Pessoas observam o Zepelim LZ 127.| Foto: Grombo/Wikimedia Commons

Você já parou para pensar que algumas coisas que adoramos, como o carro e o refrigerante, na verdade estão entre as piores criações já realizadas pela humanidade?

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Para o jornalista e escritor britânico Eric Chaline, autor de “As Piores Invenções da História – e os Culpados por Elas”, esses dois itens que estão por toda parte na vida contemporânea figuram entre 50 coisas que podem ser consideradas as “piores invenções” em diferentes sentidos. A reportagem selecionou 8 delas.

Por terem fracassado, como foi o caso do zepelim.

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Por terem causado consequências imprevistas, como os congestionamentos e poluição relacionadas ao motor de combustão interna.

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Por não servirem para nada a não ser nos envaidecerem ou nos fazerem de bobos – como os saltos altos e as terapias milagrosas.

Ou por terem sido originalmente projetadas para servirem aos piores propósitos mesmo, como as armas biológicas, químicas e a bomba atômica.

Como qualquer seleção desta natureza, “As Piores Invenções da História” inclui criações que alguns considerarão injustiçadas.

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Revolução

Até a guerra, Chaline admite, melhorou de alguma forma o destino da humanidade impelindo “o desenvolvimento econômico e tecnológico da Europa do Renascimento ao fim da Segunda Guerra Mundial”, e as armas de fogo estimularam “o progresso da química e da metalurgia, duas das indústrias que dariam ao Ocidente a supremacia durante a Revolução Industrial.”

Outras invenções que não foram citadas parecerão muito piores que as perucas do Antigo Regime da França ou o karaokê, por exemplo.

Mas Chaline consegue, com uma escrita bem-humorada e um senso crítico sofisticado, lembrar que convivemos com algumas invenções prejudiciais sem nos preocuparmos muito com isso. Abaixo, selecionamos oito das mais curiosas e oportunas.

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1. Carro voador

Junto com o carro a vapor e os veículos híbridos humano-elétricos, o carro voador está entre os fracassos ligados ao transporte – um dos principais grupos de invenções do livro. Diferentes inventores criaram seus protótipos – incluindo o equivalente voador do Modelo T de Henry Ford (1863-1947), o Sky Flivver, cujo projeto foi abandonado em 1928 quando o piloto morreu num voo de teste. Outros tiveram o mesmo destino trágico, como o AVE Mizar, que caiu e matou o inventor Henry Smolinski e seu piloto, em 1973. Os que se tornaram sucessos técnicos, como o Transition, da Terrafugia, são caros e esbarram em dificuldades de regulação. É uma invenção que está no imaginário, mas que dificilmente vai decolar, de acordo com Chaline.

 

2. Plástico

Muito depois da era das sacolinhas descartáveis, que dá sinais de que está chegando ao fim, o legado do saco plástico vai continuar assombrando a humanidade. Ele é desdobramento da invenção do polietileno pelo químico alemão Hans von Pechmann (1850-1902), em 1898. O plástico começou a ser produzido comercialmente em 1939. Só recentemente seus refugos começaram a ser coletados; o restante das centenas de milhões de toneladas produzidas anualmente foram parar no mar, dando origem à “Grande Ilha de Lixo do Pacífico”, que tem dimensão estimada entre 700 mil e 15 milhões de quilômetros quadrados.

Karaokê em Hamburgo, na Alemanha. 

3. Karaokê

Procurado para gravar uma fita de acompanhamento musical para uma excursão a um resort de fontes termais, o músico Daisuke Inoue, da cidade japonesa de Kobe, inventou uma máquina de playback que consistia em um aparelho de som de carro, um amplificador e uma chave operada por uma moeda. A invenção se tornou sucesso e se espalhou pelo Japão, chegando ao Ocidente em 1999. Inoue não chegou a patentear a invenção, mas foi reconhecido pelo prêmio-gozação “Ig Nobel”, da Universidade de Harvard. A comissão, que incluiu ganhadores reais do Nobel, disse que o inventor criou “uma forma inteiramente diferente de as pessoas aprenderem a se tolerar mutuamente.”

