Monumento às Vítimas do Comunismo em Praga, República Checa| Foto: Satdeep Gill sob licença CC-BY-SA-4.0/Wikimedia Commons

Uma reportagem recente do New York Times mencionou a crescente disposição de candidatos políticos nos Estados Unidos a se posicionarem como socialistas. A repórter Farah Stockman escreveu que a organização Democratic Socialists of America (DSA) vem crescendo, mesmo em Estados de tendência conservadora. “Desde novembro de 2016 o número de membros da DSA aumentou de 5 mil para 35 mil em todo o país”, escreveu a jornalista. “O número de grupos locais passou de 40 para 181, incluindo dez no Texas. A representação da DSA em Houston, antes quase inativa, hoje tem quase 300 integrantes.”

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Franklyn Bynum, advogado de 34 anos, socialista declarado e membro da DSA, recebeu a indicação do Partido Democrata para o cargo de juiz de um tribunal penal em Houston. Pelo menos 16 outros socialistas foram candidatos em primárias no Texas. 

Ressurgimento está sendo impulsionado por millenials

Muitos dos candidatos socialistas e boa parte dos que os apoiam são millenials, ou membros da geração do milênio, a maior geração de americanos na história. A atração que os millenials sentem pelo socialismo pode ter sua origem em parte no movimento Occupy Wall Street e na campanha presidencial de 2016 do senador Bernie Sanders, socialista declarado. Esses movimentos amplamente divulgados enfatizaram desigualdades de renda, acesso ao capital, justiça criminal, saúde, acesso a creches, educação e moradia a preços acessíveis. 

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A sindicalista Amy Zachmeyer, 34 anos, que ajudou a relançar a filial da DSA em Houston, disse que o socialismo “encontra eco entre millenials que ganham menos que seus pais ganhavam, têm menos condições de adquirir casa própria e estão afogados em dívida estudantil” (empréstimos contraídos com instituições financeiras para pagar mensalidades de cursos superiores). A atração dos millenials pelo socialismo se reflete em pesquisas. 

Uma pesquisa de 2016 conduzida pelo Instituto de Política de Harvard com jovens de 18 a 29 anos concluiu que 16% se identificaram como socialistas, enquanto 33% apoiavam o socialismo. Apenas 42% apoiavam o capitalismo, enquanto 51% eram contra. Outra pesquisa, esta de 2017, constatou que 51% dos millenials identificavam o socialismo ou comunismo como o sistema socioeconômico de sua preferência. Apenas 42% eram a favor do capitalismo. Jorge Roman-Romero, 24 anos, que dirige uma nova filial da DSA em Tulsa, Oklahoma, disse que declarar-se um candidato socialista hoje já deixou de ser uma desvantagem. 

Mas eles ignoram a realidade do socialismo 

Frances Reade, 37, é vice-presidente da filial da DSA em East Bay, na área da baía de San Francisco, que tem cerca de mil filiados. Ela curte as aulas noturnas gratuitas, conhecidas como “escola de socialismo”, onde os membros leem e discutem textos políticos, incluindo os de Karl Marx. Mas é pouco provável que essa escola noturna de marxismo estude a verdadeira história do socialismo e comunismo na prática, um sistema socioeconômico que provocou mais mortes e sofrimento humano no mundo que qualquer outro. 

As filiais da DSA deveriam estudar, por exemplo, o texto “Can There Be an ‘After Socialism’?” (Pode haver um “após o socialismo”?), de Alan Charles Kors, professor de história na Universidade da Pensilvânia, que conta a história do socialismo que Bernie Sanders e o DSA não revelam e que a geração do milênio não ouve. A seguir, um trecho extenso do texto: 

A meta do socialismo era colher os frutos culturais, científicos, criativos e comunitários da abolição da propriedade privada e dos livres mercados e acabar com a tirania humana. Usando o comando do Estado, o comunismo procurou criar essa sociedade socialista. O que aconteceu na prática foi que um grupo de déspotas inumanos alcançou o poder: Lênin, Stalin, Mao Tse Tung, Kim Il Sung, Ho Chi Minh, Pol Pot, Castro, Mengistu, Ceausescu, Hoxha, etc, etc... 

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Nenhuma outra causa na história da humanidade gerou tantos tiranos cruéis, tantos órfãos e tantos inocentes dizimados quanto o socialismo no poder. O socialismo superou exponencialmente todos os outros sistemas de produção de mortos. Os corpos estão espalhados à nossa volta. E aqui se encontra o problema: ninguém fala desses mortos. Ninguém os honra. Ninguém faz penitência por eles. Ninguém cometeu suicídio por ter sido apologista daqueles que fizeram isso a eles. Ninguém paga por eles. Ninguém é caçado para ser responsabilizado por eles. É exatamente o que Solzhenitsyn previu em “Arquipélago Gulag”: “Não, ninguém teria que se responsabilizar. Ninguém seria investigado.” Enquanto isso não acontecer, não haverá nenhum “após o socialismo”. 

