendedor que dá prioridade às necessidades alheias é que consegue ser bem-sucedido.
No capitalismo o autointeresse é limitado porque somente o empreendedor que dá prioridade às necessidades alheias é que consegue ser bem-sucedido. (Foto: Pixabay)

Tanto capitalistas quanto anticapitalistas geralmente acusam o capitalismo de ser um sistema impulsionado pelo egoísmo e ganância. Os defensores do capitalismo às vezes dizem: “Por natureza, o homem é egoísta, e é por isso que o socialismo jamais dará certo. O capitalismo reflete melhor as características fundamentais da natureza humana”. Anticapitalistas dizem que o capitalismo promove as piores características do homem, sobretudo a ganância.

Mas será que a ganância e o egoísmo desmedido são mesmo as forças por trás do capitalismo? O autointeresse humano é uma – mas não a única – força impulsionadora de todas as ações humanas. Mas isso não tem nada a ver com um sistema econômico específico. Trata-se de uma constante antropológica. No capitalismo, contudo, esse autointeresse é limitado porque somente o empreendedor que dá prioridade às necessidades alheias é que consegue ser bem-sucedido.

Os empreendedores de sucesso demonstram empatia

Há vários indícios que sugerem que a empatia, e não a ganância, é a força propulsora do capitalismo. A empatia é a capacidade de reconhecer e compreender os sentimentos e as motivações das outras pessoas – e é a característica mais importante dos empresários de sucesso.

Pegue Steve Jobs, por exemplo. Ele inventou o iPhone e outros problemas porque entendia as necessidades e desejos dos consumidores melhor do que qualquer outra pessoa.

O mesmo se aplica a Mark Zuckerberg, hoje um dos homens mais ricos do mundo. Ele criou o Facebook porque percebeu melhor do que outros empresários o que as pessoas queriam. Como aconteceu com todos os empresários bem-sucedidos, foram os consumidores que tornaram Steve Jobs e Mark Zuckerberg tão ricos.

Durante anos, os irmãos Albrecht foram os mais ricos da Alemanha. A fortuna deles vinha da empresa de alimentos Aldi, fundada para oferecer produtos de alta qualidade a preços razoáveis. Essa foi a mesma receita do sucesso usada por Sam Walton, fundador do Walmart, que figura há tempos na lista das pessoas mais ricas dos Estados Unidos.

As decisões dos consumidores confirmam que Jobs, Zuckerberg, os irmãos Albrecht e Sam Walton entenderam os desejos, necessidades e sentimentos dos seus consumidores.

O mercado castiga empreendedores autocentrados

Claro que, no sistema capitalista, há também exemplos de empresas que agiram gananciosamente e perderam de vista os desejos e necessidades dos consumidores.

Um exemplo disso é o Deutsche Bank, que tem enfrentado milhares de processos. Tais empresas são castigadas no capitalismo não só pelo judiciário, mas sobretudo pelo mercado. O Deutsche Bank perdeu sua posição como um dos principais bancos do mundo porque pôs os interesses dos seus banqueiros acima dos interesses dos clientes e acionistas.

O ativo mais importante de uma empresa é sua imagem e as empresas que se comportam como o Deutsche Bank acabam causando um dano enorme à sua imagem e reputação; seus clientes perdem a confiança e correm para os concorrentes.

Nos sistemas socialistas, por outro lado, os consumidores não têm poder e ficam à mercê das empresas estatais. Se uma empresa estatal desconsidera as necessidades dos consumidores, eles não têm a quem recorrer porque no socialismo não existe concorrência.

No capitalismo, os consumidores podem castigas e castigam empresas que se comportam egoisticamente e perdem de vista as necessidades dos seus consumidores. Todos os dias, os consumidores votam na empresa usando seus bolsos – comprando ou não seus produtos.

E quanto aos monopólios?

No capitalismo, os monopólios são um fenômeno temporário. Até mesmo empresas que parecem onipotentes acabam superadas por concorrentes quando exageram no seu poder e perdem de vista as necessidades dos consumidores.

Desde que o capitalismo surgiu, anticapitalistas criticam a tendência inerente do sistema de criar monopólios. Há mais de cem anos, Lênin escreveu que o imperialismo e o capitalismo monopolista são os últimos estágios do capitalismo. Mas os monopólios que ele criticava na época não existem mais. Até mesmo empresas que parecem onipotentes hoje em dia, como o Google ou o Facebook, não manterão seu poder para sempre. Outras empresas e jovens empresários ambiciosos aproveitarão a oportunidade assim que o Google ou o Facebook começarem a agir com ganância.

O estranho é que os socialistas que criticam o capitalismo por sua tendência a formar monopólios defendem empresas estatais. Afinal, o Estado é o maior monopolista de todos, com sua capacidade de abusar brutalmente das necessidades e desejos de seus cidadãos por meio da coerção e deixando de oferecer alternativas ao consumidor.

Em resumo

As pessoas e empresas buscam satisfazer seu autointeresse em todas as sociedades. Essa não é uma característica específica do capitalismo.

No capitalismo, porém, somente os empreendedores e empresas que dão prioridade aos interesses dos consumidores, e não ao interesse próprio, é que serão bem-sucedidos no longo prazo. Empresas que não conseguem entender e respeitar o que os consumidores querem perderam participação no mercado e podem até desaparecer completamente à medida que são superadas por outras empresas que entendem melhor as necessidades de seus consumidores.

Empatia, a capacidade de reconhecer os desejos e necessidades dos outros, é a base real do capitalismo – não a ganância desenfreada e o egoísmo.

Dr. Rainer Zitelmann é historiador e sociólogo.

© 2019 FEE. Publicado com permissão. Original em inglês

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