Concorrente da Uber, aplicativo estatal da Prefeitura de São Paulo acumula reclamações seis meses após lançamento| Foto: Divulgação
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Na quarta-feira (4), durante audiência na Câmara dos Deputados, o ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, voltou a afirmar que “o problema é da Uber”, caso a empresa decida sair do país em razão das recentes medidas que forçam a regularização de seus trabalhadores.

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“Primeiro, que a Uber não vai sair do Brasil. Segundo, se caso queira sair, o problema é só da Uber, porque outros concorrentes ocuparão esse espaço”, afirmou na ocasião.

Ao ser questionado sobre o tema, o ministro repetiu a sugestão oferecida em fevereiro deste ano, quando a regulamentação começou a ser sondada, de que os Correios poderiam substituir o aplicativo.

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A ideia é que a estatal desenvolva sistema similar “sem a neura do lucro dos capitalistas, como é o caso de Uber e iFood", afirmou Marinho.

No entanto, alternativas de aplicativos estatais similares à Uber e a outras soluções, provam que alcançar a efetividade de gigantes do transporte, varejo e alimentação não é para qualquer um.

O aplicativo mobizapSP, lançado pela prefeitura de São Paulo em março deste ano, é um deles.

Nota baixa e reclamações 

O perfil oficial do mobizapSP no X, antigo Twitter, está repleto de reclamações de usuários, que reportam falta de carros para atender seus chamados e preços não atrativos, entre outras queixa.

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Vários perfis, inclusive, fizeram seguidas reclamações por falta de atendimento:

Ainda com tantas queixas, há quem seja adepto do mobizapSP. Um perfil afirma que, em São Paulo, usa o aplicativo. Já outro disse que "é muito mais barato que o Uber e que todo mundo em sp está usando".

No site Reclame Aqui, há 47 reclamações do aplicativo, das quais 46 foram respondidas. A avaliação média da empresa é de 6,4, que a qualifica como “regular”.

Dentre as queixas mais comuns estão o depósito de créditos que não conseguem ser utilizados pela falta de carros para atender aos chamados, falhas no sistema, no suporte e no atendimento ao cliente.

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Uma usuária afirmou que, dos R$ 30 que depositou e que foram consumidos sem o uso do aplicativo, apenas R$ 20 foram estornados. Mesmo com o pedido de desculpas da empresa e garantia de devolução do valor remanescente em 72h, o cliente alegou que o problema não foi resolvido.

Já outro chegou a perguntar se o mobizapSP seria um golpe. Após baixar o aplicativo, Pascual disse ter feito recarga no valor de R$ 100, mas que não conseguia utilizar o crédito pela falta de resposta aos chamados de corrida. Em resposta, a empresa informou que o estorno do valor havia sido realizado, o que foi confirmado pelo usuário.

Outro cliente também considerou a empresa péssima e disse que não quer mais utilizar seus serviços. Ele não conseguiu receber o estorno de parte do depósito feito e não utilizado em razão da falta de carros que atendessem seus chamados. A empresa alegou que não realiza estorno de créditos adquiridos em carteira digital.

Avaliações abaixo na média em lojas de aplicativos 

Na Apple Store, a avaliação do aplicativo é 1, a nota mais baixa que se pode obter. Já na Google Play Store, é de 2,2, sendo que, das 1.486 avaliações, 1.015 foram de uma ou duas estrelas, contra 328 de cinco estrelas.

Em agosto deste ano, o usuário B.M. classificou o mobizapSP como péssimo, pois não conseguia marcar de forma precisa a sua localização, além do aplicativo não conseguir concluir os pagamentos no cartão de crédito cadastrado. “É uma dor de cabeça sem tamanho”, afirmou.

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Dois usuários chegaram a perguntar se o aplicativo havia sido lançado sem testes. “App cheio de bugs e que apresenta mau funcionamento, dando a impressão de que foi lançado antes mesmo de testar”, comentou um deles.

Preço justo para motoristas e usuários? 

O mobizapSP foi lançado pela Secretaria Municipal de Mobilidade e Trânsito (SMT), da prefeitura de São Paulo, no dia 23 de março deste ano. Segundo a SMT “é a única plataforma gerida pela gestão pública para motoristas e passageiros que fazem viagens privadas".

O desenvolvimento do projeto foi realizado por meio de licitação pública e a empresa vencedora, o Consórcio 3C, ganhou o contrato ao oferecer a cobrança de menor percentual sobre o valor das corridas.

De acordo com a SMT, o aplicativo “visa melhorar as condições de acessibilidade e mobilidade urbana, com foco em facilidade, eficiência, segurança e preço justo, além de entregar uma maior remuneração para os motoristas parceiros”.

