As notícias mais recentes sobre a onda antissemita na Europa talvez não surpreendam as pessoas que temem a ascensão dos populistas europeus. A oposição dos populistas à União Europeia e ao globalismo é facilmente identificada na velha direita de vários países. Muitos dos apoiadores – sejam do AfD [Alternativa para a Alemanha] na Alemanha; da Frente Nacional na França, liderada por Marine Le Pen; ou dos partidos que governam países como a Polônia e Hungria – também são identificados com posturas tradicionalmente antissemitas.
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Assim, quando autoridades federais alemãs recentemente aconselharam judeus a evitar o uso do quipá em público para que não se tornassem alvos de violência, a maioria dos observadores estrangeiros concluiu que eram os antissemitas da direita que estavam atacando judeus, já que direitistas têm conquistado espaço nas eleições, incluindo na votação recente para o Parlamento Europeu.
Felix Klein, primeiro “comissário para a vida judaica na Alemanha e para a luta contra o antissemitismo” alemão foi criticado por muitas pessoas, incluindo o presidente israelense Reuven Rivlin, pode ceder ao ódio. A revolta levou o jornal Der Bild a publicar uma versão de papel de um quipá para que seus leitores usassem em solidariedade aos judeus.
No começo do mês, uma matéria da New York Times Magazine intitulada “O novo antissemitismo alemão” dizia que “as estatísticas policiais apontam que 89% de todos os crimes antissemitas foram cometidos por extremistas de direita”.
Mas o mesmo artigo questionava essa estatística. De acordo com o Times, quanto as autoridades alemãs não conseguem atribuir um motivo direto para um ataque a um alvo judaico (e geralmente não conseguem), elas o atribuem à direita.
Uma pesquisa da União Europeia feita ano passado mostrou que vários judeus que se diziam ter sido vítimas de violência antissemita afirmavam que os perpetradores eram extremistas muçulmanos. Ainda assim, ressaltou o Times, o governo alemão insiste que o antissemitismo no país não é um problema importado do Oriente Médio.
O governo alemão, como a declaração controversa de Klein sobre os quipás deixou clara, não está indiferente ao antissemitismo, seja lá qual for sua causa. O Bundestag recentemente votou para condenar o movimento de boicote a Israel. Mas o governo parece muito mais atento à ameaça da direita e ao crescimento do que ele chama de islamofobia em reação à entrada em massa de refugiados sírios que chegaram ao país depois que Merkel abriu as portas para eles.
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Como em muitos outros países europeus, a onda recente de imigrantes de países muçulmanos e árabes gerou um amplo eleitorado que demonstra ódio aos judeus. Há uma longa tradição de desrespeito aos judeus na cultura islâmica que tem sido exacerbado pelo ressentimento desses povos contra a criação do estado de Israel.
As expressões de ódio muçulmanas contra Israel e os judeus são hoje idênticas às investidas antissemitas dos europeus. Isso gera uma aliança bizarra entre muçulmanos, acadêmicos de esquerda e outras elites que buscam deslegitimar Israel, o sionismo e os judeus.
A Alemanha não está isolada. Como informou o New York Times, os judeus franceses temem ser reconhecidos como tal em algumas partes de Paris. E alguns seguidores do partido populista de Marine Le Pen usaram uma retórica antissemita durante os protestos dos Coletes Amarelos contra o presidente Emmanuel Macron. Mas a principal fonte de violência contra os judeus é a população muçulmana imigrante.
Opositores de centro e esquerda culpam os partidos nacionalistas e populistas na França e na Alemanha pelo antissemitismo. Ironicamente, os judeus estão muito mais seguros em países da Europa Oriental como Hungria e Polônia – cujos governos são controlados por populistas de direita — do que na França ou Alemanha.
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A maioria dos judeus não se sente à vontade defendendo partidos como o ADF ou a Frente Nacional de Le Pen, apesar de demonstrarem a mesma preocupação com a violência islâmica. Mas a ideia de que esses partidos, a despeito de sua retórica complicada, sejam responsáveis pelo aumento do antissemitismo não resiste a uma análise. No caso do AfD, o partido conquistou a inimizade da comunidade judaica por sua resistência à “cultura da memória” alemã, sob a qual aulas sobre o Holocausto se tornaram obrigatórias e memoriais se proliferaram. Mas o AfD já se disse pró Israel, deixando claro que ele gostaria de melhorar as relações com os judeus alemães.
Tanto o governo francês quanto o alemão se manifestam contrariamente ao antissemitismo. Mas acadêmicos e outras elites ajudam a deslegitimar Israel e os judeus em nome do antissionismo, e isso tem levado inevitavelmente à violência contra judeus nas mãos de imigrantes muçulmanos.
Será admirável se os alemães usarem o quipá de papel por um ou dois dias em solidariedade aos seus vizinhos judeus encurralados. Mas o problema não é apenas uma questão de cobrir a cabeça, e programas educacionais antiódio com certeza fracassaram. É impossível separar a deslegitimação de Israel da forma como os judeus são tratados. O que está acontecendo na Europa mais uma vez prova que onde quer que o antissionismo seja legitimado, o antissemitismo aumenta, assim como a violência antijudeus.
Jonathan S. Tobin é editor-chefe da Jewish News Syndicate e colaborador da National Review.