O Ocidente aceita um “dois pesos e duas medidas” monstruoso, imperdoável. Repisamos os crimes do nazismo quase diariamente, os ensinamos a nossos filhos a título de lições históricas e morais ímpares, e prestamos testemunho de cada vítima. Mas, com pouquíssimas exceções, guardamos um quase silêncio em relação aos crimes do comunismo. Por isso os cadáveres se espalham entre nós, por toda parte, despercebidos. Exigimos a “desnazificação” e criticamos asperamente aqueles que a moderaram em nome de realidades políticas novas ou emergentes. Mas nunca houve nem haverá um esforço semelhante de “descomunistização”, embora o massacre de inocentes tenha sido exponencialmente maior e embora aqueles que assinaram as ordens e comandaram os campos permaneçam. No caso do nazismo, caçamos homens de 90 anos porque “os ossos clamam” por justiça. No caso do comunismo, dizemos “nada de caça às bruxas”. Deixemos que os mortos enterrem os vivos. Mas os mortos não podem enterrar ninguém. 

Por isso os mortos se espalham entre nós, ignorados, e qualquer pessoa dotada de olhos morais os enxerga, por sua ausência de nossa consciência moral, transbordando nus das telas da televisão e do cinema, congelados de dor em nossas salas de aula ou espalhados, insepultos, por nossa política e nossa cultura. Eles se sentam ao nosso lado em nossas conferências. Não poderia haver um “após o nazismo” sem o reconhecimento, a contagem dos mortos, a justiça, a memória. Enquanto não enfrentarmos e lidarmos com os mortos pelo comunismo, não haverá um “após o socialismo”. 

Para sermos entes morais, precisamos reconhecer apropriadamente que essas coisas hediondas aconteceram e prestar testemunho da responsabilidade por esses tempos assassinos. Enquanto o socialismo não for obrigado a encarar sua realidade concreta (do mesmo modo como o nazismo ou o fascismo foram obrigados a encarar os campos de extermínio e o massacre de inocentes), as maiores atrocidades de toda a história documentada, não teremos um “após o socialismo”. 

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Isso não vai acontecer. A patologia dos intelectuais ocidentais os comprometeu com um relacionamento adverso com a cultura dos livres mercados e dos direitos individuais, que produziu o maior alívio do sofrimento, a maior libertação da miséria, ignorância e superstição, e o maior aumento da prosperidade e oportunidades na história de toda a vida humana. 

Essa patologia permite que intelectuais ocidentais passem ao largo do Everest de corpos de vítimas do comunismo sem uma lágrima, um escrúpulo, um lamento, um ato de contrição ou um exame de consciência, de alma ou de eu... 

Os cadáveres exigem uma responsabilização, um pedido de desculpas, um arrependimento. Sem essas coisas, não haverá um “após o socialismo”. 

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Em entrevista de 1989, Bernie Sanders disse: “O socialismo encerra muitas mensagens diferentes para diferentes pessoais. Acho que a questão da ideologia socialista e do que ela significou ou significa não é tremendamente importante.” Talvez não seja importante para Sanders, mas foi importante para dezenas de milhões de pessoas que morreram pelas mãos de socialistas ou que hoje penam sob regimes como o de Kim Jong Un, na Coreia do Norte, e Nicolás Maduro, na Venezuela. 

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Um relatório de 2014 das Nações Unidas sobre a Coreia do Norte descreveu as condições em que vivem cidadãos comuns na Coreia do Norte: 

Extermínio, homicídio, escravização, tortura, prisão, estupro, abortos forçados e outras formas de violência sexual, perseguição política, religiosa, racial ou de gênero, transferência forçada de populações, desaparecimento forçado de pessoas e o ato desumano de provocar conscientemente a inanição prolongada (pág. 14). 

A realidade concreta do socialismo é feita de morte e repressão 

Acredita-se que entre 2 milhões e 3 milhões de pessoas morreram de inanição na Coreia do Norte na década de 1990, incluindo casos em que prisioneiros políticos foram mortos deliberadamente por falta de alimentos. 

O governo da Venezuela pratica o socialismo desde 1998. O resultado é uma inflação anual que hoje chega a 9.000%, uma economia que encolhe 15% ao ano, prateleiras dos supermercados vazias, miséria arrasadora, um êxodo populacional (10% da população já deixou o país), 12% das crianças com menos de 5 anos sofrendo de desnutrição, e um presidente socialista que proíbe a aceitação de ajuda do exterior, até mesmo do Vaticano. Na conferência recente FEEcon 2018 em Atlanta, um jovem violinista venezuelano, Wuilly Arteaga, contou como foi espancado por agentes do governo por expressar publicamente sua oposição ao governo despótico de seu país. 

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Portanto, millenials, essa é a cara do socialismo na prática e é a isso que a concentração do poder nas mãos do governo inevitavelmente conduz. Como avisa o velho ditado, um governo poderoso o suficiente para lhe dar tudo o que você quer é poderoso o suficiente para lhe tirar tudo que você possui. E isso inclui a própria vida. 

Bernie Sanders e os membros da Democratic Socialists of America optam por “passar ao lado do Everest de corpos ... sem uma lágrima, um escrúpulo, um lamento, um ato de contrição ou um exame de consciência, de alma ou de eu”. Ao dar cobertura e aceitabilidade intelectual ao socialismo e ao comunismo, Sanders e a DSA ajudam a ocultar os cadáveres e esconder a verdade das pessoas da geração do milênio, que têm poucas memórias das atrocidades e provavelmente ignoram o histórico pleno do socialismo. Em lugar de serem uma utopia, na prática o socialismo e o comunismo criam um inferno na terra. 

Lawrence J. McQuillan é membro sênior e Diretor do Centro de Inovação em Empreendedorismo do Independent Institute.

Tradução por Clara Allain

©2018 Foundation for Economic Education. Publicado com permissão. Original em inglês

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