Pergunta: Como se chama o espancamento de um homem negro até a morte por cinco policiais negros, em violação a seus juramentos, seus deveres e a todo o respeito pela santidade da vida humana?
Resposta: Supremacia branca.
Infelizmente, não estou brincando. Em um artigo para a CNN na sexta (27), o comentarista político Van Jones argumentou que o assassinato de Tyre Nichols mostrou que “é hora de avançarmos para uma discussão mais nuançada do modo como a violência policial põe em risco as vidas Negras” e, em especial, hora de compreender que “um dos fatos tristes a respeito do racismo anti-Negros é que nós, as próprias pessoas Negras, não somos imunes a seus efeitos perniciosos”. “No fim das contas”, escreveu Jones, “é a raça da vítima violentada — não a raça do policial violento — que é o mais relevante para determinar se o viés racial é um fator na violência policial”. [N. do T.: Nos últimos anos a imprensa progressista americana passou a escrever Black (negro) assim, com letra maiúscula, mas não faz isso com as outras raças. Em inglês, isso é feito normalmente só com nacionalidade e religião.]
Na edição de sábado do New York Times, Clyde McGrady deu uma miríade de citações para apoiar essa noção. A morte de Nichols, sugeriu McGrady, “pôs em foco o que muitas pessoas Negras disseram e que é muitas vezes ignorado em casos de violência policial envolvendo policiais brancos e vítimas Negras: que os problemas de raça e policiamento são função de uma cultura policial entranhada de agressão e desumanização de pessoas Negras, mais que de racismo interpessoal”. Defendendo a mesma coisa de forma mais direta, o deputado democrata (pela Flórida) Maxwell Alejandro Frost tuitou: “Não importa qual é a cor dos policiais. O assassinato de Tyre Nichols é anti-Negro e resultado da supremacia branca”.
Pouco se ganha com eufemismos em uma hora como esta, então serei tão direto quanto posso: Isso é um absurdo. Olhe o fluxograma construído pelas pessoas entrevistadas por Van Jones, Maxwell Alejandro Frost e Clyde McGrady, que você notará imediatamente que, com a abordagem deles, não há situação na qual a morte de um americano negro não seja considerada produto da supremacia branca. Se os policiais agirem conscientemente em nome da supremacia branca, é supremacia branca. Se os policiais não agirem conscientemente em nome da supremacia branca, é supremacia branca. Se os policiais forem brancos, é supremacia branca. Se os policiais não forem brancos, é supremacia branca também. Não importa qual seja a entrada de informação, ou os detalhes, o resultado é sempre o mesmo: supremacia branca. Isso não é lógica; isso é mágica.
Pior ainda, é uma teoria que trata os americanos negros como se fossem cidadãos inferiores, que não podem ser julgado com os mesmos padrões de todos os outros. Se você crê, como deveria, que todas as pessoas são iguais, então você não pode considerar algumas delas meros autômatos quando é politicamente conveniente fazê-lo. Reconhecer a igualdade intrínseca de uma pessoa é aceitar completamente a sua capacidade para o bem e para o mal, sem pedir tratamento especial, sem fazer apelos vagos à “cultura” dela e sem oferecer desculpas para sua conduta quando você condenaria alguém de uma raça diferente inequivocamente pelo mesmo comportamento.
Temo que não há muita diferença importante entre o que Van Jones e cia estão dizendo em defesa (indireta) dos cinco policiais de Memphis e o que preconceituosos do passado diziam contra tratar não-brancos como membros plenos da sociedade. Com certeza, a intenção é diferente. Mas, na raiz, ambos os casos dependem da mesma implicação horrenda, aquela segundo a qual o comportamento de cidadãos americanos negros está para além do controle desses cidadãos. Não acredito nisso. Os cinco policiais que mataram Tyre Nichols fizeram algo horrível, e é justamente porque eu acredito na igualdade plena e irrevogável deles que pretendo julgá-los sem reservas por tê-lo feito. Esses homens são meus pares e devem ser tratados como tais.
Qual é a alternativa? Na verdade, há algumas.
A primeira é que os cinco policiais devem ser tratados precisamente da mesma forma que um autodeclarado supremacista branco. Se, como foi alegado, as ações dos cinco homens foram de fato estimuladas pelos “efeitos perniciosos” do “racismo anti-Negros”, então presume-se que os homens devem ser acusados de crimes de ódio, da mesma forma que um policial branco em uma situação similar seria. Em sua coluna, Jones propõe que “é a raça da vítima violentada — não a raça do policial violento — que é o mais relevante para determinar se o viés racial é um fator na violência policial”. Bem, se seguirmos esse pensamento até a sua implicação lógica, devemos certamente concluir que a vítima foi um alvo específico por ser negro, e que os policiais, portanto, são culpados de discriminação. E, se esse é o caso, então por que não acusá-los disso? Claro, não gostaríamos de ter uma situação na qual a raça do policial não importa exceto para o fim de sua punição.
A segunda alternativa vai na direção oposta. Se, como McGrady propõe, nossos “problemas de raça e policiamento são função de uma cultura policial entranhada de agressão e desumanização de pessoas Negras, mais que de racismo interpessoal”, então os policiais desse caso devem ser vítimas, também. E, se os policiais desse caso são vítimas também, certamente devem ser tratados de forma leniente pelos tribunais. O propósito de falar em “culturas entranhadas” é dissipar parte da responsabilidade pelo malfeito específico. Seria injusto ao extremo identificar uma grande e generalizada conspiração por trás de tal malfeito, e depois tratar os bodes expiatórios que têm a responsabilidade direta por esse malfeito como se fossem os únicos arquitetos, não seria? E se, de fato, a “supremacia branca” permeia a cultura da polícia americana, em vez de apenas motivar as decisões de policiais individuais independentes — se essa “supremacia branca” é a vilã, não importa o que policiais individuais estejam pensando — então certamente devemos estender a mesma tolerância a policiais brancos que fiquem na mesma situação?
Aos meus ouvidos, ambas as alternativas soam ridículas e grotescas. Com a exceção notável da insanidade — uma condição que pode ser aplicada apenas a indivíduos, nunca a grupos —, nossa cultura e leis são construídas sobre a suposição de que todos os homens são criados iguais e que, independentemente de suas características imutáveis, todos são providos com a mesma capacidade para o amor, o ódio, a benevolência, a ganância, o altruísmo, o egoísmo, a ambição, o desinteresse, a bravura e a covardia. Quando abandonamos esse princípio — como pessoas demais parecem tentadas a fazer — entramos no terreno das ressalvas, condições, misticismo, pseudociência, sofismo e capricho, do qual não há como escapar, e do qual nada de bom pode vir.
Charles C. W. Cooke é escritor sênior da National Review e apresentador do Charles C. W. Cooke Podcast.
©2023 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.
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