O movimento contra as mudanças climáticas se transformou na “religião secular do mundo moderno”, como escreveu recentemente Gerard Baker, colunista do Wall Street Journal.
Os ativistas pregam um evangelho conservacionista que pretende redimir os pecados ambientais da Humanidade. Eles nos aconselham a nos abstermos de carnes para reduzirmos nossa “pegada de carbono”, e preveem que a Terra será destruída, a não ser que os governos de todo o mundo confiem no oráculo que lhes fez essa revelação.
Os adoradores do clima se apropriam de aspectos do cristianismo para conclamar o mundo a se arrepender de seu “Pecado Original de uma revolução industrial baseada no carbono”, de acordo com Baker. Eles fazem isso e muito mais. Conscientemente ou não, os fiéis dessa religião têm adotado o conceito cristão do Juízo Final ou Fim do Mundo. Eles também incorporaram à sua fé elementos do neopaganismo.
Baker não foi o primeiro a perceber elementos do Juízo Final no evangelho ecológico. Os pesquisadores Rachelle Peterson e Peter Wood notam no livro “Sustainability: Higher Education’s New Fundamentalism” [Sustentabilidade: o novo fundamentalismo da educação superior] que “a sustentabilidade, assim como o cristianismo, vê a Terra como um lugar antes pristino e puro, mas hoje corrompido; ela reconhece o caráter pecaminoso do Humanidade” e “sugere formas de expiação e absolvição”.
Mas em vez de buscar redimir a Humanidade “na próxima vida”, a sustentabilidade promete adiar o fim dos tempos e salvar os pecados “aqui e agora”.
Alguns episódios enfatizam a semelhança entre o culto ao meio ambiente e o neopaganismo. Sumantra Maitra, do Federalist, cita um evento no Seminário Teológico de Nova York, onde os alunos confessaram seus pecados contra as plantas. Maitra argumentava que isso significa que os ativistas são “animistas pagãos”. Em outras palavras, eles acreditam que adorar a natureza lhes permite “cultivar uma alma viva conectada ao Universo”.
Maitra também deu destaque a uma reunião nos Alpes glaroneses, onde 250 suecos organizaram um funeral para uma geleira. E Martha Sheen, do Irish Times, identificou tons de paganismo no código do evangélico climático que diz como devemos viver e que prescreve “sacrifícios ritualísticos” como deixar de consumir carne para “satisfazer aos deuses”.
Maitra e Sheen notam que, ao contrário de cristãos, judeus e muçulmanos, a adoração a um Criador que se relaciona com a Humanidade de um plano sem espaço e tempo, os neopagãos adoram a Terra e outras coisas por Ele criadas.
O surgimento de temas pagãos nos círculos ambientalistas faz parte de uma tendência de afastamento das fés judaico-cristãs e de aproximação a religiões como a Wicca, que ganhou popularidade entre millennials, público-alvo mais preocupado com as mudanças climáticas.
Os wiccanos não são a única seita neopagã. “Druidas, adoradores da Deusa, agnósticos e xamãs” contam também. E ainda que as crenças do neopaganismo sejam variadas, o historiador Ronald Hutton, da Universidade Bristol, disse que os neopagãos praticam “formas de adoração que consideram a natureza sagrada”.
Alguns adoram seres inanimados como “árvores, plantas e animais” para glorificar a “alma” de cada um deles. Os celtas pré-cristãos, por exemplo, adoravam o rio Boyne, na Irlanda, como Boann, a “deusa celta da poesia, fertilidade, inspiração, conhecimento e criatividade”, para citar uma escritora feminista. Quase todos os pagãos consultam um guru-astrólogo e jogam tarô.
Os neopagãos são uma minoria dos norte-americanos, mas as ideias deles têm chegado às elites. Em março, a deputada republicana Alexandria Ocasio-Cortez cedeu a fãs que estavam obcecados quanto à hora do nascimento dela e seu horóscopo e o futuro do país. Como resposta ao “fervor público”, ela permitiu que o astrólogo Arthur Lipp-Bonewits tuitasse a informação.
A cantora e crédula na crise climática Lana Del Ray se descreveu, em 2017, como uma “bruxa”, e disse ter “amaldiçoado” o Presidente Donald Trump. Ela conclamou seus seguidores no Twitter a fazerem o mesmo, orientando-os a “se unirem” contra o Presidente em datas que “correspondam às luas crescentes”.
