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Milton Friedman e a porta dos fundos para o socialismo

Larry Fink, do fundo de investimentos BlackRock
Larry Fink, do fundo de investimentos BlackRock: gerentes de investimentos estão "usando o dinheiro alheio para pressionar por mudanças societais que, numa democracia, são mais propriamente decididas por uma legislatura eleita." (Foto: EFE/Francisca Meza)

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Há cinquenta e dois anos, o economista Milton Friedman publicou um alerta profético. Escrevendo para o New York Times, identificou uma crescente ameaça para as sociedades livres: os executivos que, em vez de focarem no lucro, gastam o dinheiro alheio com "responsabilidade social". Friedman foi enfático: as empresas que seguiram esse rumo não eram só bem intencionadas e iludidas; financiavam um ataque insidioso ao próprio capitalismo. Capitalistas de coração mole estavam arrastando a economia para uma estrada que só pode dar no socialismo.

O contundente ataque de Friedman à responsabilidade social chocou seus contemporâneos, mas ele não era um articulista peso pena que tentava afetar indignação. Dentro de seis anos, ele ganharia um Nobel em economia. Cinco décadas depois, seria difícil negar que Friedman tinha farejado alguma coisa. O capitalismo de stakeholder passou de preocupação de nicho a moda dominante. É celebrada com pompa e circunstância pela Business Roundtable e os maiores gerentes de fundos de investimento, incluindo Larry Fink da BlackRock. A turma de rent-seeking do ESG está nadando em mais dinheiro do que um cabaré durante a Febre do Ouro, enquanto republicanos ambiciosos se aproveitam dos excessos do "capital lacrador". Mas muitos não veem a ameaça maior. [Business Roundtable: Uma ONG de lobistas dos EUA. Larry Fink, ESG e BlackRock: Ver esta matéria. Capitalismo de stakeholder: defendido por Klaus Schwab, cujo livro foi resenhado aqui. Rudemente, "capitalismo de stakeholder" é capitalismo de bom-moço. (N. t.)]

Pode ser mais fácil avaliar, hoje, como a responsabilidade social das empresas corre o risco de torná-las menos eficientes enquanto canalizam recursos para as causas impopulares da esquerda, mas Friedman viu um problema muito maior. Ele viu no capitalismo de stakeholder uma "doutrina fundamentalmente subversiva" que poderia guiar a sociedade livre rumo a um penhasco. Este era o pesadelo pelo qual ele apostou seu capital reputacional para alertar contra.

Para avaliar esse alerta, é útil nos voltarmos para o seu livro 'Capitalismo e liberdade', citado por ele no artigo. Havia sido publicado oito anos antes e baseia-se numa série de palestras dadas no Wabash College durante o ano de 1956. Isto mostra que o assunto não era uma preocupação passageira para Friedman, mas sim uma questão com a qual se preocupava muito quatorze anos de escrever o artigo no New York Times. E, como ele nota tanto no artigo como no livro, o seu ceticismo foi compartilhado por Adam Smith, que, em 'A Riqueza das Nações', escreveu sobre o homem de negócios que, "buscando seu próprio interesse, amiúde promove o interesse da sociedade com mais eficácia do que quando ele de fato busca promovê-lo."

O núcleo da objeção de Friedman é simples: em nossa sociedade, "os indivíduos são os donos fundamentais da propriedade". A doutrina da responsabilidade social anula a propriedade em favor de metas coletivas. Tornar as empresas, em vez do Estado, no braço do "bem social" coletivo dá a impressão de evitar o coletivismo político. Mas isso é uma ilusão. A responsabilidade social corporativa é um duro desvio da rodovia do capitalismo. Leva a uma estradinha corporativista que pode ser pitoresca, mas dá no socialismo.

Essa estrada começa na transformação dos negócios em um tipo de caixa dois para financiar ativistas que são radicais demais para terem sucesso por meio de campanhas políticas. Como diz Friedman, a responsabilidade social corporativa é um atalho para um tipo de taxação sem representação. "Aqueles que defendem os impostos e gastos em questão fracassaram na persuasão da maioria dos seus concidadãos para agir nesse sentido [e] querem conseguir com expedientes antidemocráticos o que não conseguiram com expedientes democráticos."

Meio século depois do artigo de Friedman, começamos a despertar para esse estado de coisas iliberal. De fato, Andrew Stuttaford recentemente escreveu para a Capital Matters mostrando como os negócios e os gerentes de investimentos estão "usando o dinheiro alheio para pressionar por mudanças societais que, numa democracia, são mais propriamente decididas por uma legislatura eleita."

Políticos como Ron DeSantis estão aproveitando a oportunidade para denunciar a agenda das empresas, da Disney à Ben & Jerry's, e buscar desviar as firmas para uma direção mais palatáveis para os seus eleitores. Mas não é uma panaceia. Pelo menos serve para marcar uma aceleração rumo à estrada do coletivismo político.

Não importa qual lado a política está, se continuamos andando na direção errada. Pedir que os negócios reflitam os valores dos seus constituintes em vez de focar em fazer dinheiro é fracassar na tentativa de fugir das raias da responsabilidade social corporativa.

A mentira no fundo dessa doutrina, como Friedman entendeu, é que essas decisões são incontroversas. Seus defensores confiam no vago instinto público de que os grandes negócios sabem qual é a coisa certa a ser feita e escolhem outro rumo só por ganância — ou doutrinação progressista. Mas, como Friedman notou, e nossos tempos polarizados confirmam, "o bem de um homem é o mal do outro". Ele pergunta em 'Capitalismo e Liberdade': "Indivíduos autosselecionados podem decidir qual é o interesse social?" É claro que toda a nossa empreitada democrática grita "não" a plenos pulmões. Isto, ao menos, é uma coisa na qual os estados Democratas e Republicanos podem concordar; e é para isso que a política serve. Mas empresas politizadas, por mais que democráticas, não são boas para ninguém.

Friedman diz que o capitalismo de stakeholder professa "que fins coletivistas podem ser alcançados sem meios coletivistas." Esta é a sua ilusão fatal. Quando o povo notar quanto poder corporativo foi tomado por ativistas políticos, inevitavelmente exigirá o direito à supervisão política esperada noutras esferas e, nisso, jogará fora o capitalismo. "Se os homens de negócios são servos civis em vez de empregados dos seus stakeholders, então numa democracia eles irão, mais cedo ou mais tarde, ser escolhidos por técnicas públicas de uma eleição ou indicação." E então nossa encantadora estradinha — que parecia bem mais aprazível do que a rodovia agressiva e lucrativa do capitalismo ­— alcança o seu destino.

Os negócios voltados para o lucro e as sociedades de indivíduos proprietários andam juntos. Os republicanos precisam entender isso e levar de volta seus constituintes para a rodovia do individualismo capitalista. Já estamos na direção errada. Buscar a politização dos negócios pela direita só vai afundar o acelerador.

©2022 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.

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