Para tanto, a taxa de administração é de 10,95%, o que a tornaria uma alternativa aos aplicativos que atuam na cidade. Na Uber, não há taxa fixa, sendo que a cobrança pode variar de 1 a 40%, dependendo das condições do trajeto.

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Já na 99, caso o motorista realize o mínimo de dez viagens por semana, a taxa cobrada é de 19,99%. Quando taxas maiores são aplicadas, antes que o total mínimo seja atingido, a empresa realiza o reembolso ao condutor na segunda-feira posterior.

Outra vantagem da mobizapSP seria o valor da viagem para o passageiro, calculado de acordo com a bandeira, o tempo estimado de viagem e a distância. Os usuários podem pagar as corridas em dinheiro, cartões de crédito, débito e crédito no aplicativo.

A Uber calcula o valor da corrida com base em três fatores: o valor inicial, o tempo estimado e a distância do trajeto. Ainda são considerados pedágios, desvios e trânsito intenso, fatores que podem encarecer a corrida.

Já na 99 o valor considera a distância e o tempo da corrida, mas também pode variar conforme o fluxo de trânsito, chuvas ou alto número de pedidos na região.

Problemas desde o início 

Testes realizados pelo jornal O Estado de S. Paulo em abril deste ano comprovaram que, em momentos de pico de trânsito, a corrida no mobizapSP ficava mais barata, mas em outras ocasiões, na comparação com a Uber e a 99, os valores eram bastante semelhantes.

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Segundo reportado pelo jornal, o aplicativo apresentou instabilidade nos primeiros 15 dias de abril, quando os usuários não conseguiram se cadastrar, deparando-se com uma tela cinza sem a possibilidade de prosseguir com o processo.

Outra reportagem, do Jornal do Comércio de Recife, também encontrou poucas diferenças nos valores oferecidos pelo mobizapSP, a Uber e a 99. Segundo o jornal, usuários foram às redes sociais comentar que os valores eram muito parecidos.

Em junho deste ano, o site G1 reportou inúmeras reclamações. Um dos motoristas alegou que não recebia chamados, enquanto usuários reclamavam da falta de carros para atender suas demandas.

Para driblar as questões, primeiramente o Consórcio 3C ofereceu bônus de R$ 15 na primeira corrida para os motoristas. Depois, ofertou R$ 15 extra para os parceiros que fizessem duas corridas acima deste valor.

A concessionária chegou a realizar o sorteio de um carro: motoristas que fizessem corridas pelo aplicativo concorriam a um Corolla, no valor de R$ 198 mil. A cada corrida realizada, o motorista recebia um "número da sorte" para participar do sorteio, que foi realizado em julho.

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Primeira corrida, motoristas e usuários 

A corrida inaugural do aplicativo foi realizada no dia 23 de março deste ano, em um trajeto entre a Alameda Santos, no bairro Jardim Paulista, até o Viaduto Jacareí, na Bela Vista. O aplicativo só aceita trajetos com origem em São Paulo capital.

De acordo com a SMT, no dia do lançamento, o aplicativo contava com 32 mil motoristas e 56 mil usuários cadastrados. Nas três primeiras horas de funcionamento, mais de 3 mil corridas haviam sido realizadas.

Atualmente, segundo a SMT, o mobizapSP conta com 65.194 motoristas cadastrados e 195 mil usuários. Ao todo, 95 pessoas trabalham para a gestão da plataforma, que não divulga seus dados financeiros.

Em comparação, a Uber possui 1 milhão de motoristas cadastrados em todo o país e 30 milhões de usuários – a empresa não especifica os números de São Paulo capital por questões de concorrência. Em 2021, segundo relatório de impacto da empresa, a Uber movimentou R$ 36 bilhões na economia nacional.

Adesão e condições do mobizapSP 

Para aderir ao mobizapSP o motorista precisa apresentar uma série de documentos de identificação, dentre os quais a carteira de motorista categoria B ou superior com especificação que exerce atividade remunerada, documentação do veículo e certidão negativa de antecedentes criminais. Os requisitos são semelhantes aos das outras plataformas.

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Caso não cumpra com alguma das solicitações ou se houver divergência das informações prestadas ou irregularidades na documentação, o motorista terá o cadastro negado na plataforma. O mobizapSP aceita condutores com deficiência e carros adaptados.

Assim como em outras aplicações, os motoristas podem ser bloqueados se cometerem infrações, importunações de cunho sexual, discriminação, apresentarem comportamento grosseiro e desrespeitem as leis de trânsito e do aplicativo, entre outras situações.

Um sistema de avaliação, de uma a cinco estrelas, e espaço para comentários, também está disponível, de mesma forma que nas aplicações comerciais.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]