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Conversa com Jordan Peterson

“Meu filho foi morto pelo vírus mental woke”, diz Elon Musk em entrevista

Elon Musk visita o campo de concentração nazista de Auschwitz, na Polônia, em 22 de janeiro de 2024.
Elon Musk visita o campo de concentração nazista de Auschwitz, na Polônia, em 22 de janeiro de 2024. (Foto: EFE/EPA/ZBIGNIEW MEISSNER)

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A entrevista que o bilionário Elon Musk concedeu ao psicólogo canadense Jordan Peterson na última segunda (22) vai direto ao assunto: trataram de inteligência artificial, a vantagem de ter filhos, Trump e o futuro da humanidade. Musk havia passado a noite quase toda acompanhando o treinamento do Grok, o chat de inteligência artificial de sua rede social X, mas estava de bom humor.

Peterson, que não achou muita graça das piadas do entrevistado no começo, não estava em sua melhor forma, como comentou James Innes-Smith, colunista da revista britânica conservadora The Spectator: “interrompeu a linha de pensamento do convidado com seus apartes muitas vezes longos”. De fato, em trechos foi difícil acompanhar a conclusão de raciocínio de Musk por causa das interrupções. Ainda assim, os dois homens influentes conversaram sobre os temas mais sensíveis dos nossos tempos.

Inteligência artificial

“O propósito declarado do Grok é entender o universo”, afirmou Elon Musk. Mas, confessa o empresário, a versão disponível para os usuários do X “ainda é uma ordem de magnitude mais fraca que o ChatGPT”. A segunda versão do Grok deve ser lançada no próximo mês e alcançar o GPT-4. Em dezembro, diz Musk, será lançado o Grok 3, que “será a inteligência artificial mais poderosa do mundo”.

“O que diabos você está construindo?”, perguntou Peterson. Para Musk, o horizonte é fazer algo mais inteligente que toda a humanidade. “Por que você confia em si mesmo nesse front?”, indagou o psicólogo. “Não confio em mim mesmo completamente”, afirmou o bilionário, prometendo que seu programa de inteligência artificial existe para beneficiar a humanidade e que, ao contrário dos concorrentes, será livre do “vírus mental woke”, ou seja, do identitarismo, um desdobramento do progressismo focado em identidades que tem alterado normas e leis por todo o Ocidente.

Musk ajudou a fundar a que hoje é sua principal concorrente em inteligência artificial, a OpenAI. Ele diz que a ideia para a organização veio de conversas com Larry Page, um dos fundadores do Google. “A opinião de Larry é que no fim nós vamos fazer upload das nossas mentes para computadores, e seremos todos robôs”, previu o empresário, informando também que foi chamado de “especista” pelo amigo.

O termo “especista” vem de defensores dos direitos animais como o filósofo australiano Peter Singer. Significa priorizar seres humanos acima de animais de uma forma supostamente imoral. “Você é um especista”, disse Peterson. “O rótulo está correto”, respondeu Musk.

Interessado na origem da consciência, o empresário fez um breve resumo do que a ciência descreve sobre a história do Universo: de um começo com o Big Bang há 13,8 bilhões de anos atrás, em que existia só o hidrogênio, até as estrelas formarem elementos químicos mais pesados que possibilitaram o surgimento da Terra há 4,54 bilhões de anos e a origem e evolução da vida até os seres humanos. “Se você deixar o hidrogênio no Sol por tempo suficiente, ele começa a falar consigo mesmo” — ele simplifica. Ele acredita que a inteligência artificial poderá ser consciente como o ser humano no futuro.

Essa é uma das coisas que o preocupam a respeito da segurança da IA. Para ele, a ideia de Page de deixar humanos obsoletos mostra falta de cautela no assunto. “Eu disse: ‘em que time você está, Larry? Precisamos assegurar que a humanidade floresça e cresça’. Foi aí que ele me chamou de especista. [Eu disse] ‘acho que sou pró-humanos. O que você é?’ Foi a gota d’água”, disse, e assim Musk decidiu que uma organização sem fins lucrativos como a OpenAI original, “o oposto do Google”, era necessária.

Desde então, após doar 15 milhões de dólares, Elon Musk deixou o projeto. Ele tem atacado o chefe executivo da OpenAI, Sam Altman, por trair o propósito original da organização, que criou uma subsidiária com fins lucrativos e não publica o ChatGPT em código aberto. Ele está considerando apelar para o litígio.

“A OpenAI é a líder em inteligência artificial. E estou preocupado que eles injetaram o vírus mental woke no treinamento. Também vimos isso na Gemini, do Google, a níveis absurdos. Se você pedisse uma imagem dos fundadores dos Estados Unidos, dava um grupo de mulheres negras. Reescreveram a história”, disse Musk. “Foi um momento de cair o queixo”, comentou Peterson.

Pró-natalismo

“Paul Ehrlich é um maníaco genocida, um ser humano terrível, seus livros causaram danos à humanidade”, disse Musk, que tem 11 filhos, a respeito do cientista nonagenário que tem promovido há décadas a ideia de que a humanidade está à beira de um colapso por excesso de população.

O empresário acredita que o abandono da religião tem relação com a queda das taxas de natalidade no Ocidente. Há estudos que corroboram esta opinião. Ele pensa que a queda da taxa de fecundidade vem da prosperidade em si e que acontece “em toda civilização”. “Há uma tendência ao hedonismo”, a busca do prazer pelo prazer, afirmou.

Trump

Elon Musk disse que não é verdade que ele doou pessoalmente 45 milhões de dólares para a campanha de Donald Trump para a presidência, mas que ajudou a iniciar um Comitê de Ação Política pelo candidato. Seu apoio a Trump é por um retorno à meritocracia e à “menor quantidade de intervenção do governo possível” na liberdade. “A mão do Estado fica mais pesada a cada ano”.

