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O nome dela não é Hae Woo, mas, assim como muitos norte-coreanos traumatizados, ela não quer se arriscar.
“Sou uma fiel”, diz ela, “por causa do meu marido, por causa das coisas que ele ensinou a mim e a meus filhos sobre Jesus. ‘Você não vai conseguir Vê-Lo, mas Ele está vivo e agindo”, dizia ele.
Mas ficou difícil acreditar nisso quando o marido dela foi tirado deles e enviado a uma prisão onde acabaria morto.
“A tortura à qual ele foi submetido era tão horrível que não dá nem para imaginar”, diz ela. Todos os dias, um guarda o castigava por sua fé, “com sangue por todos os lados”, explica ela.
Mas “mesmo em meio a essas torturas horríveis, ele nutria compaixão por aqueles que desconheciam Jesus Cristo”, lembra-se Hae Woo. “Ele entrou na prisão caminhando, mas, depois de tanta tortura, teve de sair arrastado (...). Apesar de ter seu corpo destruído, ele doou os últimos pedaços de milho podre que tinha para seus colegas de prisão. Ele espalhava o Evangelho aos prisioneiros”.
“Ele rezava pelos doentes e, graças a seu bom trabalho, Deus criou uma igreja na prisão por meio do trabalho do meu marido”.
Ela se lembra de uma das últimas vezes em que viu o marido: “Ele queria passar sua fé adiante, mas havia guardas por todos os lados. Por isso ele fez algo simples e profundo. Ele escreveu três palavras na palma da mão: ‘Acredite em Jesus’”.
Pouco depois, ele foi assassinado pelos guardas da prisão por dar este mesmo conselho a outras pessoas. “Mesmo que eu morrer”, disse ele à esposa, “não tenho nenhum arrependimento”.
Hoje, muito tempo depois de Hae Woo ter sido presa e vivenciado os horrores por si mesma, pouca coisa mudou. “Todos os anos, espero que tenhamos algum sinal de que a perseguição aos cristãos está diminuindo. Mas todas as forças que oprimem a expressão da fé continuam em ação”, disse-me David Curry, da ONG Open Doors.
Na Coreia do Norte, que novamente está no topo da lista de países a serem observados pela Open Doors, pesadelos como a de Hae Woo não são raros. A comunidade cristã é relevante lá, explica Curry, mas os fiéis “agem às escondidas”.
“Os cristãos são muitos, mas eles enfrentam todo o tipo de pressão que você pode imaginar”, explica ele.
Dezenas de milhares de cristãos estão em campos de trabalhos forçados – um lugar inacreditavelmente insuportável que Hae Woo descreve como campos de concentração da era nazista.
“Cada pessoa recebe um punhado de milho podre e não há mais nada para comer. Recebemos algo aquoso. Não chegava a ser uma sopa. E comemos isso o ano todo. Nada mais. As pessoas são obrigadas a trabalhar mais do que vacas ou animais”.
Em geral, elas estão sempre à beira da morte. Elas são privadas de comida, espancadas e violentadas.
Essas pessoas estão presas, explica Curry, por coisas às quais os norte-americanos não dão valor: por possuírem uma Bíblia, por serem cristãos ou por falarem de sua fé.
“A verdade é que ser fichado como cristão ou tido como cristão significa que você é o inimigo número 1 do Estado”, disse ele.
Extremismo islâmico
No Oriente Médio e na África, em lugares como Afeganistão, Somália e Líbia, a situação não é melhor.
O castigo para os que se dizem cristãos é rápido e enfático.
“Não é incomum que os fieis sejam decapitados”. Não há julgamento”, disse Curry. “Não há tribunal de exceção nem nada parecido. É nestes casos que o extremismo islâmico se manifesta (...)”.
“Às vezes não se trata do governo agindo, porque ou o governo é fraco ou incapaz de reagir aos atores não-governamentais dentro de suas fronteiras”.
Nos Estados Unidos, onde a prática da fé é como uma segunda pele – algo em que não pensamos duas vezes — é difícil imaginar uma vida de horror constante.
Isso deveria nos levar a nos ajoelharmos — antes de qualquer coisa, por gratidão — mas também por nossos irmãos e irmãs no exterior.
“Todos os anos, há sinais para otimismo. A fé cresce mais nos lugares onde as pessoas são perseguidas por servirem a Jesus. As comunidades estão se reduzindo, mas ganhando força. E acho que isso está levando as pessoas a pensarem no custo da fé”, disse Curry.
Quando lhe perguntei o que as pessoas que vivem há milhares de quilômetros podem fazer diante de histórias como a de Hae Woo, a responda de Curry foi simples: “Precisamos que todos orem”, disse. “Adoraria ver as pessoas rezando todos os dias — ou no mínimo todas as semanas — pelos perseguidos”.
“Adote um país, uma causa, uma pessoa. Oremos. Conversemos. Defendamos esses indivíduos e faremos uma enorme diferença”.
Tony Perkins é preside do Family Research Council.