O quarterback do New England Patriots, Tom Brady, se vangloriou de suas conexões com o neopaganismo depois de ganhar o sexto título do Super Bowl, em fevereiro. Ele disse aos repórteres que sua esposa, a supermodelo e apologista da crise climática Gisele Bundchen, “sempre monta um altarzinho” para ele antes de um jogo importante e lhe dá “cristais de cura e proteção”.
Bundchen supostamente previu que os Patriots venceriam o Los Angeles Rams no Super Bowl 53 e disse a Brady naquela noite: “Você tem sorte de ter se casado com uma bruxa”.
Também há relatos de que a ícone conservadora e ex-Primeira Ministra britânica Margaret Thatcher, que exerceu um importante papel ao convencer os Estados Unidos a assinarem o Protocolo de Montreal, em 1987, consultou um astrólogo depois de ter sido quase assassinada, em 1984, por terroristas do IRA. Em 1996, o Irish Times mencionou a astróloga Marjorie Orr dizendo que Thatcher lhe pediu para “alertá-la de ameaças futuras”.
O ex-presidente Ronald Reagan, sem o qual não teria havido o Protocolo de Montreal, usou sua influência para ajudar o tratado por motivos, de acordo com o New York Times de 2013, “que ninguém jamais entendeu direito”.
Reagan, claro, foi alertado de que o fracasso do protocolo significaria o fim da camada de ozônio da Terra. Mas, de acordo com o ex-Chefe da Casa Civil Don Regan, “praticamente todos os passos importantes” de Reagan na Casa Branca era dado depois de uma consulta a Joan Quigley, astrólogo contratado pela sra. Reagan depois que John Hinckley Jr. tentou matá-lo em frente ao Washington Hilton, em março de 1981.
Em determinado momento, escreveu o historiador H. W. Brands em “Reagan: The Life” [Reagan: a vida], as pessoas do governo tinham a impressão de que as consultas a Quigley determinavam até mesmo o regime médico do presidente.
Nada disso quer dizer que todos os que acreditam na crise climática sejam neopagãos, mas sempre que se ouve a elite pedir pela salvação do planeta também se encontra sinais de neopaganismo.
O surgimento de textos revelando as bases religiosas do movimento ambientalismo incomodou ao menos alguns de seus defensores.
De acordo com um post do site Sightings, publicado pelo Centro Martin Marty de Estudos da Religião, ligado à Universidade de Chicago, os conservadores usam os mesmos argumentos para tudo, do “marxismo ao socialismo, progressismo e o capitalismo do Vale do Silício”, associando os movimentos também ao Juízo Final cristão e sua própria visão de mundo.
Mas a crítica a ideias seculares quanto ao Juízo Final não é um nicho de mercado para direitistas. No livro “God and Gold: Britain, America, and the Making of the Modern World” [Deus e Ouro: o Reino Unido, os Estados Unidos e a criação do mundo moderno], o historiador Walter Russell Mead investigou as origens cristãs e abraâmicas das ideologias seculares atuais não para desacreditá-las, sim para explicar como elas influenciam movimentos políticos internos e a política externa.
A visão abraâmica da história ensina que os eventos são “parte de uma narrativa que remonta ao nebuloso passado pré-histórico e avança até um clímax inimaginável no futuro”.
O liberalismo tomou emprestado do abraamismo a ideia de que a história tem “uma forma e um objetivo: um começo, meio e fim”: a Humanidade teve início na pré-história, num estado de liberdade natural. Os primeiros governos despóticos trocaram essa liberdade por uma era de guerra de classes, guerra religiosa e arbitrariedade estatal. A história termina quando democracias representativas, a liberdade religiosa, o livre mercado e as baixas tarifas alfandegárias entre países amigos cumprem o objetivo do liberalismo de criar uma “ordem mundial próspera, liberal e pacífica”.
Os ativistas (e a maioria dos progressistas seculares) entram na categoria do que Mead chamou de “abraâmicos inconscientes” ou “aqueles cujos mundos mental e político são moldados de acordo com o contexto abraâmico sem a influência de uma crença religiosa consciente”.
Na versão ambientalista da história, o “Jardim do Éden” da Terra chegou aos anos anteriores à Revolução Industrial. Os homens foram expulsos da história ao começarem a desmatar o mundo e a queimar combustíveis fósseis emissores de gases poluentes para cuidar de sua prole e fazer a economia crescer. O fim do mundo ocorrerá quando o homem deixar de reconhecer a “integridade da natureza não humana” provocar uma catástrofe mundial que destruirá o planeta como o conhecemos. Um Apocalipse.
É improvável que o uso de temas abraâmicos levem os adoradores do meio ambiente a tratarem seus oponentes políticos amigavelmente.
