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Muita gente não consegue detectar uma foto falsificada. E você?

Consegue dizer qual das duas é a verdadeira? | Sophie J. Nightingale/Divulgação
Consegue dizer qual das duas é a verdadeira? (Foto: Sophie J. Nightingale/Divulgação)

Somos uma sociedade que está se afogando em fotos adulteradas. Perfis estrategicamente retocados em sites de namoro. Capas de revista que ostentam rostos masculinos artificialmente definidos e seios digitalmente inchados. Feeds do Twitter cheios de imagens manipuladas para provocar indignação máxima.

Em meio a toda essa manipulação e à nossa obsessão atual por “notícias falsas”, até que ponto conseguimos distinguir verdade de ficção quando se trata de fotos? 

Deixamos muito a desejar, diz Sophie Nightingale, que pesquisa psicologia cognitiva na Universidade de Warwick, na Inglaterra. 

Em um teste idealizado por ela e do qual tomaram parte mais de 700 homens e mulheres, os participantes conseguiram identificar uma foto manipulada em apenas 60% dos casos –um resultado apenas um pouco melhor do que se tivessem feito palpites totalmente aleatórios. E, entre as fotos corretamente identificadas como tendo sido retocadas, apenas 45% dos participantes conseguiram identificar o que tinha sido modificado (os homens se mostraram um pouco mais hábeis que as mulheres em identificar a modificação específica). 

“Fotos são incrivelmente poderosas. Elas influem sobre nossa visão do mundo. Podem até influenciar nossas memórias das coisas. Se não pudermos distinguir as fotos falsificadas das reais, as falsificadas também serão poderosas.” 

Nossa susceptibilidade às imagens manipuladas é especialmente preocupante com relação às notícias. 

Um exemplo: durante os ataques terroristas que fizeram 130 mortos em Paris em 2015, um sikh canadense foi acusado falsamente de ser um dos terroristas, depois que uma foto manipulada para fazer parecer que ele estava usando um colete de explosivos viralizou. Um jornal espanhol publicou a foto em sua primeira página e mais tarde pediu desculpas pelo erro. Menos de um ano mais tarde, a foto começou a circular novamente após outro ataque terrorista, este em Nice. 

No mês passado, após um ataque terrorista na Ponte de Londres que fez oito mortos, começaram a circular fotos fraudulentas de pessoas falsamente rotuladas como desaparecidas. Trolls da internet compartilharam amplamente uma foto granulosa de um homem na direção de um carro prateado, dizendo que ela mostrava o suspeito. (Mais tarde, veio à tona que era uma foto antiga de um humorista americano polêmico, mas que não tinha relação alguma com o incidente em Londres.) Uma captura de tela de um feed do Facebook supostamente mostrava muçulmanos moderados reagindo ao ataque terrorista como emoticons denotando alegria enorme. 

Sophie Nightingale, que coordenou o novo estudo, disse que o poder e os perigos das fotos falsificadas a fascinam desde que ela teve seu primeiro emprego em marketing, logo depois de concluir a faculdade. Durante cinco anos ela viveu cercada de imagens de pessoas de aparência perfeita, consumindo alimentos que pareciam perfeitos e promovendo loções e outros produtos aparentemente perfeitos. 

“Não eram apenas as e os modelos que tinham suas fotos retocadas – era tudo”, disse a pesquisadora. “Pensei: ‘Alguma coisa aqui não cheira bem, não?’.” 

Nightingale, que está prestes a completar sua tese de doutorado, decidiu montar seu experimento para tentar medir até que ponto as pessoas se deixam enganar por imagens manipuladas. 

Ela fez várias fotos e as alterou de maneiras diversas: retocando-as para eliminar a transpiração e as rugas do rosto de uma pessoa, acrescentando e apagando objetos do segundo plano, modificando a luz para que as sombras ficassem do lado errado. Então ela as reuniu no teste online, no qual os participantes tinham que olhar dez fotos selecionadas aleatoriamente – algumas genuínas, outras retocadas – e tentar identificar as que tinham sido manipuladas. 

Os resultados foram surpreendentemente ruins. 

Algumas modificações, como alterações em formas geométricas no segundo plano de uma foto, foram detectadas mais facilmente que modificações mais sutis, como retoques. Mas, na maior parte do tempo, mesmo quando os participantes percebiam que alguma coisa tinha sido manipulada, não conseguiam identificar exatamente o quê. 

Infelizmente, disse Nightingale, não há muito que possamos fazer para melhorar o poder de detecção das pessoas, pelo menos por enquanto. Existem poucas pesquisas sobre os processos cognitivos envolvidos. 

“Muitas pessoas acham que deveríamos ter mais consciência de fotos manipuladas”, disse a pesquisadora. Ela se preocupa especialmente com as implicações de fotos manipuladas em processos judiciais, nos quais imagens frequentemente são usadas como provas. “Mas, se simplesmente sairmos por aí recomendando que as pessoas desconfiem de tudo, elas vão perder a confiança nas imagens, e isso é igualmente problemático. No momento, infelizmente, quando o assunto são fotos manipuladas temos muito mais problemas que soluções.”

Tradução de Clara Allain

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