Nada de algoritmos: as reações viscerais, acéfalas, aquelas atitudes impensadas baseadas apenas nas emoções são a principal causa da disseminação rápida de notícias falsas. Esse é o resultado de um levantamento sobre o tema realizado pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e que acaba de ser publicado na revista Science .
Depois de verificar que as notícias falsas se espalham mais rápido do que as verdadeiras – as chamadas fake news mais compartilhadas no Twitter entre 2006 e 2017 podem ter atingido até 100 mil pessoas, enquanto as notícias verdadeiras mais compartilhadas raramente atingiram mais que mil – os pesquisadores passaram a investigar qual teria sido a causa desse desempenho.
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Uma das hipóteses era que as notícias falsas tinham mais ajuda de robots, ou bots, mecanismos que simulam interações humanas para forjar mais compartilhamentos. A pesquisa concluiu, porém, que esses mecanismos de alavanca são usados tanto para a disseminação de notícias falsas quanto verdadeiras, sem uma grande distinção entre elas. A conclusão dos cientistas foi, portanto, que essas notícias se espalham mais rápido não por causa dos algoritmos das redes sociais, mas pelo fator humano.
A partir disso, os pesquisadores desenvolveram uma nova a hipótese: o grau de novidade das notícias falsas e as reações emocionais que os leitores têm diante delas são os principais responsáveis pelas diferenças observadas na disseminação de notícias falsas ou verdadeiras. Os resultados estão descritos no artigo “The spread of true and false news online” (A disseminação de notícias falsas e verdadeiras on-line) pelos pesquisadores Soroush Vosoughi, Deb Roy e Sinan Aral.
“Não conheço pesquisas similares feitas no Brasil, mas não tenho dúvidas que isso vale também para o nosso contexto”, afirma Elson Faxina, doutor em Ciências da Comunicação pela Unisinos e professor de Comunicação na UFPR. “As fake news existem desde sempre, elas não são novidade. Elas existem em ambientes de conflito, como tentativa de impor uma razão ou pela necessidade de sujar a imagem do outro lado. De certa forma, elas respondem a uma demanda humana. Mas a abrangência que elas atingem nas redes sociais é desproporcional. E elas começam a ser ferramentas de grupos de interesse”.
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Fake News e eleições
Outra descoberta dos pesquisadores do MIT é que, entre as fake news mais disseminadas, as de conteúdo político atingiam mais usuários.
Transferindo para o contexto brasileiro, há uma preocupação que as fake news sejam extremamente relevantes para os resultados das eleições de 2018.
Francisco Brito Cruz, doutorando em Filosofia e Teoria Geral do Direito na USP e diretor do centro de pesquisa interdisciplinar InternetLab, acredita que “a notícia virou uma arma de combate que serve para confirmar se um grupo está certo ou errado”. Para ele, isso se deve em grande parte a uma tendência de se compartilhar informações para confirmar o que o usuário já acreditava antes, para afirmar publicamente sua opinião. Aliando isso à rapidez das mídias on-line, as pessoas consomem e compartilham manchetes sem aprofundar ou questionar o conteúdo em questão. “É um problema essencialmente político, de polarização das opiniões”, acrescenta.
Num ano eleitoral, essa lógica pode ser aplicada a uma produção de conteúdo voltada para polarizar ainda mais a opinião sobre os diferentes candidatos. “São usados muitos gatilhos para que as pessoas se envolvam emocionalmente, como no futebol”, afirma Brito Cruz. “Isso faz com que a emoção seja um grande mediador do debate político e da troca de informações, como acontece em uma torcida”.
Para Faxina, é essencial que ambientes acadêmicos e veículos de jornalismo trabalhem na identificação e esclarecimento de fake news, principalmente em um ano eleitoral. “É uma forma de prestar um grande serviço à sociedade e uma tentativa de diminuir o efeito nocivo delas”, defende o professor.
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Como fugir das Fake News
Confira algumas dicas para ajudar a identificar notícias falsas pela internet:
* “Precisamos ler mais e não acreditar de primeira em tudo que chega”, afirma Faxina. Para o professor, consultar fontes diferentes, incluindo veículos com linhas editoriais diferentes, é uma maneira de conquistar uma visão mais abrangente de um acontecimento.
* Acontecimentos bombásticos terão coberturas de vários veículos. Por isso, segundo Brito Cruz, vale a pena checar vários veículos quando algum site anunciar um grande furo de reportagem. Além disso, a data de publicação de uma reportagem também deve ser levada em consideração.
* Veículos que identificam seus repórteres e têm uma localização real no Brasil tendem a não disseminar informações falsas, segundo Faxina. Problemas de apuração acontecem, mas veículos com perfil mais sério costumam corrigir suas informações quando novos dados são descobertos.
* Para Brito Cruz, é importante sempre duvidar de notícias que agradam demais, já que elas podem ter sido construídas para seu perfil de leitura. Além disso, é preciso discernir entre conteúdo real e sátiras (como o site Sensacionalista, por exemplo).
* Faxina lembra ainda que, mesmo depois do estrago já ter sido feito, é possível melhorar a situação. Caso você descubra que compartilhou uma notícia falsa, compartilhe também a correção das informações e tente esclarecer o ocorrido para o mesmo círculo de pessoas.
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