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A mulher transgênero Angela Ponce, da Espanha, concorre durante o concurso Miss Universo 2018, em Bangcoc, Tailândia, em 16 de dezembro de 2018. | LILLIAN SUWANRUMPHA/AFP
A mulher transgênero Angela Ponce, da Espanha, concorre durante o concurso Miss Universo 2018, em Bangcoc, Tailândia, em 16 de dezembro de 2018.| Foto: LILLIAN SUWANRUMPHA/AFP

No famoso conto de Hans Christian Andersen, o imperador não tinha roupas. Hoje em dia, se o imperador coloca a roupa certa, ele pode se chamar de imperatriz. E todos nós temos que aplaudir. 

O concurso Miss Universo deste domingo apresentou, pela primeira vez na história de 66 anos do evento, uma mulher transgênero. Concorrendo como Miss Espanha, Angela Ponce entrou no concurso com muito aplauso, escrevendo em um post no Instagram: "Hoje estou aqui, orgulhosamente representando minha nação, todas as mulheres e os direitos humanos". 

Ponce não venceu, mas foi saudada pela mídia apenas por competir. "A Miss Filipinas, Catriona Gray, levou para casa a coroa no concurso de Miss Universo de 2018 na noite de domingo em Bangcoc, Tailândia, mas ela não foi a única vencedora da noite", declarou o site da ABC News na manhã de segunda-feira. “A espanhola Angela Ponce se tornou a primeira transgênero da competição, um passo importante para o desfile de 66 anos.” 

"A espanhola Angela Ponce fez história como a primeira mulher transgênero a competir na Miss Universo", afirmou o Yahoo News. A reportagem da NBC News sobre a competição nem sequer mencionou a vencedora até o quarto parágrafo do artigo, concentrando-se em celebrar como Ponce "quebrou barreiras". 

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Toda essa fanfarra levanta a inevitável questão: Poderia Ponce realmente “representar todas as mulheres” sem ser uma mulher? Em nosso momento não científico, apenas ter a audácia de fazer essa pergunta é o suficiente para ser criticado em certos setores. 

Pense por um momento na realidade da biologia de Ponce — uma realidade que, não importa a quantidade de cirurgia plástica que Ponce consiga e independentemente de que Ponce realmente se pareça com uma mulher, não pode ser alterada. A tecnologia pode disfarçar essa verdade, mas nenhuma quantidade de remédio ou mutilação pode persuadir os cromossomos de Ponce à submissão. 

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Mas considere outra questão também, e talvez mais importante: Ponce pode viver como uma mulher transgênero sem nos forçar a entrar juntos nessa barca furada? O concurso Miss Universo, a mídia progressista e, cada vez mais, a ala esquerda da política americana, parecem acreditar que isso não é possível. 

Ponce disse à revista Time em novembro que ganhar o concurso seria simbólico: “As mulheres trans foram perseguidas e apagadas por tanto tempo. Se me derem a coroa, isso mostraria que as mulheres trans são tão mulheres quanto as mulheres cis ”. 

Essa é a farsa que estão nos forçando a aceitar. Não é suficiente dizer, como deveríamos, que a disforia de gênero é um fenômeno psicológico real, que uma sociedade justa e compassiva deve reconhecer a realidade da luta que pessoas como Ponce enfrentam, e que o bullying e o ódio dirigidos a tais pessoas são maus e errados. 

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Nós também estamos destinados a cantar junto com a multidão que Ponce é uma mulher. Qualquer coisa menos que isso é transfobia. Decência e caridade já não são suficientes; afirmação e glorificação — idealmente diante de uma audiência tão grande quanto possível — são o único caminho aceitável. 

E o que essa nova fronteira do progressismo significa? O dogma inatacável de que as mulheres são constantemente oprimidas e subjugadas pelo patriarcado — que só podemos ser livres se reconhecermos e enfraquecermos a tirania do privilégio masculino branco que impede as mulheres de se expressarem e tomarem o controle de nossas vidas — exige que haja tal coisa como feminilidade, e que pode ser definida de forma consistente. 

A aparência muito elogiada de Ponce no concurso Miss Universo, por outro lado, implica a aceitação social da ideia de que os homens podem, de fato, ser mulheres. 

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Essas duas doutrinas do progressismo brigam entre si. Mesmo se aceitarmos a noção de que alguns machos biológicos podem se sentir tão femininos que são essencialmente, de alguma forma intangível, mulheres, tal visão necessariamente entra em conflito com a afirmação feminista de que há algo único em ser mulher — e que a feminilidade merece ser protegida da invasão do poder masculino. 

A adoção incondicional da ideologia transgênero necessariamente, e intencionalmente, apaga a feminilidade. Ele permite que os machos biológicos usem o manto da feminilidade simplesmente afirmando que é seu direito inato. Nunca houve uma reivindicação mais patriarcal. 

À medida que o partido democrata se aproxima da política de identidade, um choque dessas duas identidades se vislumbra no horizonte. Em um movimento “intersecional”, onde grupos minoritários recebem mais dinheiro por terem experimentado mais opressão, as mulheres que lutam contra o patriarcado poderiam facilmente ser excluídas por mulheres transexuais que insistem que seu status de minoria e experiência com estigma lhes dão o trunfo da vitimização. 

Talvez a extrema esquerda acredite que, se seus membros forçarem os céticos a concordar com a pompa de Ponce, eles podem evitar as cismas inerentes a um movimento que afirma valorizar o feminismo, enquanto insiste que ser mulher não tem nenhum significado.

©2018 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês
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