Mais de 60% das mulheres que fizeram aborto relatam altos níveis de pressão externa para tirar a vida de seus bebês. Entre aquelas que se admitiram pressionadas a abortar por seus parceiros, familiares ou outras pessoas e circunstâncias, também são mais altos os níveis posteriores de problemas ligados à saúde mental e à qualidade de vida. É o que aponta um estudo norte-americano revisado por pares, publicado no fim de janeiro na revista médica Cureus. Realizado pelo Lozier Institute, um instituto de pesquisa e educação pró-vida dos Estados Unidos, o estudo “Efeitos da pressão para abortar nas respostas emocionais e na saúde mental das mulheres” ouviu mil mulheres residentes no país, com idades entre 41 e 45 anos.
“O aborto não empodera as mulheres. Muito pelo contrário, a indústria do aborto permite e dá apoio àqueles que buscam controlar as mulheres. Essa coerção pode ter repercussões duradouras na saúde mental, e agora que o FDA [agência sanitária dos EUA] permite que a pílula abortiva seja distribuída sem que a mulher vá ao médico, o problema de coerção da indústria do aborto só deve piorar”, lamenta a coautora do estudo Tessa Longbons, pesquisadora associada sênior do Lozier Institute.
O recorte etário da pesquisa foi determinado para “capturar a experiência de mulheres que completaram a maior parte de suas vidas reprodutivas”, justifica o estudo. As respondentes foram voluntárias cadastradas na plataforma Cint, que conta com uma base de 28 milhões de moradores dos EUA, além de pessoas de todas as partes do planeta. O critério de seleção dos pesquisadores era obter mil formulários totalmente preenchidos. Antes de saber o tema, os participantes precisavam completar pelo menos uma página de informações básicas.
Das 1.039 entrevistadas qualificadas na faixa etária analisada pelo estudo, 39 não conseguiram concluir a pesquisa, sendo que 22 das que desistiram de terminar de responder relataram histórico de aborto. Das mil pesquisas finalizadas, 226 mulheres disseram ter feito pelo menos um aborto. Desse montante, 61% “relataram sentir um alto nível de pressão para abortar em pelo menos uma escala”.
Entre as escalas apontadas pela pesquisa estavam fatores interpessoais (parceiro, família e outras pessoas), financeiros e outras circunstâncias não especificadas, sendo que esta última foi a mais frequentemente apontada pelas pesquisadas. Boa parte delas também afirmaram ter sentido pressão de mais de uma pessoa. Já as preocupações financeiras tiveram peso menor, crescendo significativamente quando correlacionadas à pressão de pessoas.
“Dado que esta categoria aberta teve a intensidade média mais alta, isso sugere que há vários tipos adicionais de pressão que são mais importantes na decisão de aborto de muitas mulheres. Esforços de pesquisa futuros devem incorporar escalas mais detalhadas que examinem todas as muitas razões pelas quais as mulheres escolhem o aborto, incluindo questões de saúde para si mesmas ou para malformação fetal, já ter atingido suas metas de tamanho familiar, além de instabilidade no relacionamento com o parceiro masculino”, analisam os pesquisadores.
Sequelas emocionais
As mulheres com histórico de aborto também tiveram quatro vezes mais risco de desistir da pesquisa do que aquelas que não abortaram. “Entre as que responderam à pesquisa, aquelas que relataram se sentir pressionadas a abortar experimentaram mais estresse ao responder do que aquelas que enfrentaram pouca ou nenhuma pressão para abortar”, afirma o estudo.
Para os autores, a descoberta evidencia um provável viés de seleção de fontes nesse tipo de estudo, resultado da menor participação de mulheres que foram pressionadas a abortar e, portanto, têm maior probabilidade de reações negativas ao tema. “É por isso que as pesquisas sobre o aborto sempre subestimam os resultados negativos. São precisamente as mulheres que sentem as emoções mais negativas que provavelmente não querem falar sobre isso”, acentua o médico David Reardon, autor principal da pesquisa e diretor do Elliot Institute (que trabalha temas relacionadas aos efeitos da eugenia, aborto, controle populacional e práticas sexuais).
Além dos níveis aumentados de estresse ao falar sobre o aborto, mulheres que abortaram sob pressão relataram graus significativos de emoções negativas decorrentes do aborto; sentimentos frequentes de perda, pesar, tristeza e conflito moral; interferência na vida diária, nos relacionamentos e no trabalho; recorrência de pensamentos intrusivos, como sonhos e flashbacks do aborto.
O estudo pontua que a coleta de informações aprofundadas sobre tipos e graus de pressão sofrido pelas grávidas poderia conduzir a um melhor aconselhamento anterior ao aborto. Reardon ressalta que não há como clínicas de aborto alegarem ser pró-mulher e, ao mesmo tempo, permitirem que a maioria deleas sejam pressionadas a fazer abortos. “Em um país dilacerado pelo debate político sobre o aborto, certamente essas descobertas ressaltam um ponto sobre o qual todos devemos concordar. Nenhuma mulher deve se sentir pressionada a aceitar um aborto indesejado. Claramente, as clínicas de aborto precisam fornecer melhor triagem e aconselhamento pré-aborto para evitar abortos inseguros e indesejados”, defende.
Ressalvas
Com 22,6% das respondentes relatando histórico de aborto, segundo o Lozier Institute a pesquisa se alinha a estimativas nacionais de mulheres americanas que farão abortos durante a vida. Os autores acrescentam, no entanto, que a amostra obtida por eles podem sub-representar mulheres de baixa renda e escolaridade, além de grupos minoritários, em comparação com taxas de aborto relatadas nacionalmente. “Portanto, deve-se ter cuidado ao tirar conclusões sobre a frequência real de mulheres que se sentem pressionadas a abortar na população em geral. Por outro lado, é altamente provável que as correlações entre os tipos de pressão identificados e as variáveis de resultado negativo utilizadas em nosso estudo se apliquem à população geral de mulheres que sofreram aborto”, relata a pesquisa.
Outra fraqueza, na avaliação dos pesquisadores, é que os resultados levam em conta apenas a autopercepção das mulheres, sem diagnósticos psiquiátricos ou escalas psicométricas.