“As guerras religiosas são, em grande medida, uma característica abraâmica encontrada em povos abraâmicos e, como forma de autodefesa, entre seus vizinhos”, escreveu Mead.
Um levantamento das notícias disseminadas pelo mundo do ativismo climático mostra que até mesmo cidadãos seculares que se dizem relativistas compartilham da tendência das fés abraâmicas de insistir no caráter universal da verdade. E, como os adversários em conflito no passado, eles pretendem moldar os seres humanos e as instituições políticas a fim de refletirem essa visão de mundo.
Os adoradores do meio ambiente até aqui não se organizaram para resistirem às potências emissoras de poluentes pela espada, mas assumiram a responsabilidade por refazerem a Civilização à sua imagem.
A deputada Ocasio-Cortez se tornou um ícone do culto ao clima ao propor o New Deal Verde em fevereiro. A proposta supõe que a “atividade humana” está derretendo geleiras e aumentando a ocorrência de incêndios florestais, furacões e secas.
Se a temperatura da Terra aumentar “dois graus Celsius acima das temperaturas pré-industrialização”, alertou ela, 99% dos recifes de coral serão extintos e mais de 350 milhões de pessoas cairão vítimas de “estresse moral causado pelo calor”.
Ela também disse que a crise climática fará com que a economia norte-americano seja arruinada. Ela previu que os Estados Unidos perderão US$1 trilhão em danos à infraestrutura e “imóveis costeiros”. Esse detalhe provavelmente chamou a atenção dos ricos doadores de Ocasio-Cortez e outros membros do Congresso.
O New Deal Verde pôs pilotos, agricultores e mineradores no mesmo balaio. Ele propõe que mobilizemos o país de uma forma não vista “desde a Segunda Guerra Mundial” para eliminar os aviões e os bois flatulentos do planeta.
Para isso, temos primeiro de “revolucionar o transporte e a agricultura”, o que quer dizer que o governo federal deve eliminar as indústrias do transporte e agricultura como elas existem atualmente. Essas políticas garantirão que os Estados Unidos “não emitam nenhum gás de efeito estufa”.
Greta Thunberg, uma sueca de 16 anos, replicou as ideias de Ocasio-Cortez ao se dirigir às Nações Unidas em setembro.
“Minha mensagem é a de que estaremos de olho em vocês”, começou Thunberg para uma plateia de líderes mundiais. Ela repreendeu a Civilização emissora de gases poluentes que transmitiu sua imagem para todo o mundo dizendo “Vocês roubaram meus sonhos”. Nem mesmo cortes de 50% serão o bastante para salvar o planeta. “Se vocês tomarem a decisão errada”, concluiu ela, os millennials “jamais os perdoarão”.
O evangelho ambientalista de Thunberg e Ocasio-Cortez está se espalhando. O Extinction Rebellion, um grupo ecológico britânico, recentemente bloqueou várias ruas em Londres para “tratar da crise climática”. Ele estimula seus seguidores a criarem um “mundo adequado para as futuras gerações”. E espera regenerar nossa cultura tornando-a “mais saudável, resiliente e adaptável”. Seus membros costumam atacar os “infiéis” com sangue falso. O que isso significa para nós?
Nenhuma civilização tem passe livre para poluir o planeta, algo de que o mundo pós-industrializado é culpado. Ainda assim, os adoradores do ambientalismo amalgamaram ideias que não se misturam. Os herdeiros do Homem de Palha não deveriam acreditar que são capazes de promover a salvação da Humanidade.
Apesar de toda a conversa sobre união, os neopagãos se comportam como pessoas incapazes de governar. Eles riem dos céticos, fazem previsões falsas, adoram a si mesmos mais do que à “Mãe Terra” e nos ameaçam com violência, a não ser que façamos o que eles querem.
Uma pesquisa de 2018 do Instituto Gallup mostrou que os ambientalistas estão convencendo os millennials. Nosso tempo está acabando para que impeçamos os discípulos de AOC de levarem sua pauta até Washington. O melhor que podemos fazer agora é mostrar que os adoradores do ambientalismo estão exagerando para conquistarem o poder político.
Talvez consigamos. O conceito de “geoengenharia solar”, que nos permitiria lançarmos partículas na atmosfera para refletir os raios do Sol a fim de resfriar o planeta está ganhando força entre os climatologistas. Há pesquisas em andamento, mas parece que, no final das contas, seremos mesmo poupados.
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© 2019 The Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês.
Dion Pierre é pesquisador da National Association of Scholars.