João de Deus atendendo paciente, em 2012.| Foto: PEDRO LADEIRA/AFP

Mulher do médium João Teixeira Faria, conhecido como João de Deus, a bacharel em direito Ana Keyla Teixeira Lourenço, de 40 anos, poderá ser indiciada como coautora dos supostos crimes de posse ilegal de arma de fogo e lavagem de dinheiro.

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A informação foi confirmada nesta quarta-feira (26) pela delegada Paula Meotti, titular da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), onde a mulher foi ouvida, em Goiânia (GO). A defesa do médium nega a existência dos crimes e diz que Ana Keyla classifica as denúncias como caluniosas.

Mais cedo, em seu primeiro depoimento ao Ministério Público Estadual nesta quarta (26), João de Deus disse não se lembrar das mulheres que o apontam como autor de abuso sexual. O médium negou ter praticado qualquer tipo de crime em seus atendimentos espirituais na Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia, a cerca de 90 quilômetros de Goiânia.

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De acordo com a delegada, Ana Keyla é figura central das investigações sobre crimes sexuais supostamente cometidos pelo marido. O depoimento dela começou por volta das 14h e seguiu até as 17h30.

"Está se analisando as condições em que ela [Ana Keyla] vai figurar, como indiciada ou testemunha. Ela é a figura central, pois saberia todo o histórico de abusos, em tese", afirmou a delegada. "As buscas foram feitas no quarto do casal. O ambiente das buscas é de intimidade do casal", disse, referindo-se aos mais de R$ 1 milhão, seis armas e pedras preciosas que foram apreendidos em residências do médium.

Durante o depoimento, segundo a delegada, Ana Keyla negou que soubesse da existência de armas escondidas na residência ou que João de Deus portasse arma de fogo. De acordo com ela, a mulher, que tem uma filha de 3 anos com o médium, relatou que está sem dormir desde que as denúncias passaram a ser divulgadas pela imprensa. O caso ganhou repercussão internacional.

Apesar de Ana Keyla ter dito à polícia que não tinha conhecimento de que o todo o material apreendido estava na sua casa, a delegada disse desconfiar da versão apresentada pela mulher.

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“Algumas das armas estavam facilmente expostas, em gavetas, por exemplo. A polícia não teve dificuldade de encontrar”.

O padrão dos fundos falsos dos armários das residências de João de Deus era similar, ainda de acordo com a delegada.

"O padrão de construção e armazenagem eram semelhantes. Apesar de ela negar veementemente que não tivesse qualquer conhecimento dos fatos, era quase impossível não mexer nos guarda-roupas dos quartos e não ver", disse. "Ela [mulher de João de Deus] tem admiração por ele, fala que o poder dele vem de Deus. Ele tem poder de persuasão sobre ela. Agressores sexuais têm todo um rastro de atuação", disse a titular da DPCA.

A delegada Karla Fernandes, que também participou do depoimento, reforçou a desconfiança da polícia em relação às informações apresentadas pela mulher de João de Deus.

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"Ela disse que nunca viu nada, que nunca viu nenhum fundo falso, mas o projeto dos guarda-roupas mostra facilmente que todas as gavetas têm fundo falso", afirmou.

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No depoimento à polícia, segundo as delegadas, Ana Keyla contou que frequentava a Casa Dom Inácio de Loyola esporadicamente e que nunca ouviu nenhum relato de mulher que teria sofrido crime sexual praticado por seu marido. Segundo as investigações, o casal passou a morar junto em 2001.

De acordo com a psicóloga da Polícia Civil Aliciana Oliveira de Freitas, que também acompanhou o depoimento, a mulher de João de Deus contou que o viu pela primeira vez aos 10 anos, quando visitou a instituição com a mãe dela. Aos 22, conforme disse, Ana Keyla passou a ter relacionamento com ele.

"Durante o depoimento, ela demonstrou fragilidade por causa do momento que está vivenciando", afirmou a psicóloga.

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Inocência

O advogado Alex Neder, um dos representantes de João de Deus e de Ana Keyla, disse que a defesa aguarda o julgamento do habeas corpus pelo STF (Supremo Tribunal Federal) para que o médium seja solto ou, então, cumpra prisão domiciliar com uso de tornozeleira eletrônica.

O pedido já foi negado pelo Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ-GO) e pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).

“João de Deus não está se furtando, em momento algum, de colaborar com as investigações. Ele mora em Abadiânia há mais de 40 anos e também não praticou delito com violência ou grave ameaça. Não existe nem processo judicial. Estamos lutando para que o habeas corpus seja analisado com bom senso”, disse o advogado.

Alex Neder, que também acompanhou João de Deus no primeiro depoimento dele ao MP-GO, afirmou, ainda, que o médium faz tratamento de saúde, entre os quais de cardiologia com cinco stents, que aumentam o fluxo sanguíneo para o tecido muscular do coração.

"O lugar onde ele está preso é inadequado para ele", afirmou.

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O suspeito está preso no Núcleo de Custódia do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia, na região metropolitana da capital, desde o último dia 16, após se entregar à polícia.