O Prospect Park, no Brooklyn, é o Paraíso dos cachorros. Nas manhãs ensolaradas de sábado, o espaço verde do parque, chamado Long Meadow, fica cheio de centenas de cães andando de um lado para o outro sem coleira. Os proprietários dos cachorros ficam ali perto, como pais cuidadosos que, quando a brincadeira termina, vão para o mercado de orgânicos próximo ou saem para um brunch. Mais tarde naquele dia, eles talvez arrangem tempo para uma ioga canina ou para irem a uma padaria canina antes de voltarem para seu prédio adaptado para animais de estimação, muitos com banheiras e tratadores especializados.
Aproximadamente 600 mil cachorros vivem em Nova York, juntamente com meio milhão de gatos. Cerca de metade dos lares norte-americanos têm um animal de estimação, o que significa adicionais 77 milhões de cachorros e 54 milhões de gatos. Em termos geracionais, os millenials são os proprietários mais entusiasmados. Certa de 70 % dele se vangloria de ter ao menos um animal de estimação.
O que você tem menos probabilidade e encontrar, sobretudo nas grandes cidades dos Estados Unidos, são crianças. Animais são hoje mais comuns do que crianças em muitas cidades norte-americanas. São Francisco, por exemplo, abriga quase 150 mil cachorros, mas tem apenas 115 mil habitantes com menos de 18 anos. Mais ao norte, Seattle tem mais lares com gatos do que com crianças. No país como um todo, animais de estimação são mais numerosos do que crianças nos condomínios residenciais. Em regiões de Nova York como Long Island e Williamsburg, solteiros ricos têm mais cães per capita do que em qualquer outro lugar dos Estados Unidos.
Num ensaio recente da Atlantic, Derek Thompson escreveu que “ao renascimento das cidades norte-americanas falta um elemento-chave: nascimentos”. Projeta-se que a população infantil seja reduzida pela metade nos próximos 30 anos. Cidades densamente povoadas estão perdendo famílias com crianças com mais de seis anos e ganhando moradores com formação universitária sem filhos. Na verdade, a parcela de crianças com menos de 20 anos vivendo em grandes cidades está em queda há 40 anos.
Os amigos quadrúpedes dos jovens profissionais substituíram os bebês. Embora as estatísticas sejam imprecisas, os sinais culturais de uma mudança rumo ao “cuidado parental” dos animais de estimação nas grandes cidades são evidentes nos anúncios de imóveis, nos projetos de parques, no varejo e no surgimento de muitos serviços voltados para a “economia dos bebês peludos”. Na falta de crianças, um cachorro ou gato servem como algo semelhante a uma família. Os jovens norte-americanos cuidam de seus animais com um carinho antes reservado aos filhos, com presentes de aniversário caros e “retratos de família” no Instagram.
O custo de se manter um cachorro de porte médio aumentou duas vezes mais do que a inflação desde 2008, para US$12.700 (equivalente a mais de R$ 53 mil). Os norte-americanos gastaram US$70 bilhões (R$ 293 bilhões) no ano passado em cuidados e alimentos para seus animais de estimação; eles gastaram US$59 bilhões (R$ 247 bilhões) em cuidados com as crianças. Não é de se admirar que o setor de seguros-saúde de animais de estimação hoje é “o melhor benefício existente”, sobretudo porque custa perto de US$100 (R$ 419) por mês em Nova York, nos planos mais abrangentes. No meu bairro, Chelsea, a “creche” para animais de estimação vem um com chef, motorista e um quarto privado maior do que o meu.
À medida que os mercados e empresas reagem a essas mudanças com menos instalações voltadas para as famílias, as cidades sem crianças se tornam a regra. Quando a rede de vestuário Zappos perguntou aos funcionários que instalações eles gostariam de ter na nova sede da empresa, a opção mais votada foi “creche para cachorros”. Cada vez mais empresas oferecem “folgas peludas” para seus funcionários e permitem a companhia dos animais de estimação no trabalho.
Cães e gatos são bem-vindos nas cidades, claro, mas sua popularidade cada vez maior entre os jovens — e o consequência declínio no número de crianças — retrata uma mudança na América urbana que teremos de aceitar nas próximas décadas. Nunca os norte-americanos foram tão sozinhos. Os solteiros respondem por até 28% dos lares, número que era de 13% em 1960. Os lares estão diminuindo em Nova York e no restante do país, de cerca de 3,5 pessoas na metade do século XX para 2,67 hoje. Estamos vivendo mais e nos casando mais tarde.
Não é de se admirar que a presença de animais de estimação entre homens e mulheres que vivem sozinhos cresceu 25% desde 2006, sobretudo entre mulheres solteiras. Cães e gatos são fonte de companhia, possivelmente substituindo crianças e cônjuges. De acordo com o Departamento de Estatísticas do Trabalho, casais sem filhos gastam mais com animais de estimação. O primeiro animal de estimação de um millennial é um marco importante.
Nas cidades, “parcães” e lojas voltadas para animais de estimação prosperam, mas famílias passam por dificuldades. Em Nova York, “cães de bolso” andam no metrô com conforto, enquanto uma mãe cai e morre descendo com o carrinho de bebê pelas escadas até a plataforma. As crianças acrescentam mais à vida do que um passeio matinal. As famílias precisam daquilo que as cidades têm dificuldades para dar hoje em dia: moradia a preços acessíveis, boas escolas, ordem pública e espaços públicos de qualidade – mas os legisladores ainda têm de elaborar uma pauta voltada para as famílias urbanas. Criar uma família é difícil, mesmo nas melhores das circunstâncias. As cidades norte-americanas precisam de mais crianças — não apenas de animais de estimação.
*Michael Hendrix é um dos diretores do Manhattan Institute.