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Serge Abrahamovitch Voronoff (1866-1951). 

4. Xenotransplantes de testículos

Dentre os curandeirismos e terapias milagrosas oferecidos por inúmeros charlatães na história, um dos tratamentos mais estranhos visando o rejuvenescimento e a potência sexual foi do médico russo Serge Voronoff (1866-1951). Ele começou transplantando tireoides de chimpanzés para pacientes humanos com deficiência desta glândula. Depois, teve a ideia de “transplantar os testículos de criminosos guilhotinados para os escrotos de pacientes ricos, alegando que eles rejuvenesceriam a aumentariam sua potência sexual”. Mais tarde, sem estoque de glândulas humanas, lançou mão de testículos de macacos – o xenotransplante. Os resultados se limitaram a efeito placebo, já que os implantes foram destruídos pelo organismo dos humanos que os receberam.

5. Crinolina

É uma espécie de saia-balão de grande diâmetro que se tornou popular entre as mulheres do século 19. Não tinha nenhuma razão prática além da vaidade, mas podia causar danos consideráveis – especialmente se quem a estivesse vestindo entrasse em uma fábrica de vidros ou porcelanas, por exemplo. A usuária da crinolina, além de ficar presa ao descer de carruagens devido à armação da saia, saía arrastando ornamentos e peças de mobília pelas salas vitorianas. Chegando a medir 180 centímetros de diâmetro, as saias ainda podiam subir com rajadas de vento e se prendiam no alto da usuária no caso de uma queda. O mais sério é que as crinolinas ainda eram feitas de tecidos inflamáveis e usadas com o espartilho – que, de tão apertado, tornava as mulheres suscetíveis a hiperventilação e desmaios.

 
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6. Vigilância e fiscalização de trânsito

O autor lembra que a instalação de radares, por exemplo, reduziu a velocidade e as infrações de trânsito, diminuindo o número de mortos e feridos. Nas cidades, as câmeras de segurança vêm dando às pessoas uma maior sensação de segurança. Mas há um efeito controverso destes sistemas: “Juntos, fornecem um arsenal de vigilância formidável para o Estado e empresas privadas, permitindo que rastreiem aonde vamos e o que fazemos”.

 

7. Bolhas e hipotecas subprime

Tratam-se de invenções de mercado financeiro bem distantes na história – indício de que os seres humanos nem sempre aprendem com os erros do passado, conforme lembra Chaline. O primeiro esquema de enriquecimento rápido que causou a uma bolha econômica aconteceu nos Países Baixos entre 1636-37. O alvo da febre especulativa foram as tulipas, cujos bulbos chegaram a valores estratosféricos para logo despencarem com o estouro da bolha e levarem junto investidores, bancos e toda a economia holandesa. “Outras bolhas notáveis incluíram a do mercado de ações que estourou em 1929, a dos ativos japonesa dos anos 1980, a das empresas pontocom da década de 1990 e a recente bolha imobiliária no Reino Unido e nos Estados Unidos” – esta, que envolveu endividamentos com as hipotecas subprime, um destes produtos financeiros que são tão complexos “que nem seus criadores entendem direito”.

 

8. Pena de morte

Diz o livro bíblico de Ester que foi Hamã, vizir de um rei persa, quem inventou a primeira forca. Mas ele mesmo acabou sendo pendurado nela, junto com dez filhos. Chaline lembra que outros métodos de execução (alguns terríveis) foram inventados depois, como a guilhotina do doutor Joseph-Ignace Guillotin (foto), na época da Revolução Francesa, e a cadeira elétrica e a injeção letal nos Estados Unidos – estes, métodos pretensamente mais “humanos”. Mas Chaline lembra que a pena de morte, além de ser considerada uma punição “cruel e incomum”, tem o grave problema de ser irreversível. “Houve 39 casos conhecidos, nos Estados Unidos” de execuções realizadas apesar das sérias dúvidas sobre a culpa da vítima. No Reino Unido, quatro pessoas executadas entre 1950 e 1953 foram postumamente inocentadas ou perdoadas.”

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