Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Programa de Imunizações

Ministério contraria evidências ao tornar vacina para Covid obrigatória para crianças

Vacina covid crianças
Uma bebê recebe uma dose da vacina da Pfizer para Covid no Rio de Janeiro, 17 de novembro de 2022. (Foto: EFE/ Andre Coelho)

Ouça este conteúdo

O Programa Nacional de Imunizações (PNI), que determina quais vacinas são obrigatórias no Brasil, agora inclui as vacinas da Covid-19 para crianças a partir dos seis meses de idade, anunciou o Ministério da Saúde na terça-feira (31). A punição para pais e responsáveis que não seguirem o calendário de vacinação pode envolver recusa de matrícula para as crianças em escolas e creches, perda de benefícios sociais como o Bolsa Família, multas, bloqueio de passaporte e restrições ao uso do transporte público. Prisão não é prevista por lei, porém, como noticiou a Gazeta do Povo em janeiro, tramitam projetos de lei prevendo até oito anos de encarceramento para os hesitantes. Ainda não é consenso, contudo, que a imunização por vacinas de Covid sequer seja necessária em crianças, dado o em geral baixo risco da doença para elas.

Além disso, a segurança, especialmente das vacinas baseadas nas nanopartículas de mRNA, como a Comirnaty da Pfizer-BioNTech, não está bem estabelecida para as crianças pequenas. Um efeito colateral preocupante, em baixa frequência, que já consta na bula é a inflamação do coração e seu revestimento (miocardite e pericardite), especialmente nos meninos. Um estudo recente descobriu que até metade dos que desenvolvem esse problema permanecem com cicatrizes no coração um ano depois.

Um novo estudo em pré-publicação sugeriu um novo risco: “convulsões atingiram o limiar estatístico para um sinal [de segurança] em crianças dos dois aos quatro anos” após a vacinação com a Comirnaty em três bases de dados e, em duas dessas três, as convulsões foram detectadas após a primeira e a segunda dose nessa faixa etária. Os resultados, que são baseados em mais de quatro milhões de jovens dos seis meses aos 17 anos de idade, também valem para a vacina de mRNA da Moderna. Disponível desde o dia 15 de outubro, a pré-publicação, com dezenas de autores americanos, foi liderada por Steven A. Anderson, cientista da Administração de Alimentos e Drogas (FDA), agência sanitária americana.

Analisando os dados do estudo, Vinay Prasad, médico e professor de epidemiologia e bioestatística na Universidade da Califórnia em São Francisco, diz que o tratamento dos dados indica que esses riscos relatados podem ser o piso e não o teto, ou seja, podem ser subestimativas. A frequência de miocardite foi de uma pessoa em dez mil vacinados do sexo masculino, o que para ele sugere que as bases de dados usadas não têm metade dos casos (outras publicações sugerem um caso em três ou cinco mil vacinados do sexo masculino), e a frequência das convulsões foi de um caso a cada 12 mil vacinados. “Vamos conseguir uma estimativa precisa desse risco? Duvido”, comenta o cientista, em publicação própria.

A cardiologista Ellen Guimarães, que atua em Goiânia, concorda com o médico americano. “Provavelmente a incidência deste efeito colateral é maior do que a retratada, porque assim está sendo com os dados de miocardite”, diz ela. “Pensando que não há nenhum dado que mostre redução de gravidade [da Covid] para essa faixa etária, é preocupante”.

Para Prasad, “não existe um jeito de pesar o excesso de convulsões contra os ganhos da vacinação” contra Covid em crianças. “Primeiro, não temos a estimativa precisa do risco de convulsão e, segundo, não fazemos ideia de qual é a redução do risco absoluto em más consequências da Covid-19 que conseguimos vacinando crianças com essa idade”. As vacinas da Covid só foram oferecidas para crianças bem depois de testadas em adultos, e os dados para crianças “são de credibilidade muito baixa” e não foram significativos para o uso clínico. “Eu me preocupo que vacinar crianças dessa faixa etária poderiam representar um dano no cômputo final”, conclui o cientista.

A Covid parece ser menos perigosa para crianças saudáveis que a gripe. No calendário de vacinação do PNI não consta a vacina contra gripe entre as obrigatórias. Esta vacina, que possivelmente previne a doença de Alzheimer, também não é obrigatória para adultos.

“A taxa de mortalidade por Covid-19 em pessoas com menos de 14 anos de idade era de apenas 0,03% a 0,1%”, explicou o médico Alessandro Loiola em publicação com grande repercussão no X (Twitter). “Como médico, não posso deixar de manifestar a minha profunda preocupação com a decisão tomada pelo Ministério da Saúde”.

A secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente, Ethel Maciel, defendeu a decisão no site do ministério: “A Covid-19 é uma doença de constante monitoramento, requer atenção e por isso temos fortalecido as ações de prevenção por meio do Movimento Nacional da Vacinação”, disse ela, comparando a doença ao sarampo e coqueluche.

Os Estados Unidos são um caso relativamente isolado de recomendação das vacinas contra Covid para bebês e crianças pequenas no mundo desenvolvido. A maior parte da Europa não segue essa recomendação. Como mostrou a Gazeta do Povo em janeiro, quando a ministra da Saúde Nísia Trindade tomou posse do cargo, sua gestão da pandemia na Fiocruz repetiu os erros dos americanos. A alteração do PNI sugere que o padrão no Ministério da Saúde será o mesmo — porém, no caso dos americanos, é uma recomendação, não uma obrigatoriedade.

Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.