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O ex-primeiro ministro britânico Winston Churchill fez um de seus discursos memoráveis após a derrota de seu país na Batalha de Cingapura.
O ex-primeiro ministro britânico Winston Churchill fez um de seus discursos memoráveis após a derrota de seu país na Batalha de Cingapura.| Foto: Wikimedia Commons

'A Segunda Guerra Mundial: A História Completa' é apontada como uma das maiores obras de referência sobre o tema já publicadas até hoje. Escrito pelo pesquisador britânico Martin Gilbert (1936-2015) — autor de mais de 80 trabalhos e biógrafo oficial de Winston Churchill —, o livro oferece uma perspectiva global do conflito a partir de trechos de diários, memórias, cartas, mensagens e artigos de jornal.

Outro destaque da obra, segundo os especialistas, está na combinação de informações acerca das manobras políticas do período e dos impactos dos horrores da guerra na vida do cidadão comum (que revelaram o pior e o melhor do ser humano).

No trecho a seguir, extraído do primeiro volume da obra (lançada no Brasil pelo selo Objetiva), Gilbert narra os acontecimentos que antecederam a "queda de Cingapura", considerada uma das piores derrotas militares britânicas de todos os tempos.

Em 6 de fevereiro [de 1942], numa tentativa de centralizar e acelerar o esforço de guerra alemão, o ministro do Reich para Armamentos, Munições e Produção de Guerra, Fritz Todt, assumiu a presidência de uma comissão reunida em Berlim para coordenar todos os ministérios envolvidos no desenho, na fabricação e na distribuição de armamentos.

No dia seguinte, ele voou para Rastenburg a fim de contar a Hitler o que havia sido decidido; um incremento de 55% na produção de armas alemãs. Em 8 de fevereiro, Todt deixou Rastenburg para voltar a Berlim. Seu avião caiu e explodiu logo após a decolagem.

Hitler ficou muito abalado pela morte daquele homem que servira tão bem a ele e à Alemanha, e cuja organização empregava centenas de milhares de trabalhadores escravizados.

Na mesma semana, Todt foi sucedido pelo arquiteto de Hitler, Albert Speer, de 36 anos, que também não mostrou escrúpulos em explorar o trabalho de franceses, holandeses, dinamarqueses, belgas, poloneses e uma dezena de outras populações cativas.

Em me­mória de Todt, a bateria de canhões navais inaugurada pelos grão-almirantes Raeder e Dönitz na costa do canal da Mancha, em Haringzelles, em 10 de fevereiro, e protegida por enormes torres de concreto, recebeu o nome de “Bateria Todt”.

No Norte da África, o exército alemão continuou a expulsar os britânicos para o Egito: “Recuperamos a Cirenaica”, [o general Erwin] Rommel escreveu à esposa em 4 de fevereiro. “Foi num piscar de olhos.”

No Extremo Oriente, os japoneses atacaram um comboio de navios que transportava tropas indianas para Cingapura; a embarcação mais lenta do comboio, o Empress of Asia, foi afundado. A maioria dos soldados a bordo foi resgata­da, mas quase todas as suas armas e equipamentos se perderam.

Nesse dia, a artilharia pesada nipônica abriu fogo contra as defesas de Cingapura. Em 7 de fevereiro, o general britânico Arthur Percival declarou que a cidade resistiria até o último homem.

Em 8 de fevereiro, 5 mil soldados japoneses cruzaram o estreito de Johore, que separa a Malásia de Cingapura. Durante sete dias os defensores britânicos lutaram contra um inimigo numericamente superior e mais bem armado.

Em 2 de fevereiro, os folhetos despejados sobre a cidade pedindo a rendição foram deliberadamente ignorados.

En­quanto a guarnição em Cingapura mantinha sua obstinada defesa, os alemães realizaram a Operação Cerebus, enviando os cruzadores de batalha Scharnhorst e Gneisenau e o cruzador pesado Prinz Eugen do porto de Brest através do canal da Mancha até o mar do Norte.

A população britânica ficou abatida por essa destemida “investida da Man­cha”, como ficou conhecida, e pela perda de dez dos antiquados aviões lança-torpedos enviados para interceptar os navios de guerra.

Contudo, nos círculos internos da política de guerra, houve alívio imediato quando as mensagens [enviadas pela máquina de codificação] Enigma revelaram que, durante a operação, tanto o Gneisenau quanto o Scharnhorst haviam sido danificados por minas posicionadas graças ao conhecimento prévio da rota dos navios, obtido pela intercepta­ção de mensagens Enigma.

“Isso vai mantê-los longe de travessuras por pelo menos seis meses”, Churchill disse a Roosevelt, “intervalo de tempo durante o qual nossas marinhas receberão importantes reforços.”

Agora, porém, não era a força dos Aliados, mas sua debilidade, que compunha a dieta diária de notícias de guerra.

Em 13 de fevereiro, os japoneses destruíram a principal defesa de Cingapura, seus enormes canhões costeiros de 300 milímetros, e, no sudeste de Bornéu, ocuparam o porto de Banjarmasin. No dia seguinte, desembarcaram de paraquedas em Palembang, em Sumatra.

Em 15 de fevereiro, Cingapura se rendeu; 32 mil indianos, 16 mil britânicos e 14 mil soldados australianos foram feitos prisioneiros. Mais da metade deles morreria no cativeiro.

A queda de Cingapura — a “Gibraltar do Oriente” — foi um duro golpe para a ca­pacidade de resistência britânica ao Japão, bem como para o moral britânico.

Em uma transmissão radiofônica de 15 de fevereiro. Churchill declarou: “Eis o momento de mostrar a calma e o equilíbrio combinados com a determinação inflexível que, não faz muito tempo, nos tirou das garras da morte”.

O “único perigo real”, advertiu Churchill, seria “um enfraquecimento de nosso propósito e, portanto, de nossa unidade — esse é o crime mortal”. Para o culpado desse crime, ou de induzir outros a cometê-lo, “melhor destino seria que lhe pendurassem uma pedra ao pescoço e o lançassem ao mar”.

Churchill exortou seus ouvintes a não entrarem em desespero. “Devemos lembrar que já não estamos sozinhos. Estamos no meio de um grande empreendimento. Três quartos da raça humana nos acompanham. Todo o futuro da humanidade talvez dependa de nossa ação e de nossa conduta.”

Até o momento, acrescentou Churchill, “nós não falhamos. Não vamos falhar agora. Seguiremos em frente, firmemente juntos, rumo à tempestade e através da tempestade”.

Conteúdo editado por:Omar Godoy
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