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Depoimento

Minha vida nova depois do pesadelo transgênero

James Shupe foi considerado a primeira pessoa não-binária dos Estados Unidos. Poucos anos mais tarde, ele reconhece que o caso se baseava em mentiras. (Foto: Reprodução/ Wikipedia)

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Em dezembro passado, recebi um presente de Natal adiantado, algo que eu teria rejeitado um ano antes: um “m” de “masculino” em minha carteira de motorista.

Voltar a ser homem foi algo que marcou o fim de uma longa jornada de autoengano e confusão quanto ao gênero. Ao longo do caminho, me tornei ativista transgênero e, depois, a primeira pessoa legalmente não-binária dos Estados Unidos.

Na véspera do Natal de 2019, me cansei das mentiras. Graças a Deus um juiz de Portland acatou meu pedido para voltar a ser legalmente homem.

Isso tudo durou cinco anos. Ganhei notoriedade como ativista transgênero em 2015, quando disse ao New York Times: “Hoje vivo num mundo onde políticos conservadores radicais e grupos religiosos atacam minha existência com leis que me negam direitos humanos básicos como um banheiro adequado à minha identidade de gênero”.

Novo nessa coisa de me identificar como mulher com essa idade, mas doutrinado pelos vendedores da ideologia de gênero que me convenceram de que era uma, eu incorretamente acreditava que ter acesso a banheiros femininos era uma questão de direitos humanos.

Eu estava enganado. Pensando bem, tudo foi parte de uma busca egoísta por alimentar minha antiga fantasia sexual de ser mulher – um transtorno mental chamado autoginofilia.

Apesar de meu caso emblemático ter sido construído a partir de mentiras, falsidade e pseudociência, eu não me importava. Não estava aí pelo fato de a petição para a mudança de sexo dizer que eu era não-binário, com dois médicos para atestar isso.

Não estava nem aí para o fato de que, antes da audiência, que durou apenas três minutos, meu advogado ter dito que o caso estava praticamente assegurado, que o juiz tinha um filho transgênero e recentemente tinha dado permissão para que uma criança de 12 anos se submetesse a uma mudança de sexo.

Nada disso importava porque ganhar significava me vingar contra aqueles que eu acreditava que estavam me prejudicando e me impedindo de satisfazer meu vício – as feministas e os cristãos conservadores.

Certo, eu pensava na época. Se esses grupos não me querem no banheiro feminino, então ajudarei a destruir justamente aquilo que eles desejam proteger: a definição do sexo como o conhecemos há mais de 200 anos nos Estados Unidos.

Quando tudo terminasse, o sexo deixaria de ser algo baseado na ciência, em coisas como cromossomos e genitais vistos quando do nascimento. Isso seria determinado por sentimentos baseados no que mais tarde eu viria a chamar de estereótipos sexuais.

Eu sabia que, se ganhasse o caso e fosse declarado não-binário (nem homem nem mulher) e consagrasse isso em lei, os banheiros por consequência teriam de ser transformados em ambientes neutros de gênero.

Pessoas magoadas acabam por magoar outras pessoas, então na época eu não me importava com o fato de minhas ações prejudicarem mulheres e meninas.

Para mim, a minha vitória no caso significava me vingar de femininas radicais que se recusavam a me aceitar como uma delas. Deixar de ser juridicamente classificado como homem ou mulher significava que esse grupo de mulheres más não poderia mais me acusar de me apropriar da feminilidade e de ser uma caricatura de mulher – mesmo que isso fosse verdade (e era).

Da mesma forma, queria me vingar dos cristãos, outro grupo que me combatia desde que eu começara a usar peruca e vestido, expressando minha sexualidade em público.

Não conhecia muito da Bíblia na época, mas sabia que os cristãos acreditavam que Deus criara apenas homens e mulheres. Então jurei destruir essa crença sagrada.

Virando não-binário

Quando finalmente “rompi” com a binaridade de gênero, a reação da imprensa foi espetacular. Até veículos de imprensa de lugares distantes como a Alemanha torceram por mim, celebrando minha vitória e me acolhendo como um herói LGBT.

Em pouco tempos havia estados debatendo se deveriam reconhecem até 73 identidades de gênero, enquanto ativistas discutiam se essas falsas identidades baseadas em sentimentos eram válidas e reais.

Quanto a mim, as celebrações se prolongaram por anos, enquanto eu divertia repórteres com histórias de como me identificava com o terceiro gênero: uma combinação especial de biologia masculina e identidade feminina.

Claro que tudo era uma fantasia, mas os jornalistas engoliam aquilo. Ninguém jamais duvidou de mim. E o mais importante: eu mesmo acreditava. Ter um “X” oficinal na minha carteira de motorista servia como uma chancela do governo de que eu era realmente não-binário.

O X deveria significar “sexo sem especificação ou indeterminado”, mas não é nisso que as pessoas com essa designação acreditam. Quando nasci, meu sexo correto era facilmente determinável a partir dos genitais masculinos que eu exibia.

Hoje, depois de recuperar a razão e recuperar juridicamente meu sexo biológico, reconheço o dano que causei. Mas meu retorno à sanidade e a aceitação da minha masculinidade silenciaram toda a torcida da esquerda.

