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Formação política

Mussolini igual a Bolsonaro? O que ensina o curso de fascismo da escola do PT

O ditador fascista Benito Mussolini na tribuna da Via Nazionale durante o desfile das tropas italianas que participaram da guerra civil espanhola, ao lado do Ministro do Interior da Espanha, Ramón Serrano Súñer, em Roma, no dia 07 de junho de 1939.
O ditador fascista Benito Mussolini na tribuna da Via Nazionale durante o desfile das tropas italianas que participaram da guerra civil espanhola, ao lado do Ministro do Interior da Espanha, Ramón Serrano Súñer, em Roma, no dia 07 de junho de 1939. (Foto: EFE)

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No Brasil, cada partido político é obrigado por lei a manter uma fundação partidária para  “pesquisa”, “doutrinação” e “educação política”. Em algumas siglas, essas organizações são praticamente irrelevantes. Não é o caso do PT: a Fundação Perseu Abramo se esforça para oferecer cursos de formação política aos filiados do partido. Um deles se propõe a ensinar sobre um tema que, para os petistas, é atual: o fascismo.

O curso "Fascismo ontem e hoje: entender para derrotar" reúne 12 lições, todas elas ensinadas por professores da USP (Universidade de São Paulo). A reportagem da Gazeta do Povo completou o curso, que permite entender as ideias que influenciam a militância do PT.

O material de apresentação do curso não tem uma foto do ícone do fascismo, o italiano Benito Mussolini. Em vez disso, aparecem imagens de Donald Trump, Jair Bolsonaro, do estrategista americano Steve Bannon e do líder húngaro Viktor Orban. 

"Já derrotamos [o fascismo] antes", diz o vídeo de apresentação. A imagem mostra um soldado empunhando a bandeira soviética sobre Berlim.

O fascismo pela lente de Marx

A qualidade técnica dos vídeos não é a prioridade da Fundação Perseu Abramo. O vídeo da primeira aula tem baixa resolução. Nele, o professor Lincoln Secco fala sobre “o ressurgimento de uma experiência fascista no Brasil a partir de 2013 e que chegou ao poder em 2018”.

Com voz mansa e português bem articulado, o professor Lincoln Secco é o coordenador de um certo GMARX (Grupo de Estudos de História e Economia Política)

Na aula introdutória, passam-se 3 minutos e 49 segundos até que ele mencione Karl Marx pela primeira vez. O vídeo, de 13 minutos e 34 segundos, também tem referências a "burguesia", "propriedade burguesa", "lucros", “imperialismo”, “grande capital monopolista”, “países neocolonialistas”, “Lênin”.

Secco diz que o fascismo europeu surgiu depois da Primeira Guerra Mundial, quando as antigas estruturas sociais foram abaladas e a classe média se sentiu deslocada. O culpado real, claro, é o capitalismo. "É a manipulação desse sentimento de deslocamento que advém de um fenômeno estrutural do capitalismo como se esse fenômeno não fosse estrutural, fosse obra de uma conspiração judaico-bolchevique", diz o professor.

O fascismo no Brasil

Depois de aulas dedicadas a Itália, Alemanha, Japão, Portugal e Espanha, o curso do PT sobre o fascismo chega ao Brasil. São três aulas específicas sobre o país. Cada uma trata do que, na visão da intelectualidade petista, foram expressões do fascismo: o Integralismo, a ditadura militar e o bolsonarismo.

A interpretação marxista da história do Brasil é repetitiva: os “interesses econômicos” estão no centro de tudo. Termos como “interesses da burguesia” e “o capital multinacional” aparecem incontáveis vezes no curso da Fundação Perseu Abramo. Por exemplo: o professor Fernando Sarti Ferreira diz que a elite cafeeira passou a defender o fim da escravidão “"obedecendo meramente a cálculos econômicos".

Sarti lê um roteiro colocado muito abaixo da câmera, o que o faz olhar para baixo em vez da lente. Atrás dele, uma pequena biblioteca na qual se destaca o livro “Dicionário do Gramscismo”.

Ele também explica que, no golpe de 1964, os militares eram coadjuvantes. “Quem ganhou de verdade o poder foram os interesses multinacionais e associados à burguesia brasileira na defesa do Brasil como uma economia semicolonial”, ensina.

Na história alternativa da Fundação Perseu Abramo, Tancredo Neves é descrito como alguém “ultra-conservador” e a palavra “golpe” tem um sentido maleável. Os professores falam do “golpe de 2016” (impeachment de Dilma Rousseff) e do “golpe” de 1989 (quando a TV Globo teria apresentando Fernando Collor de forma mais favorável no Jornal Nacional pós-debate). 

Lincoln Secco também que houve “fraude” na eleição de 2018 porque “o candidato mais popular” foi impedido de concorrer. Ele se refere a Luiz Inácio Lula da Silva, que estava preso.

Bolsonaro é fruto do fascismo

Depois de dez aulas, não é difícil adivinhar a explicação dada pelos professores da Fundação Perseu Abramo para a ascensão de Jair Bolsonaro. A culpa é dela — a burguesia. 

"As elites mobilizaram forças fascistas para blindar o poder do povo [aparecem fotos de Bolsonaro]. O problema é que na atual conjuntura, as forças instigadas mobilizaram massas populares e criaram uma atmosfera fascista que talvez a burguesia brasileira não consiga enjaular", diz Sarti.

Lincoln Secco reforça que “o fascismo é a exacerbação de um fenômeno inerente ao capitalismo” — a manipulação, nos momentos de crise, do que há de irracional nas massas. Ele diz que, ao contrário das utopias, como o comunismo, o capitalismo não oferece um propósito às pessoas: “Só se produz no capitalismo para se ter lucro, não para se satisfazer uma necessidade humana”.

O professor da USP diz que o bolsonarismo representa os “interesses do imperialismo”, e não os do Brasil. Para Secco, o discurso de Bolsonaro inclui “o combate aos indígenas e aos quilombolas”, além de mobilizar “a irracionalidade das pessoas”. 

Daí a conclusão: “O bolsonarismo é uma modalidade de fascismo e deve ser combatido como fascismo”. O professor não diz, mas a história mostra que o fascismo italiano foi combatido com armas, e não pelo voto popular.

Por lei, os partidos precisam gastar 20% do fundo partidário nas fundações. No caso da Fundação Perseu Abramo, isso equivaleu a R$ 24,6 milhões de janeiro a novembro deste ano.

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