O que fazemos quando achamos que ninguém está olhando? São muitos os guilty pleasures possíveis: talvez sejam as músicas de alguma estrela pop, os intermináveis vídeos do Youtube ou ainda os perfis que acompanhamos nas redes sociais.
Mas essa pergunta talvez perca em breve seu sentido, pelo menos no que envolve nossos hábitos com computadores e celulares. O matemático americano Christian Rudder mostra em seu livro “Dataclisma – Quem somos (quando achamos que ninguém está vendo)” que alguém sempre está vendo e como os nossos cliques rapidamente entram em um grande fluxo de dados registrados na nuvem.
Rudder, cofundador do site de relacionamentos americano OkCupid, viu nesses terabytes de dados uma oportunidade para um estudo sociológico. O que o comportamento das pessoas na rede pode dizer da nossa época?
“Quando daqui a dez, vinte, cem anos, se alguém quiser saber como foram esses tempos e entender as mudanças dentro dessa história, os dados do Facebook, Twitter, Reddit e similares, estarão abrangendo até as suas entranhas. E se não for assim, este autor terá fracassado”, escreve.
Leia também: 6 questões para entender o “vazamento” de dados do Facebook
Racismo
Um dos resultados mostrados pela pesquisa é a questão do racismo. Apesar de muitos americanos não se considerarem racistas quando perguntados diretamente, a interação entre brancos e negros no site de relacionamento OkCupid é bastante baixa. O que os dados mostram é uma disparidade entre o que as pessoas assumem em voz alta e o que de fato fazem.
Aliás, um dos pontos interessantes do livro é exatamente o interesse de Rudder pela descrição de fatos, sem medo do tema. Tanto o racismo como questões de gênero são abordadas com números e tabelas, mas sem tabus.
Dilúvio de dados
A pesquisa do americano mostra como o Dataclisma (neologismo que faz referência ao cataclisma bíblico) pode mudar a maneira com a qual se entende o mundo e a humanidade – e como isso é registrado. Os dados usados no livro são majoritariamente do site do autor (o OkCupid), com menções de pesquisas do Google, Twitter, Facebook e outras redes, e mostram interações e ações espontâneas de milhões de pessoas comuns. Nunca antes se teve uma visão tão panorâmica da vida humana, e a internet está apenas começando.
Essa inundação de dados cria possibilidades para o uso de técnicas matemáticas e estatísticas para reconhecimento de padrões de comportamento, dados que são usados por empresas e governo para diversos fins, como promover o consumo ou aumentar a vigilância e a manipulação. Mas existe ainda outra possibilidade: uma maior compreensão da vida humana.
Leia também: Robôs vão nos liberar dos trabalhos tediosos, diz autor
Ainda que o projeto de Rudder seja interessante, o livro tem também seus problemas. Mas o principal é a falta de uma estrutura no livro, que não segue uma linha de raciocínio ou objetivo claros, com diferentes capítulos esgotando seus temas sem criar uma narrativa maior.
Sites precisam transformar a experiência do usuário em dados que podem ser interpretados por máquinas. Rudder transforma as métricas em algo que pode ser interpretado por pessoas.
“Quem Somos — (Quando achamos que ninguém está vendo). 304 págs. Ed. Best Seller, R$ 52,90
Bolsonaro e mais 36 indiciados por suposto golpe de Estado: quais são os próximos passos do caso
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
A gestão pública, um pouco menos engessada
Projeto petista para criminalizar “fake news” é similar à Lei de Imprensa da ditadura
Deixe sua opinião