Uma das queixas de Musk contra os democratas, além da ascensão do identitarismo, é que o governo Biden processou sua empresa de carros elétricos, Tesla, por não contratar estrangeiros que buscam asilo nos Estados Unidos. “Foi lawfare, foi político”, afirmou. O empresário apoiou Joe Biden para presidente, e Hillary Clinton antes dele.

Sobre o apoio a Trump, Musk disse que “não segue cultos de personalidade”, mas é o candidato com menos vícios, a quem ele passou a admirar mais por sua “coragem instintiva e verdadeira” depois da tentativa de assassinato em 13 de julho.

“Precisamos de uma mudança no governo. Muitos anos atrás, o Partido Democrata costumava ser o partido da meritocracia, da liberdade pessoal e da liberdade de expressão. Agora são o partido da censura sob a desculpa do ‘discurso de ódio’. O Partido Republicano agora é o partido da meritocracia — não é sem defeito, há extremistas, mas é um sistema bipartidário, você tem que escolher um”, afirmou o empresário.

Sentido da vida e religião

Elon Musk disse que passou por uma crise existencial no fim da infância e leu extensamente textos religiosos como a Bíblia e o Corão, e a filosofia de pensadores como Friedrich Nietzsche e Arthur Schopenhauer. Mas foi na leitura da obra de comédia e ficção científica “O Guia do Mochileiro das Galáxias” (Ed. Arqueiro, 2020), de Douglas Adams, que encontrou propósito na passagem a respeito de uma civilização que cria um supercomputador para responder qual é o sentido da vida, e a resposta foi “42”. A piada de Adams é que a pergunta foi mal formulada, por isso a resposta do computador foi incompreensível.

O autor britânico deu então um insight ao Elon de 13 anos de idade, que se sentiu mais feliz ao perceber que “somos ignorantes sobre muitas coisas. Devemos querer ser menos ignorantes. O que pudermos fazer para melhorar nosso entendimento do Universo e ter mais perguntas para fazer a respeito da resposta, que é o Universo, é bom. Chamo de religião da curiosidade”.

“Passamos por momentos tristes e felizes, dizer que a vida é só sofrimento é uma afirmação ridiculamente falsa”, afirmou.

Peterson compartilha que resolveu uma crise existencial com a mesma idade. Ele o fez pelo estudo do mal. “Li história como se eu fosse o perpetrador, não a vítima”. Os dois concordam que crises do tipo são necessárias para “endireitar” uma pessoa.

“Estou no fim das contas grato pela minha vida? Sim”, disse Musk. Certa vez, ele foi espancado até quase morrer. “Por que você não é amargo a respeito disso?”, perguntou Peterson. “Pode-se tomar o caminho da vingança. Sentir que o mundo lhe tratou de forma injusta”, disse o empresário, que cresceu na África do Sul. “A noção do perdão é importante, é essencial. Se você não perdoar, olho por olho deixa todos cegos. Acredito bastante nos princípios do cristianismo, acho que são muito bons”.

Elon Musk se diz um “cristão cultural”. Para ele, princípios cristãos levam a sociedades melhores. Mas repete: sua religião é a “religião da curiosidade”, que “expande a consciência”, o que implica “aumentar a população do mundo, não a diminuir”. Ele conclui: “ter um filho é um voto pelo futuro”.

Confissões de Musk sobre seu filho disfórico

“As crianças são um deleite”, afirmou Musk. “Por quê?”, perguntou Peterson. Os dois debateram e concordaram que a resposta é o amor mútuo que se desenvolve entre pais e filhos. O empresário disse que convenceu muitas pessoas a terem filhos, e nenhuma delas se arrependeu.

Peterson refletiu sobre a passagem bíblica em que Jesus diz que é necessário ser como criança para entrar no reino dos céus. Para o psicólogo, tem a ver com a capacidade das crianças de deslumbramento com coisas com as quais os adultos se acostumam ao ponto de ignorar.

No fim da conversa, Peterson tocou no assunto da transição de gênero em crianças que sofrem de disforia de gênero, uma persistente vontade de mudar de sexo. “Por que você está engajado nesta batalha?”, perguntou o psicólogo.

Elon Musk respondeu que seu envolvimento foi gradativo, e que avisou ao governador da Califórnia, Gavin Newsom, que tiraria suas empresas do estado se Newsom aprovasse uma nova lei que permite que escolas escondam a disforia das crianças de seus pais. O governador ignorou o aviso, e as empresas se mudarão para o Texas.

A transição “é maldade”, para Musk. “Quase toda criança passa por uma crise de identidade. É possível para adultos manipular essas crises para convencê-las que são de outro gênero”. Os bloqueadores de puberdade “são drogas de esterilização”, afirmou.

“Aconteceu com um dos meus meninos mais velhos”, contou Musk. “Me enganaram e assinei documentos para o Xavier, antes que eu entendesse o que estava acontecendo. Disseram que ele cometeria suicídio”.

“Não consigo imaginar um terapeuta fazendo algo pior que isso”, reagiu Peterson.

“Não explicaram para mim que os bloqueadores esterilizavam. Perdi meu filho, basicamente. Eles chamam de deadnaming [usar o ‘nome morto’ da pessoa trans] por uma razão. A razão é que o filho ‘morre’. Meu filho Xavier ‘morreu’, foi ‘morto’ pelo vírus mental woke. Então eu jurei destruir o vírus mental woke depois disso. Estamos fazendo progresso”, disse Musk. “Bem-vindo ao clube”, respondeu Peterson.

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