O presidente americano Donald Trump e o presidente francês Emmanuel Macron não parecem destinados a serem amigos.
Em apenas alguns meses, os dois discordaram em vários assuntos. Os comentários de Macron depois de um aperto de mãos entre eles em maio irritou tanto o Trump que aparentemente foi ali que ele selou sua decisão de sair do acordo climático de Paris.
Durante as campanhas eleitorais francesas, Macron teve apoio do ex-presidente americano Barack Obama, enquanto sua oponente de extrema direita, Marine Le Pen, se via como aliada da Casa Branca de Trump.
Macron e Trump têm ideologias muito distantes. A defesa animada de Macron do projeto europeu e sua luta engajada contra a mudança climática batem de frente com o ultranacionalismo e o ceticismo climático de Trump. Ao contrário dos cartazes de "EUA primeiro" da Casa Branca, o jovem Macron, um ex-banqueiro que atuou como ministro da fazenda no último governo de centro-esquerda na França, é o filho de uma elite globalista.
Mas durante o encontro em Paris nesta sexta-feira (14) para as celebrações da Festa Nacional Francesa, Trump teve várias razões para se sentir melancólico – e não só por assistir uma parada militar que ele não conseguiu promover quando assumiu o governo.
Espelho
A ascensão de Macron e Trump eram quase imagens espelhadas. Eles eram candidatos independentes com uma campanha que prometia uma renovação nacional em um momento em que seus países se afligiam com o status quo.
"Os dois são figuras de fora que captaram a raiva antissistema, fizeram campanha contra as falhas partidárias, eram candidatos de primeira viagem e tinham experiências com o mundo dos negócios", diz Benjamin Haddad, um pesquisador da política europeia e transatlântica no Instituto Hudson.
Mas Macron ganhou o mandato forte que escapou de Trump. A vitória do presidente francês foi seguida de uma grande vitória parlamentar para a nova república do partido En Marche!. Macron assegurou uma maioria na Assembleia Nacional, retirando partidos mais tradicionais e criando uma plataforma surpreendente para assegurar seu poder e consolidar seus planos.
"Muitas vezes isso se perde na conversa por ter vindo depois da vitória dele, mas eu acho que a vitória parlamentar é mais surpreendente e transformadora do que a presidencial", diz Haddad.
"Imagine que Trump concorrendo não só como independente, mas que também seus candidatos em todo o país tivessem sido eleitos e conseguissem a maioria no Congresso".
Em contraste, Trump passa de crise para crise. Sua agenda legislativa está estagnada, graças a desavenças dentro do seu próprio partido, e se especula por quanto tempo os republicanos ficarão ao seu lado. Ele se mantém com uma impopularidade histórica e está fazendo pouco para reverter isso. O bom momento que ele desfrutou quando assumiu o cargo já desapareceu do mapa.
Pronto para a briga
É claro, Macron ainda tem uma grande montanha para superar em casa. Depois de ter encantado todos na campanha, ele adotou uma postura mais fria no poder. Seu governo buscou ações legais para parar vazamentos, espalhando reprovações da mídia francesa. Ele cancelou a entrevista típica do dia da Festa Nacional Francesa. As reformas trabalhistas que planeja podem provocar conflitos acalorados com sindicatos poderosos.
Mas Macron parece mais pronto para a briga que sua contraparte americana. Ele ainda pode falar de forma plausível sobre transformar a França em um país de "start-ups" para incentivar a inovação, tema mencionado brevemente por Ivanka Trump, filha do presidente, e seu marido, Jared Kushner. Macron apoiou seus interesses revigorando a França com um ótimo talento tecnocrático. É um grande contraste com o caos da Casa Branca, que se contorce no meio de várias controvérsias ao redor dos membros da família do presidente, que segundo muitos não deveriam estar tão perto dos corredores do governo.
Parceria
A visita a Paris se mostra como uma distração para Trump, permitindo que ele discuta cooperação contra o terrorismo e veja a amostra anual do esplendor militar francês.
"É o centésimo aniversário da entrada dos EUA na Primeira Guerra Mundial – é um símbolo muito bonito", disse François Heisbourg, ex-Conselheiro de Segurança Nacional da França nos governos de Nicolas Sarkozy e François Hollande, para meus colegas Jenna Johnson e James McAuley. "É um lembrete para Trump e para os franceses que há um século de história transatlântica aqui, o que é uma história muito forte".
Muitos líderes da Europa Ocidental censuraram Trump pela suposta apatia dele por instituições que firmam a aliança transatlântica. Mas Macron pode tentar usar as 27 horas de presença do presidente na capital francesa para trazê-lo de volta.
"Não queremos que Trump se isole", disse um dos conselheiros de Macron para o site Politico. "Nosso papel é tentar restringi-lo".
"Trump criticou repetidamente o comércio de Berlim e os excedentes das contas correntes", observou Nicholas Vinocur, do Politico. "O que deixa Macron - que também criticou a posição comercial da Alemanha e que prometeu elevar os gastos da defesa francesa de acordo com a meta da OTAN, que é de 2% do produto interno bruto - como o parceiro de dança óbvio para os EUA enquanto o Trump está na Europa".
"Parece que Macron quer emergir como líder de uma Europa que assume sua autonomia e que quer falar com Washington como igual", diz Haddad. Desacordos profundos podem não ser resolvidos nesta sexta-feira, mas o presidente francês vai evitar confrontos e vai tentar construir "uma parceria construtiva".
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