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Sidônio Palmeira

Marqueteiro de Lula declara guerra aos memes e elogia modelo chinês

Lula e Sidônio Palmeira no lançamento do livro ‘Brasil da Esperança: o Marketing nas Eleições Mais Importantes da História do País’.
Lula e Sidônio Palmeira no lançamento do livro ‘Brasil da Esperança: o Marketing nas Eleições Mais Importantes da História do País’. (Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República)

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Sidônio Palmeira não gosta de ser chamado de “marqueteiro” – prefere “publicitário”. 

“’Marqueteiro’ dá a impressão que o cara faz apenas para ganhar dinheiro, que pega uma coisa ruim e transforma em coisa boa. Só trabalho com quem acredito”, costuma dizer o baiano de 65 anos. 

Responsável pela campanha de Lula em 2022, Palmeira não encerrou sua parceria com o Partido dos Trabalhadores após as eleições. Pelo contrário. Mesmo sem um cargo no governo, tornou-se um dos principais conselheiros do presidente e de vários ministros, especialmente os filiados ao PT.

Segundo um levantamento realizado pelo jornal O Tempo, ele foi visto no Palácio do Planalto pelo menos 30 vezes entre o início da gestão e o último mês de abril – e em somente sete ocasiões seu nome constou da agenda oficial.

Esse prestígio foi confirmado no final de agosto, quando Sidônio lançou em Brasília o livro ‘Brasil da Esperança: o Marketing nas Eleições Mais Importantes da História do País’, que traz registros das peças publicitárias produzidas para a campanha de dois anos atrás. 

Realizado no Museu Nacional, o evento contou com a presença do próprio Lula, do vice-presidente Geraldo Alckmin, da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e dos titulares de cinco ministérios. Entre eles Rui Costa, da Casa Civil, eleito governador da Bahia pela primeira vez, em 2014, com a ajuda da equipe liderada por Palmeira. 

Quem também participou do encontro foi a primeira-dama Janja Silva, bastante elogiada pelo marqueteiro. De acordo com ele, a socióloga contribuiu com muitas ideias durante a corrida eleitoral e “sempre tinha a disposição para encontrar algo novo”. 

“O companheiro Sidônio tentou retratar no livro a grandeza da mais complicada campanha política que participei”, disse Lula, para depois comparar Jair Bolsonaro com alguns de seus antigos concorrentes. 

“Era bom fazer campanha quando tinha o Alckmin como adversário. Como era bom fazer campanha contra o Serra… Até com o Maluf! Se você olhar o comportamento do Maluf com essa gente de hoje, essa gente de hoje é um atraso civilizatório no país”, afirmou. 

Palmeira, por sua vez, destacou o fato de que, pela primeira vez, um candidato à presidência não foi reeleito. Também demonstrou preocupação com as novas linguagens digitais: “Não podemos deixar o meme destruir a política. Invalidar argumentos, propostas reais”. 

E é aí que mora o perigo. Em suas falas públicas, ele não se limita a questionar as estratégias criativas e bem-humoradas adotadas pela direita (ou, segundo ele, “extrema direita”). Para o guru dos principais caciques petistas, é preciso definir, com urgência, maneiras de controlar a própria internet.

“Alguns desses radicais da extrema direita têm mais de 25 milhões de seguidores, que acreditam no que eles dizem. Essas pessoas prejudicam o trabalho de jornalistas sérios”, disse à rádio Metrópole, de Salvador, para justificar a regulamentação das redes. 

Na mesma conversa, Palmeira afirmou que “a mentira segurava Jair Bolsonaro no poder”.  “Bolsonaro não se importa com a ética. E quando você tira a ética da mentira, a mentira fica encantadora. A mentira é criativa, inteligente, a mentira é tudo.” 

Em outra entrevista, concedida ao jornal O Estado de S. Paulo, Sidônio reforçou sua aversão aos memes e aos políticos que os utilizam como ferramenta para se comunicar. 

