Autoridades de saúde pública e líderes empresariais como Bill Gates há muito tempo alertam que o mundo não está pronto para a próxima pandemia.
Agora, uma iniciativa liderada por Tom Frieden, ex-diretor dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), agência do Departamento de Saúde dos Estados Unidos, desenvolveu uma ferramenta que revela lacunas na preparação e ações que países e organizações podem tomar para fechá-las. O novo site, PreventEpidemics.org, fornece uma pontuação individual para cada país e usa códigos de cores para classificar o mundo em cinco níveis de preparo.
"Isto nos diz onde estão as lacunas e o que precisa ser feito", disse Frieden, executivo-chefe da Resolve to Save Lives, parte da Vital Strategies, uma organização sem fins lucrativos de saúde pública sediada em Nova York.
As doenças infecciosas podem se espalhar de uma aldeia para qualquer país do mundo em cerca de 36 horas. Em média, existem 100 surtos por dia em todo o mundo. Mas o site mostra que a maioria dos países ainda não tomou as medidas necessárias para se preparar para esse risco.
As lacunas incluem a falta de sistemas de monitoramento que podem detectar relatórios de saúde incomuns de clínicas locais ou insuficiência de detetives de doenças treinados que podem se posicionar rapidamente quando uma nova ameaça à saúde é relatada.
Dados escondidos
A pontuação, de 0 a 100, baseia-se em dados existentes de avaliações de prontidão epidemiológica desenvolvidas pela Organização Mundial de Saúde após a epidemia de Ebola de 2014. Essas avaliações estão em andamento desde 2016, mas os dados contidos nelas, embora públicos, são difíceis de encontrar.
Monitoramento independente e regular do risco de epidemia e pandemia é fundamental para manter as ameaças biológicas na agenda dos líderes políticos globais, dizem os especialistas.
Tom Inglesby, diretor do Centro Johns Hopkins para a Segurança da Saúde, disse que a ferramenta "esclarece melhor" os resultados dessas avaliações de uma forma que pode "ajudar a manter a atenção de líderes políticos e doadores". As lacunas identificadas serão fáceis para os doadores entenderem e abordarem, disse ele.
Leia também: Resultados de testes de DNA viram espetáculo
Autoridades globais de saúde dizem que é mais importante do que nunca que surtos de doenças sejam interrompidos antes que se tornem epidemias completas. Nos Estados Unidos, muitos especialistas estão preocupados com o compromisso do governo Trump em manter altos níveis de financiamento para os esforços do CDC de combater as ameaças de doenças infecciosas como parte de sua iniciativa global de segurança sanitária.
Avaliações
Apenas 430 milhões de pessoas, ou 6% da população mundial, vivem nos países considerados mais bem preparados para prevenir epidemias, de acordo com suas pontuações. (Eles incluem Austrália, Bélgica, Finlândia, Omã, Coreia do Sul, Eslovênia, Emirados Árabes Unidos e Estados Unidos.) Embora esses países, destacados em verde, tenham notas acima de 80, nenhum país completou todas as etapas recomendadas, incluindo a elaboração de um plano para abordar lacunas no financiamento e implementação do plano.
Mas mais de 60% dos países, representando quase 5 bilhões de pessoas, não se ofereceram para conduzir essas avaliações de preparo para epidemias, são eles a maior parte da Europa, Rússia, China, Índia e praticamente toda a América do Sul - incluindo o Brasil.
De todos os continentes, a África lidera o mundo em termos do número de países que completaram estas avaliações. Mas a maioria desses países, destacados em vermelho e amarelo no site PreventEpidemics, não estão prontos (vermelhos), ou têm trabalho para fazer (amarelo), para se preparar para a próxima epidemia. Cinza claro significa que uma avaliação está em andamento, sem dados disponíveis; e cinza escuro é desconhecido.
Até o final do ano, 100 países terão passado por essa avaliação rigorosa, o que, segundo Frieden, é uma conquista real e indica o compromisso dos países em melhorar.
"O progresso em avaliar essas lacunas tem sido excelente", disse ele. "O progresso em consertá-las, não tanto."
A Nigéria, que tem combatido surtos de febre amarela, varíola e vírus Lassa, que podem causar uma febre hemorrágica letal parecida com o Ebola, é um dos países identificados pelo PreventEpidemics como não prontos. O grupo de Frieden está ajudando a Nigéria a melhorar sua vigilância de doenças, fornecendo laptops e funcionários ao ministério da saúde para que sua equipe de detecção obtenha melhores dados.