Ainda mais importante do que isso, assumi a responsabilidade pelo dano que causei, pelos milhões de dólares gastos para promover a fraude da qual me envergonho de ter participado. Na igreja e publicamente, confessei meus pecados e me ajoelhei diante de Deus, implorando para que Ele me erguesse.

Como resultado, Deus me ajudou e hoje estou tendo a ajuda que deveria ter obtido há muito tempo.

Esclarecendo as coisas

Em abril de 2019, o Departamento de Assuntos dos Veteranos concordou em me diagnosticar com uma parafilia sexual, a verdadeira causa por trás da minha confusão sexual anterior. E, em dezembro, apesar do meu passado e de quem eu fora, uma organização jurídica cristã concordou em me ajudar a trocar meu sexo de volta para “masculino”.

No dia 12 de dezembro, um advogado de Portland apresentou uma nova petição de mudança de sexo para o mesmo tribunal que tinha declarado que meu sexo era não-binário.

Nos documentos, pedimos que fosse observado o sexo masculino que me foi designado corretamente quando do nascimento e que me fosse dado novamente meu nome precioso dado por meus pais.

Depois de receber a notícia de que a petição foi aceita, rezei. Outros se juntaram a mim, pedindo que Deus acelerasse o processo. Em pouco tempo nossas orações foram atendidas.

Em apenas uma semana, um juiz mais competente assinou a sentença, pondo fim à ficção jurídica por trás da fraude que tinha permitido aquele “X” nas carteiras de motoristas de uma dúzia de estados.

No dia 24 de dezembro, um funcionário do tribunal protocolou a sentença que dizia que meu sexo era masculino e meu nome era James Clifford Shupe, colocando também a sentença no correio, com destino ao estado onde eu agora resido, a Flórida.

O presidente Ronald Reagan me ensinou, quando eu ainda era um jovem soldado, a votar com propósito, e foi o que fiz deixando o Óregon para deixar claro que eu não faria parte da mutilação de crianças que acontece sob o disfarce de terapia de gênero.

Seguindo em frente

As pessoas costumam me perguntar como se deu essa reviravolta e minha conversão.

A resposta está nos 12 passos dos Alcoólicos Anônimos, que também se aplicam a outros vícios, como meu comportamento sexual compulsivo.

Admiti que não tenho poder sobre meu transtorno mental e meu comportamento travesti. Aceitei o fato de que minha vida tinha se tornado ingovernável e que somente algo mais forte do que eu podia restaurar minha sanidade.

Durante minha longa jornada, primeiro me identificando como mulher e depois como não-binário, estive entre muitos mendigos viciados em drogas e álcool que dormiam nas ruas de West Coast. Tive meu corpo violentado em casas noturnas de Portland, em porões dedicados ao sadomasoquismo e em cinemas pornográficos. Prejudiquei meu corpo com hormônios e comportamentos sexuais de risco. E desrespeitei minha esposa e meus votos maritais com transgressões indesculpáveis.

Precisei ver e experimentar toda essa destruição para perceber finalmente que o cristianismo gera famílias mais sólidas, comunidades mais seguras e, mais importante, um país melhor.

Assim como aconteceu com Paulo, meus atos anteriores de violência contra cristãos e contra mulheres e meninas, quando entrei no banheiro delas, sempre me fará respeitar as mulheres, o povo norte-americano e Deus.

E também como Paulo, eu carregarei um espinho irremovível no meu corpo. Estudiosos da Bíblia não chegaram a um consenso quanto a que tipo de espinho Paulo levava consigo, mas, quanto a mim, o espinho é o transtorno da autoginofilia – um transtorno mental contra o qual lutarei até o fim da vida.

Eu sofrerei recaídas ao longo da minha recuperação? Talvez — e, sinceramente, já até sofri. Durante minha destransição, estabeleci o objetivo irreal da perfeição, me livrando de todas as minhas roupas femininas e prometendo jamais usá-las e agir sexualmente como mulher novamente.

Isso provou ser um desastre. Assim que minha testosterona volto aos níveis normais, tive uma recaída e voltei a comprar várias roupas femininas.

Mas nenhuma recaída dessas significa que eu ou outro homem com esse transtorno mental é mulher.

Alguns cristãos comparam minha situação à de Norma McCorvey, a querelante no caso Roe vs. Wade [que legalizou o aborto nos Estados Unidos] que mais tarde se tornou ativista pró-vida.

No caso em que eu pedia que fosse reconhecida minha condição de não-binário, menti sobre não ser homem. Da mesma forma, McCorvey mentiu sobre ter sido sexualmente abusada. E, em ambos os casos, uma lacuna na lei estadual foi usada para a promoção de práticas médicas destrutivas. No Texas foi o direito ao aborto. No Óregon, para mim, foi o direito a trocar de sexo.

Os nossos dois casos acabaram por dar vazão a algo monstruoso.

Assim como McCorvey, por causa da imensidão de meus malfeitos e os danos causados, procurei perdão no único lugar capaz de me perdoar: a igreja.

Se eu tiver uma recaída, a reação correta dos outros deveria ser me ajudar imediatamente. Prender-me se necessário e se a recaída chegar a me causar danos. Mas nunca, de jeito nenhum, permitir que eu ceda às minhas antigas e novas fantasias.

James Shupe (antes chamado Jamie) pediu dispensa do Exército como sargento. Ele se identificava como transgênero e foi o primeiro norte-americano a ser considerado juridicamente não-binário.

© 2020 The Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês

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