“O mais grave é no Congresso. Cada vez mais as pessoas estão lá para fazer memes e brincadeiras com agressões. Isso é muito ruim para a sociedade como um todo, para a conscientização, para a formação política e para as leis que vão ser aprovadas.” 

Mas nada se compara a seu depoimento em vídeo à revista Carta Capital, há cerca de dez dias. Sentindo-se confortável ao falar para um veículo de esquerda e assumidamente governista, ele não escondeu seu apreço à forma como a ditadura da China limita o acesso da população à informação.

Primeiro, o marqueteiro disse que as big techs da internet são um instrumento de dominação de países e ameaçam a soberania nacional. Em seguida, citou (e festejou) o exemplo chinês.

“Imagina se o WhatsApp e o X tivessem entrado lá? Provavelmente já teria acontecido uma Primavera Chinesa”, afirmou, referindo-se à Primavera Árabe (onda de protestos, iniciada por meio das redes sociais, contra o autoritarismo no Oriente Médio e no norte da África, entre 2010 e 2012).

Sidônio já foi acusado de participar de um esquema de corrupção em Salvador 

Enquanto cursava Engenharia Civil, Sidônio Palmeira foi líder de centro acadêmico e chegou à presidência da União dos Estudantes da Bahia. No entanto, ao se formar, trocou a política partidária pelo marketing político. 

Seu primeiro grande êxito na área aconteceu em 1992, quando trabalhou na campanha que fez de Lídice da Mata, à época no PSDB, a primeira prefeita de Salvador (atualmente ela ocupa o cargo de deputada federal pelo PSB). 

A ligação com o PT começou em 2006, quando coordenou a bem-sucedida campanha de Jaques Wagner (hoje senador) ao governo baiano. Desde então, sua agência, a Leiaute Propaganda, é a empresa do setor que mais recebe verbas de publicidade naquele estado. 

Depois de ajudar Rui Costa a se tornar governador, Sidônio foi contratado pelo diretório nacional do PT e, em 2018, atuou no segundo turno das eleições presidenciais (quando Jair Bolsonaro derrotou Fernando Haddad). 

Segundo o escritor Fernando Morais, biógrafo de Lula, o presidente não gostou da guinada ao centro promovida na época pelo marqueteiro – que, entre outras medidas, incluiu mais cores nos materiais publicitários. E mandou Palmeira visitá-lo em Curitiba, onde estava preso, para passar algumas orientações. 

Ironicamente, a “colorização” do PT foi um dos motes da publicidade da legenda em 2022 (quando Sidônio e seus sócios da M4, empresa criada especialmente para o pleito presidencial, receberam R$ 25,9 milhões do Partido dos Trabalhadores). 

E mesmo neste ano, quando a popularidade do governo começou a despencar, o tom conciliatório sempre defendido por Palmeira ganhou eco na tentativa de aproximar o Partido dos Trabalhadores dos evangélicos (uma estratégica, segundo informações de bastidores, sugerida pelo baiano).

Mas o currículo de Sidônio inclui suspeitas de corrupção. Em 2018, a Leiaute foi alvo de busca e apreensão em uma operação da Polícia Federal que investigou um caso de caixa dois envolvendo um instituto de pesquisas da Bahia – mais tarde, a Justiça Eleitoral suspendeu o efeito do mandado.

No mesmo ano, o Ministério Público acusou a agência de participar de uma operação que desviou R$ 7,5 milhões dos cofres públicos. Segundo o MP, a empresa venceu uma licitação para prestar serviços à Câmara de Vereadores de Salvador, recebeu o dinheiro e não realizou o trabalho determinado.

O marqueteiro também é conhecido em sua terra natal pela atuação em outros ramos comerciais, principalmente o imobiliário. E, mais ainda, por ser torcedor fanático do Bahia.

Parte da torcida, no entanto, o detesta – acha que ele interfere demais nos bastidores políticos do time.

A reportagem da Gazeta do Povo procurou a equipe de Sidônio Palmeira para solicitar uma entrevista com o publicitário e um exemplar do livro ‘Brasil da Esperança’ (que não está disponível para venda) – mas não obteve retorno até a conclusão deste texto.

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