Há apenas 2 meses, havia órgãos que imploravam para que as pessoas não usassem máscara. Agora elas cada vez mais se tornam obrigatórias.| Foto: Pixabay
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Há uma cena famosa no filme Clube da Luta na qual Tyler Durden está num avião folheando um daqueles manuais de segurança sobre as saídas de emergência.

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“Uma porta de saída a 9 mil metros de altitude”, diz Durden (Brad Pitt). “A ilusão de segurança”.

É uma cena memorável porque ela fala das coisas estranhas que os seres humanos fazem para garantir que estão seguros em situações amedrontadoras. O que me traz à nova moda dos Estados Unidos: a obrigatoriedade do uso de máscaras.

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Pesquisas mostram que mais da metade dos norte-americanos estão usando máscaras ao saírem de casa, supostamente para deter a disseminação da Covid-19. O que cada um decide ou não usar é problema seu, mas a moda é surpreendente, considerando que as autoridades governamentais passaram meses aconselhando os norte-americanos a não usarem máscaras.

“Não costumamos recomendar o uso de máscaras para a prevenção de doenças respiratórias”, disse a dra. Nancy Messonnier, diretora do Centro Nacional de Imunização e Doenças Respiratórias no dia 31 de janeiro. “E não recomendamos agora para este novo vírus”.

De fevereiro a março, falas semelhantes foram ditas por várias autoridades e órgãos do governo.

O secretário de Saúde, Alex Azar, disse que “o norte-americano médio não precisa de uma máscara N95. Elas servem mais aos profissionais de saúde”. Ele foi endossado por Robert Redfield, diretor do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), que disse ao Comitê de Assuntos Estrangeiros da Casa Branca que “essas máscaras não servem para nada na comunidade”. Em fevereiro, o chefe da saúde pública dos Estados Unidos implorou no Twitter: “PAREM DE COMPRAR MÁSCARAS”.

Apesar desses alertas, a popularidade das máscaras aumentou. As “maskies” — selfies de pessoas usando máscaras — são moda no Instagram, de acordo com a Fast Company. Elas estão se tornando um símbolo e uma forma de expressão, um meio de mostrar solidariedade e empoderamento.

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“Com todos usando máscaras eu me sinto respeitada”, disse uma mulher à National Geographic. “A mensagem é: estou protegendo você, você está me protegendo, eu posso me sentir segura”.

Sentir-se segura. Eis a palavra-chave. O fato de as máscaras realmente impedirem a disseminação de doenças respiratórias continua sendo motivo de debate.

Há um motivo para as autoridades terem dito o que disseram. Várias pesquisas mostram que as máscaras protegem pouco ou nada contra vírus que causam danos ao sistema respiratório, e algumas máscaras podem até aumentar o risco de infecção.

Um teste clínico aleatório de 2009 descobriu que máscaras cirúrgicas não oferecem qualquer proteção ao usuário. Um estudo de 2015 concluiu que as taxas de contaminação eram especialmente altas nas máscaras de pano, sendo que havia a penetração de partículas em quase 97% delas. Um artigo de 2016 que analisou seis estudos clínicos descobriu que as máscaras N95 não eram melhores do que as máscaras médicas na prevenção às infecções respiratórias.

No dia 7 de abril, um artigo que analisava dados de 15 testes aleatórios concluiu que “em comparação com as pessoas que não usaram máscaras, não houve redução nos casos de doenças semelhantes à gripe entre a população em geral e os profissionais de saúde”.

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Apesar da falta de provas empíricas, contudo, o estudo recomendava o uso de máscaras com base “em provas observacionais feitas durante a epidemia de SARS”. [Nota do editor: os autores também descobriram que a maioria dos testes clínicos eram “mal planejados”, de modo que há poucas provas para basear recomendações].

Um raciocínio semelhante talvez tenha orientado o CDC em abril quando ele lançou um manual recomendando o uso de máscaras de pano para pessoas saudáveis (ainda que a Organização Mundial da Saúde ainda aconselhasse o contrário).

“Recomendação” é a palavra-chave aqui. Estamos em maio, apenas dois meses depois de as autoridades federais implorarem para os norte-americanos não comprarem nem usarem máscaras, e muitas pessoas estão se vendo obrigadas a usar máscaras para fazer compras e até para dar uma volta.

Neste mês, o hipermercado Costco começou a exigir que os consumidores usem máscaras para fazer compras. Enquanto empresa privada, a Costco tem esse direito. Mas muitos estados, em meados de abril, começaram a exigir que cidadãos usassem máscaras ao deixarem suas casas. O último estado a entrar nessa foi Massachusetts. O decreto exige que todas as pessoas com mais de dois anos de idade usem máscaras nos lugares públicos, mesmo que ao livre.

Em apenas dois meses, deixamos de pedir às pessoas que não comprassem ou usassem máscaras (alertando que isso poderia aumentar o risco de infecção) e passamos a ameaçar com multa e prisão aqueles que não as usarem. Compreensivelmente, os norte-americanos estão confusos. E isso não ajuda em nada.

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Nesta semana, em Michigan, um segurança da rede Family Dollar foi morto por ter impedido a filha de uma mulher de entrar na loja porque ela não estava usando máscara. O segurança estava aplicando o decreto que a governadora Gretchen Whitmer assinara duas semanas antes.

Embora só se possa responsabilizar as pessoas diretamente envolvidas na morte do segurança, tais confrontos poderiam ser evitados se os governos estaduais fossem um pouco mais humildes e reconhecessem que as recomendações do CDC não são um dogma e que as conclusões do órgão (claramente) não são infalíveis.

Em geral, o uso de boas ideias não requer medidas de força. E a verdade é que, com base em várias pesquisas médicas e nos relatórios do próprio governo federal, não se sabe ao certo quão eficiente é uma máscara como medida contra o contágio da Covid-19.

Deixando de lado a saúde pública, não se está questionando o impacto psicológico das máscaras.

"O coronavírus está por aí e nós nos sentimos impotentes", disse o dr. William Schaffner, professor de medicina preventiva na Vanderbilt University. "Ao usarmos máscaras, de alguma forma sentimos que estamos no controle de novo".

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Em certo sentido, a moda das máscaras tem a ver com nossos temores. Como observou recentemente meu colega Sean Malone, quando as pessoas estão com medo elas se mostram mais dispostas a aceitar qualquer coisa que acreditam capazes de deixá-las mais seguras. Até mesmo medidas e ideias péssimas.

A ilusão de segurança é algo poderoso. Ao que parece, tanto para os seres humanos comuns quanto para os governantes.

Jonathan Miltimore é editor da FEE.org.

© 2020 FEE. Publicado com permissão. Original em inglês
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