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Neste mês, os graduados em medicina começarão seus treinamentos de pós-graduação e residências por todo o país. Trabalharão sobretudo em hospitais universitários, que ficam encarregados de garantir que os futuros médicos mantenham os mais elevados padrões no tratamento dos pacientes. Ainda assim, a ideologia está minando de duas maneiras esta parte essencial da educação médica. Primeira: os padrões da admissão e das provas estão sendo rebaixados em nome da diversidade e da equidade. Segunda: a cultura vitimária está tornando difícil dar aos residentes de baixo desempenho e subqualificados o retorno de que precisam para evitar o dano aos pacientes.
Esse declínio é puxado por certas tendências nas escolas de medicina, nas quais os ativistas pressionaram os administradores para derrubar os padrões estritos das provas, baseando-se na ideia de que provas são racistas. Ao menos 40 instituições aderiram, tirando a exigência do Exame Admissional de Escola Medicina (MCAT, na sigla em inglês) sobretudo para aqueles que estão "sub-representados na medicina". A Escola Perelman de Medicina da Universidade da Pensilvânia, onde servi como reitor associado, agora dispensa o MCAT para certos egressos de Universidades e Faculdades Historicamente Negras e de várias outras instituições. Estudos mostram que notas mais baixas no MCAT são sinais de mau desempenho na faculdade de medicina, maior probabilidade de largar o curso e menor probabilidade de compreender os cursos mais importantes para o cuidado do paciente.
O rebaixamento dos padrões na entrada da faculdade de medicina agora está casado com menos avaliações na saída. Este ano, a primeira seção do Exame do Licenciamento Médico dos Estados Unidos, na qual os programas de residência costumavam confiar para selecionar os candidatos, substituiu notas objetivas por um sistema "passou/não passou". Os reitores de medicina que aprovaram esse afastamento sísmico do mérito o fizeram, explicitamente, para permitir que mais estudantes minoritários se qualificassem para programas de residência competitivos.
As residências agora são mais diversas, mas os residentes parecem estar menos preparados. Estudos mostram que os residentes de certas raças e etnias, em média, têm notas piores em avaliações do desempenho clínico. (Para ser claro: muitos também se saem muito bem.) Ainda assim, essas descobertas atiçaram mais clamores por rebaixamento de padrões e eliminação de medições que demonstrassem competência.
Vejamos um estudo publicado pelo proeminente periódico Academic Medicine em maio. Ele asseriu que as notas mais baixas dos residentes minoritários nas avaliações de profissionalismo, conhecimento médico e prontidão para prática independente podem ser atribuídos a só três coisas: viés dos médicos supervisores, pior ambiente de treino ou prova racista. Em nenhum momento os autores do estudo consideram uma conclusão mais óbvia: as notas mais baixas refletirem um desempenho genuinamente mais fraco, um resultado nada surpreendente de passar anos baixando os padrões.
Assinalar o óbvio é um pecado imperdoável para o mundo da medicina acadêmica, tomado por ativistas. Quando tuitei sobre o estudo, fui acusado de racismo, e o catedrático do Departamento de Medicina onde eu trabalhei — um amigo por muitos anos — mandou um e-mail para todo o departamento denunciando minhas "afirmações racistas". Aparentemente, não é mais aceitável expressar preocupação quanto aos residentes que estão se saindo mal e podem continuar se saindo mal como clínicos.
Minha experiência aponta para a tendência mais perigosa de todas. Tendo me aposentado da medicina acadêmica em 2019, tenho liberdade para pôr a boca no trombone. Ainda assim, a organização filantrópica oposta ao identitarismo no cuidado médico, Do No Harm [Não Cause Dano], presidida por mim, sempre ouve dos médicos que eles estão com medo de dar um retorno aos residentes de mau desempenho, sob pena de serem acusados de viés. Isto é uma ameaça direta ao futuro sucesso dos residentes, quando médicos — e, mais importante, ao bem estar dos seus pacientes.
As consequências nocivas já estão aí. Um médico supervisor numa faculdade de medicina de elite nos contou a história de um residente que largou um torniquete num paciente por tempo demais, causando uma amputação acima do joelho — ainda assim, o residente não recebeu nenhum retorno negativo. Noutro caso, um médico supervisor acreditava que um residente foi trabalhar na Emergência sob influência de drogas, mas, depois de levantar essa questão, o médico recuou perante as subsequentes acusações de racismo. Outro residente que não sabia como consertar um osso quebrado respondeu com ameaças físicas a um médico supervisor que tentou intervir e ajudar. O residente não recebeu punição nenhuma.
Um médico supervisor de uma instituição proeminente contou recentemente à minha organização que os residentes agora detêm o poder — e não têm medo de usá-lo contra os médicos que deveriam ser os seus professores. Os médicos, com razão, temem que os administradores tomem o lado dos residentes nas disputas: o que eles sabem ser uma correção necessária, o complexo industrial-diversitário médico poderia ver facilmente como justa causa para a demissão. Então os médicos amiúde ficam em silêncio, exceto quanto aos erros mais notáveis.
O resultado é uma crise de excelência por toda a educação e treinamento médicos. Com certeza o fracasso real não cabe aos estudantes e residentes desqualificados. As faculdades de medicina e os hospitais universitários estão fracassando com eles e com a sociedade como um todo. Tais instituições deveriam estar recrutando e educando os melhores médicos do futuro, dentre os quais muitos são mesmo de origens diversas, e nunca deveriam rebaixar os padrões, nem se recusar a dar aos estudantes o retorno necessário para terem sucesso nessa profissão salvadora de vidas. Se essas tendências continuarem, em julho próximo veremos uma safra ainda maior de residentes menos capazes e mais propensos a causar dano aos pacientes, com o establishment médico fingindo que não há nada de errado.
STANLEY GOLDFARB, ex-reitor associado de currículo da Faculdade de Medicina da Universidade da Pensilvânia, é presidente da Do No Harm.