O jornal norte-americano Washington Post publicou uma reportagem neste sábado (21) mostrando a preocupação da direita brasileira com a atuação do Supremo Tribunal Federal (STF) nos casos de censura no país. Entre os entrevistados da publicação está o presidente executivo do Grupo Paranaense de Comunicação (GRPCOM) e da Gazeta do Povo, Guilherme Döring Cunha Pereira, e o colunista Paulo Polzonoff.
O texto fala em “uma pressão polarizadora de Alexandre de Moraes – um juiz do Supremo Tribunal Federal, presidente do principal tribunal eleitoral do país e, segundo alguns, o homem mais poderoso do Brasil” que tem levado a níveis novos “a luta contra as notícias falsas”.
“Nos últimos meses, o inimigo de Bolsonaro prendeu cinco supostos infratores sem julgamento e ordenou que as plataformas de mídia social bloqueassem dezenas de contas de políticos, comentaristas e influenciadores por supostamente propagar mentiras, ódio, incitação e outros atos ‘antidemocráticos’. A maioria dos alvos são da direita política”, completa a reportagem.
O texto destaca ainda que o governo Lula tem buscado tratar a “desinformação de extrema-direita” com o mesmo rigor merecido pelo “extremismo islâmico”. “Um novo cão de guarda dentro do poder executivo será encarregado de trabalhar de forma mais sistemática para sinalizar conteúdo ofensivo para plataformas online. Equipes do Ministério da Justiça e do gabinete do presidente estão elaborando uma legislação destinada a conter as teorias da conspiração online do tipo que levou à insurreição de 8 de janeiro em Brasília.”
Na publicação, o presidente executivo da Gazeta do Povo disse que Alexandre de Moraes tem promovido uma “caça às bruxas” no Brasil, comparando o cenário nacional à Venezuela, que atuou para “estrangular a mídia” sob o comando do ditador Hugo Chávez. O Washington Post recordou a censura judicial sofrida pela Gazeta em outubro, quando o TSE determinou a remoção de postagens no Twitter apontando o apoio de Lula ao ditador da Nicarágua, Daniel Ortega.
“‘Há um clima permanente de preocupação’, disse Pereira, principalmente entre os colunistas de seu jornal”, destacou a reportagem, citando o colunista Paulo Polzonoff, que desde 8 de janeiro teme ser mal interpretado pela Suprema Corte em suas ironias e sátiras ao se referir a líderes políticos, como Lula. “Quando chamo [Lula] de ditador, talvez seja um exagero, é uma figura de linguagem”, disse Polzonoff ao Post. “Mas não é violência. Não pode ser chamado de ataque contra as instituições democráticas”, completou.
O jornal norte-americano afirmou ainda que “um desafio para os conservadores é que o tribunal tem operado em grande parte em segredo - muitas vezes se recusa a revelar qual conteúdo gerou penalidades”.
O ministro Alexandre de Moraes não quis conceder entrevista à reportagem, mas Ricardo Lewandowski defendeu o colega. “Claro que você tem que garantir a liberdade de expressão”, assegurou. “A grande questão é: é possível garantir a liberdade de expressão quando ela ataca a própria democracia?”
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